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Saúde: audiência mais que necessária

A série Mutirão Saúde, uma produção que coloca a saúde da população negra no centro do debate, com umelenco 100% negro, teve seu lançamento no Canal Futura na última quinta-feira (20). O programa conta com uma equipe multidisciplinar de especialistas, incluindo uma médica, um psicólogo, uma preparadora física e uma apresentadora, que trabalha de forma integrada para apresentar soluções práticas e acessíveis para cuidar da saúde.

A Dra. Simone Nascimento, é uma das profissionais que integram o programa e nos concedeu uma entrevista exclusiva para o Jornal Empoderado. No dia 18/02, no SESI Vila Leopoldina, fomos acompanhar a premiére do 1º Episódio.

Um motoboy, com uma única alimentação diária a base de café e poluição anos a fio, o dia todo, todos os dias, recebe a euipe do Mutirão da Saúde em sua casa, com ferramentas para mudar sua vida dentro das suas condições e possibilidades; sem culpa e sem pesar no bolso.

Os programas vão além da saúdefísic e tratam também da saúde mental e profissional do protagonista deste Reality Show.

E por falar em Reality….

Eu não sou fã de Reality Shows, mas esse foi um show de realidade de verdade com propósito útil e um onteúdo objetivo, é a nossa vida na tela se virando como dá. É a nossa realidade, É coisa de Preto! Se cuidando, se salvando. Outros por aí, dão um milhão para algumas pessoa e o nosso povo continua adoecendo

Com generosidade, cada personagem foi acolhida dentro de sua realidade e tiveram suas vidas melhoradas.

O Sesi e o Canal Futura celebraram uma parceria para atender uma demanda inédita e urgente no Brasil: a saúde da população.

Encantados com o resultado, trazemos uma entrevista exclusiva com a Dra. Simone Nascimento, Médica e apreesentadora do programa:

Uma entrevista onde o Brasil mais uma vez vê o quanto o racismo determina até a saúde alimentar de alguém pela cor da pele e classe social.

Sobre a Origem do Programa
Max Muratório: Essa ideia já estava na sua gaveta há anos ou surgiu recentemente? Há quanto tempo você deseja realizá-la?
Simone Nascimento: O programa foi idealizado pelo SESI Nacional e pelo Canal Futura. Fui convidada a participar. Como não sou a idealizadora, não sei profundamente do processo até o projeto já estar em andamento.

Sobre sua trajetória na medicina
MM: Como médica negra, sua atuação era mais voltada para o setor público ou particular?
SN: Sempre trabalhei nos setores público e privado. Ainda hoje atuo em ambos, mas, no setor público, trabalho com diagnóstico e rastreamento do câncer de mama.

MM: Qual é sua especialidade e qual era o perfil predominante dos seus pacientes? Atendia mais mulheres, homens ou um público diverso?

SN: Por 20 anos, atuei como radiologista no diagnóstico e rastreamento do câncer de mama. Nesse contexto, atendi sempre mais mulheres do que homens. Após meus estudos em Medicina do Estilo de Vida, Saúde Mental e Qualidade de Vida no Trabalho, tenho um público mais diverso.
MM: Como o racismo atravessou sua trajetória profissional? Você enfrentou dificuldades para ocupar espaços acadêmicos e profissionais por ser uma médica negra?
SN: Durante a faculdade, acho que, por uma questão de sobrevivência, eu não tomava tanta consciência do que me acontecia. Depois de formada, o racismo ficou mais nítido pela forma como eu era tratada, tanto por pacientes quanto por parte dos funcionários dos hospitais. O frequente descrédito, a invalidação e até mesmo a rejeição mandavam um recado muito claro. Muitas vezes, portas foram fechadas, e minhas habilidades deixaram de ser reconhecidas ou valorizadas. Por outro lado, com o tempo, fui encontrando aliadas valiosas pelo caminho e acabei ocupando os espaços que eu desejei.

Sobre saúde e nutrição na periferia
MM Os ultraprocessados e farináceos são a base da alimentação na periferia, o que contribui para problemas de saúde. Como você enxerga esse racismo nutricional e alimentar?
SN: O racismo nutricional e alimentar é uma expressão estrutural das desigualdades socioeconômicas e raciais que marginalizam populações periféricas, majoritariamente negras e pardas, limitando seu acesso a alimentos saudáveis e perpetuando ciclos de doenças crônicas. Estudos mostram que as periferias brasileiras são marcadas por desertos alimentares (ausência de opções nutritivas) e pântanos alimentares (excesso de ultraprocessados), cenários que refletem a exclusão histórica dessas comunidades. O número de estabelecimentos que vendem produtos ultraprocessados chega a ser 22 vezes maior que o de alimentos in natura nessas regiões, enquanto feiras e hortifrútis são raros ou inexistentes.
Essa dinâmica não é acidental: está vinculada a políticas públicas negligentes, à especulação imobiliária que expulsa pequenos produtores e ao racismo estrutural, que naturaliza a precariedade nas áreas periféricas. A falta de acesso físico e financeiro a alimentos saudáveis força os moradores a dependerem de ultraprocessados, mais baratos e disponíveis, mas associados a diabetes, hipertensão, obesidade e transtornos mentais. Essa realidade é agravada por fatores como jornadas exaustivas de trabalho, falta de tempo para cozinhar e a violência urbana, que restringe a circulação para buscar alternativas. Isso ilustra como a combinação de racismo e capitalismo neoliberal priva comunidades periféricas do direito à alimentação digna, tratando sua sobrevivência como descartável.

