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Negras Marços Negras: Os Ecos do 08 de Março!

Mais, um 08  de Março, dia Internacional da Mulher, para mulheres negras, indígenas,  esta data vem marcar mais uma vez a importância da resistência e a contínua reexistencia de mulheres negras, indígenas e pobres.  Para nós mulheres negras, é a importância de mais uma vez, reconfigurar o espaço de reconhecimento das mulheres negras na sociedade brasileira, que sempre foi para mulheres indígenas e negras um grande desafio. 

Reconfigurar, o espaço tem sido um desafio importante, principalmente no que se refere a políticas públicas no Brasil. Ainda que, por mais e denunciem as práticas do racismo, machismo, sexismos, tais políticas públicas após a Constituinte de 1988, mesmo após, inúmeras conferências nacionais das mulheres, ainda, não houve a sensibilidade necessária, para que sejam implantadas distintas políticas públicas, que atendam as necessidades das meninas e mulheres negras e indígenas.

Estamos vivendo, os retrocessos, é importante destacar alguns aspectos dentre as quais, a necessidade de romper com a extrema desigualdade econômica e social provocadas pela escravidão, que marcou e marca a  nossa história enquanto mulheres negras, jovens negras, meninas negras, a necessidade de “reparações” para os descendentes das vítimas da maior tragédia contra a dignidade humana que foi a “escravidão”.

 Entre uma das formas, de se reparar os impactos nefastos deste processo que perdurou por 300 anos e desumanizou, homens mulheres, meninas e crianças, urge, a necessidade de implementar políticas públicas, que sejam significativas  na vida das mulheres negras, pois t torna-se fundamenta, principalmente nos âmbitos da moradia, saúde, educação, trabalho.

         As mulheres negras e as mulheres indígenas, elevaram sua participação em todos os setores; procuram intervir mais intensamente na implementação de políticas de acesso à educação, em especial à educação superior as mulheres negras ganham cada vez mais espaços, principalmente quando tem a oportunidade de realizar programas de qualificação profissional;  e as mulheres das regiões rurais, quilombolas, quanto tem a oportunidade da ampliação do crédito para a produção agrícola.

Para mulheres negras, o grande desafio, é o rompimento do racismo estrutural, que se perpetua com a violência do estado, com intervenções truculentas na periferia, para mulheres negras, romper com  a desigualdade de gênero no Brasil, também, significa romper, de forma simultânea, a desigualdade racial.

  Vivemos, a insustentável, persistência da defasagem salarial entre mulheres brancas, e homens brancos,  ainda as mulheres negras, não ocupam locais de visibilidade nas grandes empresas, nos bancos, não são gerentes, as grandes empresas, impedem de forma, sutil porém eficaz, a ascensão de mulheres negras, a cargos de destaque.

Cada vez mais, fica demonstrado  que é indispensável aprofundar as políticas de promoção das mulheres negra  no mundo do trabalho; é fundamental estimular mudanças nos padrões tradicionais de critérios para ocupação de cargos, onde o racismo estrutural encontram se presença.

Ainda temos que aprofundar a discussão e eliminar a sobrecarga das mulheres negras, com as responsabilidades cotidianas e familiares urge promover a efetivação   com relação às trabalhadoras domésticas, bem como fortalecer a ruptura com as relações de discriminação preconceito, contra mulheres lésbicas, trans em diversos espaços.

Feminicídio nosso de cada dia.

Ainda, é fundamental, discutir políticas de enfrentamento à violência contra as mulheres principalmente mulheres negras e jovens,  uma vez que a cor da pele, além de serem solenemente huipersexualizadas, o fato de ser mulher e negra.

Primeiro, cabe lembrar do processo histórico em que se construiu o Brasil, após a invasão insisto sempre neste processo histórico, pois considero crucial para analisarmos o que estamos vivendo quando falamos de feminicídio.  Quando falamos de Violência Contra as Mulheres, temos que lembrar, que as mulheres indígenas foram as primeiras que tiveram contato com a brutalidade do colonizador, seu corpo foi vilipendiado na sua essência, seguido de práticas de torturas, maus tratos e morte.

