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O que é a democracia e quem são os democratas?

Por Alberto Monteiro de Castro

Criticar a democracia nos dias de hoje virou uma espécie de heresia política para os fundamentalistas do conceito, um atentado quase terrorista. Para muitos soa mesmo como apelo para regimes ditatoriais. Não entendem que é preciso reconhecer as falhas de um sistema governamental para corrigí-las e melhorá-las.
A democracia, do vocabulário grego demos (povo) e kratos (poder) vem da Grécia e é suposto ser um regime de governo cujas origem e poder emanam do povo. Na prática, nem os gregos a têm hoje, aliás, no geral nunca tiveram.

Na verdade, só os atenienses a tiveram parcialmente e nem mesmo Sócrates, para muitos considerado o pai da filosofia ocidental, acreditava na democracia ateniense, para ele fadada ao fracasso por ser no seu entender restritiva “aos bem-nascidos”.

Fomos ensinados com a grande mentira dita por Abraham Lincoln de que a democracia é o “governo do povo, para povo e com o povo” quando na verdade a melhor definição seria “governo de elites, para as elites e com as elites”, na medida em que são elas que governam e disputam entre si os vários espaço do poder. O povo é apenas e quase só figurante, principalmente nas chamadas democracias liberais.

Têm os EUA ou qualquer outro país tido como democracia um “governo do povo, para o povo e com o povo?” Nem ela e nem qualquer outro país na face da Terra, cujos governos gostam de se chamar a si mesmos democracias, podem reclamar esse para si a democracia tal como definida por Lincoln.

Mesmo assim, chamam de “não democráticos” os sistemas políticos de outros países, ainda que os resultados nestes produzidos beneficiem mais o povo em questões de direitos humanos básicos e vitais como saúde, educação, segurança pública e social, emprego e habitação, entre outros, como deve ser o objetivo final de uma verdadeira democracia popular. 

Diz um conhecido adágio popular que “de boas intenções está o inferno cheio.” Diria que de ”bons democratas” está o planeta infernizado com, entre outros males, guerras sem fim, divisões e hierarquizações sociais, raciais, econômicas e de gênero sem fim, explorações de trabalho sem fim e degradação moral sem fim.

Cresci numa época em que os pais esperavam que os filhos tivessem uma vida muito melhor e mais longa do que as suas. Por sua vez, os filhos cresceram pensando que seus filhos também teriam uma vida melhor e mais longa do que as deles. 

Verificamos hoje que isso já não é mais assim no modelo capitalista de produção vigente ganancioso, frenético e financeirizado, orientado para um consumismo insano e protegido por sistemas políticos e financeiros assentes na democracia liberal.

Tanto o modelo de produção como o sistema político e financeiro nele assentes parecem estar esgotados, sofrendo ambos de suas próprias contradições, implodindo. Essa fase foi prevista por um jovem revolucionário socialista alemão de nome Karl Marx em 1848, quando ainda na casa dos 20 anos de idade escreveu:

 “Tudo o que era sólido se desmancha no ar, tudo o que era sagrado é profanado, e as pessoas são finalmente forçadas a encarar com serenidade sua posição social e suas relações recíprocas.”

Há que repensar o que existe e buscar modelos de produção e sistemas de governo que mais se adequem à cada realidade, sem que isso signifique um rompimento com o ideal do que deve ser uma democracia: “governo do povo, para o povo, com o povo.”

 Foto de capa: Cecília Bastos/USP Imagens

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