Pesquisar
Close this search box.

» Post

Sheila Alice: Legado e inspiração

Sinto-me as vezes inclinado a conhecer vultos e personalidades fora do padrão eurocêntrico que são ou foram predispostos para com a democracia, liberdades individuais e justiça social. Conheci assim a história de pessoas de nacionalidades e origens distintas mas com algo em comum… a empatia pelas pessoas e comunidades social e politicamente oprimidas. A luta pelo seu povo, sua etnia, classe social ou afins.

Como uma vez ouvi num sermão eclesiástico: “Quando se sentir desprivilegiado, injustiçado ou triste… Ajude alguém em necessidade e perceberá que há pessoas em situações piores que a sua”; há pessoas que fazem isto natural e costumeiramente e isto me faz um admirador das mesmas.

Nestes dias de novembro em que o povo afro-brasileiro está em evidência, destacarei a vida e obra de Sheila Alice por meio da Micro-História. A Micro-História aborda o cotidiano de comunidades determinadas ou apresenta biografias que complementem o contexto geral, mesmo que os indivíduos destacados fossem figuras anônimas. Na verdade, é isso que permite desvendar realidades locais existentes dentro das estruturas maiores já conhecidas.

Moradora de Guaianases desde sempre, Sheila Alice Gomes da Silva foi estudante de Administração de Empresas na Faculdades Zumbi dos Palmares e no curso havia uma grade chamada “História Econômica do Negro”. Foi aí que a mesma começou a  despertar para a história de sua ascendência africana e,  se especializou na lei 10.639/2003 de 9 de janeiro de 2003 que Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”. Sheila lutou por uma bolsa de estudo na PUC/SP e conseguindo a mesma, de forma admirável, terminando a graduação em Administração, estudou História numa instituição enquanto completava o mestrado noutra.

Sua tese de mestrado teve como tema “Negros em Guaianases: Cultura e Memória” e procurava resgatar a presença afro-brasileira, africana e indígena nas raízes do bairro, questionando a “oficializada” história da fundação do bairro que foi construída numa perspectiva eurocêntrica e etnocentrada, negando a presença dos nativos indigenas guaianases que deu nome ao bairro e à presença afro no mesmo.

A mãe de Sheila Alice, a professora de História aposentada Sueli Gomes, procurada pela PUC após o falecimento de Sheila para saber qual seria a vontade da mesma com relação a seu trabalho, expôs o desejo pela publicação do resultado de toda esta pesquisa para que o conhecimento circule entre os protagonistas e interessados nesta história. Sheila que veio a falecer no dia 15 de agosto de 2018 em decorrência de uma embolia pulmonar, esteva no segundo ano de seu doutorado. Esteve nos Estados Unidos da América pesquisando para seu doutorado com o tema “Diáspora Negra” quando sua carreira foi encerrada.

Thiago Nunes Fraga que a conheceu, relatou algumas curiosidades sobre a personalidade de Sheia Alice… Ela não se conformava com injustiças, polemizava sempre que se sentia discriminada ou vitimada pelo racismo. Incomodava-a a auto-depreciação da parte de alguns negros e sempre procurava educá-los segundo princípios de negritude. “Eu era um tipo de mediador as vezes pois Sheila as vezes se empolgava com estes assuntos”; disse Thiago Nunes.

Depois de ouvir os entrevistados e pensar sobre a escrita de história tão extraordinária, percebi que conheci Sheila numa igreja batista em Itaquera na zona leste certa feita quando ela ainda estava por ir aos E.U.A. por conta de seu doutorado. Aquela pessoa simpática mas determinada que pela simplicidade nos faz pensar em como Deus capacita os Seus. Enfim, a negritude de Sheila Alice estava para além de suas crenças religiosas, estava escrita em seus atos de amor pela sua ascendência ou para alguns, sua ancestralidade griô. Precisamos de mais “Sheilas Alices” neste mundo.

NOTA

Não deixe de curtir nossas mídias sociais. Fortaleça a mídia negra e periférica

Esta gostando do conteúdo? Compartilhe!

Respostas de 3

  1. Sou Sueli, mãe da Sheila Alice.
    Gostei muito de ler seu artigo sobre a vida e obra de minha filha.
    Isto sem dúvida aquece meu coração, porque é mais uma forma de visibilizar suas ideias e pequisa, ela tinha um sonho; que sua pesquisa fosse divulgada em todo lugar, principalmente no Bairro de Guaianases, que circule, se faça conhecer e promova reflexão. Sheila vive através de de seu legado.

    1. Sheila é uma daquelas pessoas marcantes que transformam a vida de outras pessoas. Dizemos que “é” e nao “foi” pois se tornou imortal pela importancua e registro de sua obra.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

» Parceiros

» Posts Recentes

Categorias

Você também pode gostar

plugins premium WordPress

Utilizamos seus dados para analisar e personalizar nossos conteúdos e anúncios durante a sua navegação em nossos sites, em serviços de terceiros e parceiros. Ao navegar pelo site, você autoriza o Jornal Empoderado a coletar tais informações e utiliza-las para estas finalidades. Em caso de dúvidas, acesse nossa Política de Privacidade