Recentemente fui instigado pelo amigo e jornalista Walter Falcetta a dar opinião sobre a música Jesus negão, da BandaLibera O Badaró que em um dos trechos canta:
“A cada 39% dos nêgo que nascem nessa cidade são pretos.
4% dos 7% dos nêgo que estudam nas faculdade são preto.
A cada 2 crianças que nascem nêga, uma morre preta.
80% dos nêgo preto morrem queimado nêgo.”
È difícil ser um Chico Buarque, Chaplin, Grande Otelo ou Zezé Mota. Mas a semiótica está “clara” na propaganda. O velho e bom humor travestido de…preconceito? Sim. Mas antes que digam que estamos com tal mimimi faço uma pergunta? Por que a piada sempre contra negros (as), obeso, loira, mulher, gllbt, morador e torcedor de time popular, nordestino?
A lista é grande, porém não assistimos, lemos ou ouvimos a tal graça contra judeu, dono de empresa de multinacional, fazendeiro que faz trabalho escravo, o artista travestido de popular que defende atitudes conservadoras, o apresentador de programa que vende camisa em toda desgraça humana e/ou que ganhou uma loteria, ficou milionário e fazia comercial de presidente. Ô Loco meu!
“Ao contrario da empresa que parece não ter pesquisado antes sobre o efeito que causaria sua publicidade o negro(a) pesquisa e muito. O negro é lindo cantou Jorge Ben. Menina pretinha, você é uma rainha, canta MC Soffia. As palavras tem historias: de Resistência, de Orgulho e afirmação. E uma propaganda tem sim o poder de apagar e silenciar tudo que veio antes.” – Luciano Jorge
Vivemos um momento de guinada do mundo ao conservadorismo e ações que vão de encontro a valores humanos. Um dia é a musica, outro um jogador chamado de macaco no outro a empresa Santher cria uma peça publicitária com o slogan ‘BlackisBeautiful’ para divulgar sua campanha de papel higiênico preto da marca Personal.
A Agencia se pronunciou dizendo que respeita os movimentos negros e que desejou apenas enfatizar o produto. Nos parece importante enfatizar que não há, nenhum problema com a cor do tal produto, ou o modo como esse é apresentado. O problema está justamente no modo como o tal produto é vendido, afinal, a pergunta que nos resta é a seguinte: não houve nenhuma preocupação com o modo como o tal produto foi vendido? Como publicitários conseguem eleger essa frase como algo perfeito para vincular ao produto? O tamanho da ironia etá justamente no suposto respeito que sempre é posterior as observações sobre racismo.
Um ponto parece ser importante dizer: pretos e pretas tentam fazer um caminho pesaroso. O caminho do conhecimento, estabelecendo novas narrativas, compreendendo a forma como povos sequestrados do continente africano (re)construíram suas relações, suas culturas, religiões, a relação com a sua corporalidade nas danças, nos cabelos. Tudo isso é resistência! Tudo isso é memória! Um desejo de se apontar para o passado, mas também uma possibilidade de olhar para o futuro. Por isso #blackisbeautiful é uma frase de tanto impacto, afinal, não é fácil passar uma vida tendo narrativas e memórias silenciadas em nome da boa ação.
O ponto positivo é que hoje estas ações não ficam impunes a mídia social e de forma inteligente um grupo criou uma ação onde se use a Tag #blackisbeautiful e assim usar em trabalhos de pessoas negras. Um recado inteligente para que outras empresas saibam que apropriação de de slogan com temática racial, de gênero e/ou religiosa merece cuidado e respeito.
Esperamos que assim como se gasta milhões em pesquisas para saber qual tipo de produto deve-se colar na rua, que façam um investimento em “pesquisa de opinião com o público alvo e quem pode ser alvo da ação/campanha”.
Em suma, a luta continua e não podemos normatizar estas atitudes e sim mostrar que elas machucam, humilham e ajuda distanciar. O Jornal Empoderado que presa pela pluralidade, respeito e união entre povos, religiões, gêneros e raças diferentes contribui com a campanha indicando uma ação negra atual de alto valor:
“Oro Orum, Axé eu Respeito” #blackisbeautiful
Link do App:
https://play.google.com/store/apps/details?id=com.thunkable.android.axeeurespeito.OroOrum