Assim, uma das formas mais contundentes de violência no Brasil foi o processo da escravidão o marco em que os corpos são “cargas, mercadorias”. Mulheres africanas foram seviciadas, torturadas, estupradas e também mortas, bico de seios, extirpados, olhos, dentes, dedos amputados, grilhões no pescoço máscara de ferro presa ao rosto, fome, chicotadas… o ritual de dor como forma de disciplinar corpos insurgentes…

Ou seja, a violência extrema sempre fez parte do cotidiano das mulheres negras . A perversidade do racismo e suas manifestações, profundamente enraizado e estruturante da sociedade brasileira, produz extremas e persistentes desigualdades.

Também devemos considerar que o mercado da violência cresce quando cresce o desemprego e a exclusão social, cultural e racial. As mulheres negras, base da pirâmide social, maioria entre os mais pobres e miseráveis, maioria entre desempregados, a quem se pagam os mais baixos salários, estas morrem mais, são assassinadas por homens doentes, que ao longo de sua vida nada tiveram além de uma família (ou expectativa de constituí-la) e, com o rompimento do relacionamento, perdem a posse sobre elas e matam.

Mas, essas mortes de mulheres demonstraram que estamos diante de uma sociedade violenta e também doente, em que os homens precisam ser tratados. Acredito que os dados oficiais apontam para um problema de saúde pública gravíssimo.

 Muitos homens se encontram sem lugar na sociedade brasileira, sem função, muitos se consideram despossuídos do papel de provedor.  Não atendem às necessidades impostas pelo patriarcado machista e sexista.

A forma que encontram de se afirmar é a de eliminar as companheiras, que são vistas como concorrentes, mesmo após o término do relacionamento.

 Mata-se em nome da manutenção de algum poder, sobre a vida e a morte das mulheres.

Trata-se de uma epidemia, e um dos meios de contágio é a voz pública que governa o país. A voz que legitima e enaltece assassinatos como a “eliminação de baratas”.

 A voz que estimula o extermínio, que propagandeia o resgate do patriarcado ameaçado por uma suposta “inversão de valores” que deve ser combatida com firmeza e intransigência. E essa voz se alastra pelos canais de comunicação com incrível capilaridade.

É por isso que, entre outros fatores a serem analisados, compreender as engrenagens da espetacularização da violência é fundamental.

Esse fenômeno nos meios de comunicação, a busca da audiência a qualquer custo, ainda que sobre o desrespeito ao luto das famílias, tem sido um absoluto desserviço e ecoa a voz patriarcal que governa.

As mulheres temem, temem pela vida e são assassinadas. Então, elas continuam expostas por mais sete dias nos programas jornalecos em busca de audiência. Pouco tempo depois, o que temos? Mais uma mulher assassinada nos mesmo moldes.

Cabe destacar que se for definitivamente aprovada  a liberação de posse de armas de fogo, supostamente para legítima defesa, ocorrerá um outro grave problema para as mulheres, principalmente para as mulheres negras, pois mesmo que seja provado o uso para a “suposta defesa”  poderá ocorrer o risco de ser vinculada o uso da sua armar a associação ao tráfico de drogas, destaco ainda que o comércio de armas de fogo é o segundo mercado mais lucrativo do mundo, depois do petróleo. Sem contar que as mulheres que trabalham e estudam não terão tempo suficiente para realizarem as aulas de tiro necessárias.

Fortalecimento Organização e Reconhecimento

E  fundamental o fortalecimento e organização das mulheres negras,  principalmente no que se refere no enfrentamento à violência urbana e doméstica,  é necessário buscar e criar ampliar , redes de serviços de atenção e prevenção, a violência contra mulher, também na esfera institucional, me refiro a mulheres que encontram-se  nas prisões vítimas da Tortura e Maus Tratos e o Racismo Institucional, principalmente no processo da seletividade do sistema de justiça, onde a cor da pele é um definidor entre a inocência e a culpa.

            O mesmo quadro se apresenta no que se refere às jovens adolescentes em cumprimento de medidas sócio educativas, na sua maioria negra, onde muitas vezes o Pai está preso, irmãos, mães encontram-se presas. Recaindo sobre a avó, tias, os cuidados, em geral são mulheres que são chefes de família, com inúmeras necessidades, em geral sendo expostas a violência urbana.

A necessidade de se realizar mudanças profundas, sabemos que nos últimos quinze anos, foi fortalecido o protagonismo das mulheres negras,   onde o principal ponto de pauta das mulheres negras, foi a exigência de romper com as desigualdades e a discriminação contra as mulheres negras lesbicas trans, o preconceito e a discriminação é  que é marca a sociedade brasileira.

