Por Cecília Figueira
A idéia do filme surgiu em 2017 logo após incêndio criminoso por parte de invasores da terra indígena. Segundo Kerexu (Sônia Barbosa Ara Mirim) liderança guarani, caminhando no meio das cinzas, observamos uma folhinha verdinha nascendo, foi o start necessário para a idéia do filme e o renascer da Esperança. O áudio visual seria uma forma de divulgar a luta heróica do povo Guarani, o cotidiano, a vida e luta dos povos indígenas pela preservação da terra e da cultura contra o colonizador que há mais de 500 anos expropria nossas terras e quer destruir nossa vida e nossa cultura, pelo cuidado da natureza e dos valores de nossa cultura bem como revelar os conflitos que sofremos. Aproveitamos a tecnologia do áudio visual a nosso favor, ele começou a rodar em 2017 e não poderia ser mais oportuno o momento do seu lançamento, semana de celebração dos povos indígenas em que temos hoje o Ministério dos Povos Indígenas criado pelo governo Lula e visibilidade e respeito. Nunca mais o Brasil será sem nós. Vamos ter a demarcação das terras que nos pertencem.
Vini – Vinicius Toro, Diretor; Bruno Cucio, Produtor; que já tinham inserção e presença na aldeia cumpriram com muito cuidado e competência o desafio de dar voz àqueles que tinham muito o que contar.
Com muita delicadeza e beleza o Filme Para Í, retrata a partir da observação e vivência de duas crianças meninas, a realidade dos Guarani Mbya moradores do Jaraguá, bairro da cidade de São Paulo. Traz para nós o direito a terra e a ligação com o território, a natureza e a terra como elemento estruturante de seu modo de ser, de ver e cuidar do mundo e de sua cultura.
Entrecortada por ruas, sujeitos a presença de pastores, invadida por todo apelo da vida dos colonizadores retrata o choque de culturas. Segundo depoimentos de lideranças da aldeia, quando iniciou a história de fazer esse filme, o Vini montou um grupo pra gente fazer áudio visual, vamos tentar fazer um filme aqui dentro da nossa aldeia. Nós temos celular, a gente faz vídeo e vamos usar isso a nosso favor, câmeras, o que for, prá mostrar os povos indígenas. Sem a tecnologia ninguém ia saber o que acontece.
Todo o roteiro foi feito pela Samara Pará Mirim, iniciou com a casa de reza, casas de madeira, casas passando no meio da pista… o filme mostra a realidade como ela é a centralidade do milho, os conflitos culturais, indígenas que não falam Guarani, a música. Cada cena retrata o Brasil de hoje, o pai que não fala guarani e a mãe que fala e que vive na cultura indígena, a casa de reza retrata o conflito de culturas, a cultura indígena é a nossa fortaleza é a nossa base e a terra e o seu cultivo, para nós são sagrados.
A questão da terra, da religião, acontece no Brasil todo. As crianças quando estudam fora da aldeia se sentem estranhas e discriminadas, perguntam a elas, vocês tomam banho, ficam peladas? O que a gente mais tem em nossa cultura é o amor a terra, quando vemos o desmatamento a queimada, mineração, a gente fica muito triste e
Temos problema com a demarcação, muitos projetos estão congelados. Precisamos urgente da homologação das terras indígenas. Tem gente que pergunta, como vocês construíram a aldeia dentro da cidade? Isto é um absurdo, foi a cidade que envolveu a nossa aldeia e a terra da cidade é que precisa ser demarcada.
Este filme me causou grande emoção: uma de nossas lideranças não está mais com a gente, com o documentário a gente guarda as histórias, preserva a memória das músicas, de nossas tradições e de tudo que temos e vivemos no território.
Hoje sou professor, antes não tinha escola na aldeia e a gente vê o que passou no filme, na escola muitas vezes a gente ficava de lado sozinho. Monique Ara Potty e Samara Pará Mirim sempre estavam ajudando uma a outra, eu ficava sozinho e sofria preconceito, falavam existe índio ainda no Brasil? Em São Paulo? Como assim, vocês vieram prá cá tomaram a nossa terra e não querem que a gente invista no nosso território, na nossa terra? Com a escola aqui na aldeia a gente tem um pouco de garantia porque por mais que o branco tente acabar com nossa aldeia, com nossa cultura, a gente ainda consegue preservar um pouco da nossa cultura e o que existe dentro da gente.
Este filme é uma referência e vem revelar a importância do povo Guarani Mbya no Estado de São Paulo. è preciso que ele seja transmitido em todas as escolas, comunidades, nas periferias das cidades e por esse Brasil a fora, para que uma nova consciência se forme em relação à questão indígena.
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