Por Daniela Lopes
Duque de Caxias vive desde a noite de sábado 13/01/2024, mais uma grave crise humanitária decorrente da falta de políticas ambientais, climáticas e estruturais efetivas que propiciam e perpetuam eventos climáticos que impactam na vida de milhões de pessoas, há décadas, vitimando recorrentemente localidades já extremamente vulnerabilizadas pela falta de garantia de acesso aos direitos fundamentais.
Territórios como, Parque Vila Nova (favela do Lixão) e Vila Ideal, localizados no 1° distrito de Caxias, São Bento e Pilar no 2°distrito, Santa Cruz da Serra no 3° distrito e Amapá no 4° distrito do município, foram as localidades mais gravemente atingidas e com maior número de perdas materiais e desabrigados.
Além dos danos causados aos moradores desses bairros, Caxias teve 3 perdas humanas, 2 pessoas morreram eletrocutadas durante a chuva e 1 afogada.
Desde a identificação da gravidade e amplitude das consequências da chuva, logo no domingo de manhã (14/01), o Movimenta Caxias passa a se articular com lideranças de diversas localidades afetadas dentro e fora do município, com objetivo de diagnosticar as emergências e necessidades dos moradores e iniciar a organização da captação de doações e recursos e distribuição dos mesmos.
Desde então nossas ações, coordenadas pelos articuladores territoriais, têm direcionado alimentação e água para as localidades atingidas e acompanhado os casos mais graves de famílias completamente ilhadas que necessitavam também do suporte de resgate.
Nesses casos específicos os órgãos competentes, como defesa civil e bombeiros foram acionados mas não chegaram a efetuar o resgate que foi executado pelos próprios vizinhos.
Vale destacar que a política emergencial do município de Duque de Caxias, não se mostrou eficaz em suas propostas em nenhuma dessas localidades e os pedidos de socorro ao Movimenta Caxias por parte da população, não cessaram até o presente momento, inclusive alguns abrigos oficiais divulgados pelo governo de Caxias, encontravam-se fechados na segunda-feira, o que foi constatado pela própria defensoria pública em visita a esses espaços.
Outro ponto relevante, é que as localidades onde a água ainda não escoou mesmo 3 dias após a chuva, como Lixão, Pilar e Amapá, fazem parte de territórios onde grandes obras de infraestrutura estão sendo executadas pelo governo municipal, inclusive com intervenção de drenagem e desassoreamento dos canais caboclo e calombé, que atravessam essas comunidades. As obras citadas têm parceria e verbas também estaduais e federais pelo programa de aceleração do crescimento, PAC.
A ineficiência das respostas às catástrofes climáticas em Duque de Caxias, são escalonadas na esfera estadual e nacional e refletem sistemicamente nossas mazelas estruturais, através do racismo ambiental.
As tragédias climáticas tem cor e cep e enquanto a perspectiva e tecnologia de enfrentamento às desigualdades produzidas nos territórios mais vulnerabilizados, não forem consideradas para a construção das políticas públicas, avançaremos pouco e estaremos engessados em reações que nos roubam, tempo, energia e desenvolvimento econômico e social.
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Fotos: Bea Domingos
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