Se faz mais que necessário, um olhar abrangente de gerações, voltado também para as mulheres negras com idade avançada, já  idosas, o reconhecimento de mulheres negras que fizeram a diferença no movimento de mulheres negras contemporâneo, buscando a reinvenção de caminhos, principalmente para as jovens mulheres negras , ativistas ou não, porém, que  abraçam as ideias do feminismo negro, pela igualdade, entre mulheres e homens, pela liberdade e autonomia na vida cotidiana e o enfrentamento ao racismo.

As mulheres das zonas rurais, ribeirinhas, quilombolas, quebradeiras de coco trabalhadoras de diversas categorias nas zonas rurais,  são estas, estas mulheres, dos mais longínquos lugares que devemos valorizar, seus saberes, vivências, escrevivências, que reconstroem, a todo o momento os caminhos para romperem com a violência estrutural do racismo e a discriminação.   Reconhecer o papel das mulheres quilombolas, benzedeiras, mães de santo, que formam um grande

 

A Intolerância Religiosa  Guardiãs do Sagrado!

Estamos acompanhando o desenvolvimento da perseguição às religiões de matrizes africanas, a intolerância religiosa contra seguidores de religiões de matriz africana está imbricadamente atrelada a discriminação e ao  racismo, são os desdobramentos de relações sócio históricas do Brasil, que se transformam-se a todo tempo, através do avanço do movimento neopentecostal nas últimas décadas. 

 As mulheres negras, lutam incansavelmente contra a prática da intolerância com um poder ideológico similar aos tempos coloniais, que na época os colonizadores vinham com a Espada, chicote e a bíblia, atualmente chegam, com o Fuzil, e a bíblia, em nome de “Deus” invadem e destroem os terreiros de Matriz Africana  é a herança dos primeiros séculos de formação do país.

A intolerância religiosa, está  se fortalecendo é velada, sob a manutenção da ordem social.

Mulheres Negras entre o Asfalto a Floresta,

São inúmeras mulheres negras, envolvidas em diversos movimentos e organizações sociais, tais como, domésticas, operárias, professoras, bancárias, comerciárias, funcionárias públicas de diversas áreas, estudantes, sindicalistas, estudantes, negras feministas.

 Inúmeras, que deram e dão um demonstração diária em busca da unidade na luta contra a opressão patriarcal , buscando a  superação várias formas o combate a discriminação, propondo uma da plataforma política das mulheres negras.

As mulheres negras, buscam  inserção nas redes da vida cotidiana de diferentes segmentos sociais, buscam  a representatividade, pluralidade, diversidade de mulheres negras de realidades diversas, voltada a uma convergência que garanta a justiça, autonomia, igualdade e liberdade, um marco na história de luta contra a desigualdades desta e de futuras gerações.

As mulheres negras buscam, e lutam pela manutenção da, terra, água, trabalho, renda, educação não sexista,machista e racista, lutam pelo direito a saúde por direitos reprodutivos, buscam a autonomia econômica, poder, participação.

Mulheres Negras na política

As mulheres negras, estão cada vez mais buscando ocupar lutar no cenário político no Brasil, este ano teremos eleições municipais  para prefeitura e câmara dos vereadores, as mulheres negras, estão se organizando, buscando o enfrentamento a estrutura racista interna nos partidos, a busca com toda força de pressão contra o sistema institucional  bem como os padrões, dominantes, contrários aos princípios éticos que assegurem a participação das mulheres negras, na disputa eleitoral, as mulheres negras estão se organizando cada vez, mais, as candidaturas buscam,  também protestar, contra a fome, a pobreza e todas as formas de violência, exploração, discriminação e dominação, e o extermínio da juventude negra

.  As mulheres negras, candidatas a vereadores e prefeita em 2020, estas mulheres, buscam, o fim da injustiça, lutam contra o padrão socioeconômico que encontra-se enraizada na estrutura político-econômica da sociedade brasileira, que está arraigada em  padrões sociais de representação política, sempre branca, classe média, constituída por “bem nascidos”, que se materializa e corporifica, o racismo e a discriminação um modelo capitalista e patriarcal.

Mulheres Negras no Cenário da Necropolítica.

