Natural de São Paulo, o advogado Ewerton da Silva Carvalho, de 28 anos, cresceu nas periferias, em meio a violência e criminalidade, onde infelizmente, perdeu amigos e familiares para as estatísticas. Fugindo do esperado e contradizendo números, expectativas e preconceitos, a história de Ewerton inspira. Confira:
O Hip Hop
Eu nasci respirando o Hip Hop e Black Music.
Nasci em SP, extremo Sul, mas ainda pequeno fui para Mogi das Cruzes. Lá minha família frequentava rodas de samba, escutavam muito Rap e Black Music, então já cresci envolvido pela música e danças pretas e de ambientes periféricos.
Por volta dos meus 11 anos, eu já dançava em rodas de Breack na escola, o que naquela época era muito comum em virtude de projetos sociais no ambiente escolar.
Um cara que morava no quintal da minha avó era pichador, e através dele eu conheci outra arte: o grafite.
Acho que o que me inspirou, foi prestar atenção nas mensagens que cada representação de arte traziam. Ouvir as letras do RAP nacional, me fez entender o contexto onde eu estava inserido. Além de tudo, minha mãe foi mãe solo, então todos esses fatores me fizeram ter um contato mais forte com a minha negritude e o que isso representava.
A marinha
Minha relação com a Marinha foi uma parada muito louca. Eu sempre gostei muito de jogos de vídeo-game que envolvessem aventura, ação, explosão e armas. Mas, ao mesmo tempo, na vida real sempre fui crítico ao militarismo, o que era conflituoso.
Ao fim, tudo favoreceu para que eu prestasse concurso público e entrasse para a Marinha do RJ. Era uma época em que eu estava envolvido com coisas não muito bacanas, e em contrapartida tinha uma namorada no Rio, então eu queria muito me mudar.
Eu enxerguei nessa oportunidade uma chance de sair do ambiente onde eu estava e ser alguém na vida. Como aquela rima dos Racionais: “[… ] o trauma que eu carrego para não ser mais um preto fodido […]”. Isso é algo que eu vivo.
Bolsa de estudos
Eu entrei para a Educafro (ONG que tem como objetivo lutar pela inclusão de negros e pessoas oriundas de escolas públicas ao ensino superior), por volta dos 17/18 anos, e comecei a descobrir o movimento negro e suas lutas. Eu já gostava de Rap, era B-boy, e estava inserido nessa militância de alguma forma.
Ingressei na instituição porque queria cursar medicina, o intuito era conseguir uma bolsa para estudar em Cuba. Pensei “É esse o caminho”. Porém, ainda na escola, todo mundo dizia que eu deveria ser advogado, que eu tinha talento, falava e debatia bem. Aquilo ficou na minha cabeça.
Nesse meio tempo, fui reprovado em um dos exames da Marinha por ter tatuagem. Foi então que eu mesmo montei um recurso e apresentei na Defensoria Pública da União (DPU). O defensor responsável pirou, disse que eu levava jeito.
Ganhei e consegui entrar na Marinha através de uma liminar. Foi aí que eu entendi: eu iria salvar vidas, mas não através da medicina, e sim através da palavra, do debate.
Eu sou Mc de batalha de rimas, eu já estava acostumado com o embate. Tudo fez sentido.
Quando sai da Marinha, eu já estava estudando para o Enem, então através do Prouni comecei a cursar direito.
Causas sociais
A Educafro foi minha base, o que me abriu as portas para a militância. Inclusive, atualmente, represento a instituição no Conselho Nacional de Segurança Pública e Defesa Social (CNSP) em Brasília.
Estamos na luta, sempre visando a promoção da igualdade social e racial, principalmente.
Eu sou um jovem preto. Se eu não brigar pelo meu povo, pelos meus semelhantes, por mim mesmo, eu vou brigar por quem?
Caminhos na política
Por fazer parte da militância, eu já me considero uma pessoa política e politizada. Ainda mais por fazer parte do movimento negro.
Agora, eu estou apenas me sentindo pronto para alçar voos maiores, assumir a liderança que meu pai Ogum colocou nas minhas mãos. Eu não sei como serão as coisas, mas se tudo que estou planejando e lutando deem certo, você logo verá um presidente preto no Brasil. E não vai demorar muito.