 

A política em curso que tem como público alvo a juventude negra, não se reduz apenas, em tirar vidas, ela é potencializada com a falta de políticas públicas voltadas para a população negra, que atingem preferencialmente as mulheres negras e suas famílias.  Nestes meses de Janeiro, Fevereiro encontrando-se com as águas de Março, as chuvas torrenciais, provocaram inundações, enchentes, desmoronamentos de terras, soterram destruíram inúmeras famílias negras, destruindo suas residências, principalmente nos Estados de Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo. 

Não é o primeiro verão e nem o último que as chuvas chegaram com força, devido as alterações climáticas, as chuvas vieram com força, a natureza se rebelou.   Por outro lado, a ausência de política públicas voltadas para a moradia, está cada vez mais escassa. As famílias negras, estão com poucos espaços adequados para morar, e condições financeiras dignas para alugar ou comprar um imóvel em áreas seguras.

O fato de ocorre há mais de um século,   a desordenada ocupação de áreas de risco, as pessoas acabam  construindo casas em locais inadequados, pela ausência de programas de casas populares, tendo como público alvo, a população negra, em destaque  voltada para mulheres, chefes de família e vítimas de violência doméstica. 

A não opção por local de moradia seguro, tem levado, inúmeras famílias negras, como ao longo da história pós abolição, se instalarem em áreas de risco. Estas famílias, quando são chefiadas por mulheres, parte de seus membros, encontra-se desempregada ou ficaram a pouco tempo desempregado, tendo muitas vezes que se mudar para outra região, construir, seu “barraco” muitas vezes embaixo das encostas, próximo aos rios, muitas vezes com pouco ou nenhum espaço, expostos a riscos de desastres ambientais e vivem em situação de vulnerabilidade, onde o fator “risco” está entre viver ou viver. Vivem, em total situação de precariedade principalmente no que se refere ao mercado de trabalho onde muitas vivem da informalidade.

 Observamos a interferência direta, de ações como desmatamento, mineração, ocupações de planícies e costeiras, instalação de indústria, extração de minérios,  a interferência sobre o solos.

 Observamos por parte dos grandes conglomerados de empresas, indústrias mineradoras, ausência de fiscalização, incluindo a capacidade do governo local, promover   desapropriação de áreas para a construção de casas populares em áreas seguras. Vimos, deslizamentos e famílias, negras, destruídas, com a perda de entes queridos.  Estamos vivenciando a escolha da política pública mais perversa para a população negra, opção feita pelos gestores públicos, que definem o ato de escolher quem vive e quem morre, a sentença decretada por ser negro e pobres.

As chuvas, trazem impactos terríveis principalmente para as famílias, que perderam tudo, ou melhor nada nunca tiveram, encontrando-se em situação vulnerável, do que nunca abrigadas em escolas, dependo da solidariedade alheia.

Afirmo que a política de Extermínio não se reduz apenas, a violência de estado, a esta população se perpetuar, na política nacional de saúde, para população negra, que já possui 10 anos e não é uma realidade para a população negra, na área de saúde pública.

Vivemos uma política de morte, está lenta gradual e segura,  doenças como anemia falciforme, diabetes tipo II, câncer do útero, estabelece, a relação em que vive as mulheres negras, expostas,  a política pública conhecida, para a população negra, pobre, que vive na periferia da constituição federal, são as inserções policiais, nas vielas, conjuntos habitacionais, morros, favelas, que vivem em condições precarizadas, locais sem saneamento básico, transporte, escolas equipadas, postos de saúdes.

Assim vivem inúmeras mulheres negras, vivenciando o espetáculo de morte, da separação dos filhos ,e entes queridos, o mesmo cruel processo dos tempos da escravidão,  vivem em condições, que se materializa a política pública que define quem e como vivem, quem deve viver quem deve morrer.  

As mulheres negras, vivenciam a violência obstétrica, a morte o feminicídio nosso de cada dia,  são vários os mecanismos de extermínio em curso para as mulheres negras, são aperfeiçoados na atualidade, reforçados, pelos meios de comunicação.  A micropolítica em curso. As mulheres negras, estão se organizando cada vez para definir, nas urnas, um futuro digno para que possam viver e existir em plenitude.

 

Deise Benedito é Graduada em Direito, Especialista em Relações de Gênero Raça Direitos Humanos Segurança Pública e Sistema Prisional – Ex- Perita do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate a Tortura. Mestre em Direito e Criminologia- UnB

 

NOTA

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