MM: O acesso a alimentos saudáveis é um desafio financeiro. Como podemos reverter esse quadro, considerando que uma sacola de frutas custa muito mais do que um pacote de salgadinho?
SN: Para reverter esse cenário, é preciso desenvolver políticas públicas que combatam as raízes do problema: desigualdade social, concentração de mercados e incentivos ilimitados e perversos ao consumo de ultraprocessados.
Primeiro, é necessário subsidiar alimentos saudáveis (como frutas, legumes e grãos) por meio de programas como vouchers para famílias de baixa renda, redução de impostos para pequenos produtores e expansão de feiras populares com preços acessíveis.
Segundo, é fundamental regular a produção de ultraprocessados e a publicidade agressiva em áreas vulneráveis.
Terceiro, fortalecer circuitos locais de produção e distribuição, como hortas comunitárias, agricultura urbana e cooperativas, que reduzem custos e democratizam o acesso.
Além disso, é urgente combater a desigualdade de renda: sem aumento real do salário mínimo e garantia de emprego, a escolha alimentar seguirá refém do orçamento apertado. Iniciativas como a merenda escolar orgânica são exemplos práticos.
A luta por justiça alimentar também passa por educação nutricional crítica, que não culpe o indivíduo, mas denuncie o sistema que lucra com a fome e a doença. Encarar a alimentação como direito, não como mercadoria, é o primeiro passo para desmontar o racismo nutricional.


MM: A anemia falciforme é uma das doenças mais comuns na população negra. Como você avalia o atual cenário de pesquisas e investimentos na saúde dessa população?
SN: O cenário atual de pesquisas e investimentos em saúde para a população negra, especialmente em relação à anemia falciforme, mostra avanços pontuais, mas ainda bem insuficientes frente às desigualdades estruturais.
A anemia falciforme atinge cerca de 8% da população negra no Brasil e é responsável por 74,7% das internações registradas entre 2012 e 2023. Porém, ainda é um desafio crítico, associado a falhas no diagnóstico precoce, acesso a tratamentos especializados e racismo institucional nos serviços de saúde.
Existem políticas públicas como a Portaria nº 2.010/2023, que incluiu a doença na lista de notificação compulsória e representa um avanço na vigilância epidemiológica. No entanto, programas como o Programa Nacional de Anemia Falciforme (PAF) ainda têm implantação limitada por descontinuidades políticas e falta de financiamento.
Estudos apontam que o sistema de saúde frequentemente reproduz desigualdades, com profissionais despreparados para lidar com a doença e infraestrutura inadequada em regiões periféricas, onde a população negra é majoritária.


MM: Existe um disparate nos investimentos em doenças que afetam majoritariamente negros e as que afetam brancos? O que tem sido feito – ou deveria ser feito – para reduzir essa desigualdade?
SN: Sim, existe uma disparidade significativa nos investimentos e na atenção às doenças que afetam majoritariamente a população negra em comparação com aquelas que atingem predominantemente brancos.
Um exemplo emblemático é a anemia falciforme, doença genética mais prevalente em pessoas negras, responsável por 74,7% das internações relacionadas a hemoglobinopatias no Brasil entre 2012 e 2023. No entanto, ainda enfrenta lacunas no diagnóstico precoce e no acesso a tratamentos especializados.
Em contraste, doenças como o câncer de pele melanoma, mais comum em pessoas brancas, recebem maior visibilidade em campanhas de prevenção e investimentos em pesquisas, apesar de sua incidência ser menor no país.
Para reduzir essa desigualdade, políticas públicas como a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN) visam enfrentar o racismo estrutural no SUS, promovendo equidade no acesso a serviços de saúde e priorizando condições como a anemia falciforme. No entanto, sua implementação ainda é limitada por falta de financiamento e descontinuidade política.
É crucial combater o racismo institucional por meio de treinamento antirracista para profissionais de saúde, reduzir negligências que agravam a mortalidade materna e infantil em mulheres negras e integrar determinantes sociais (como renda, educação e saneamento) às políticas de saúde.
Enquanto o racismo estrutural persistir, a equidade em saúde seguirá como um projeto inacabado.

O Jornal Empoderado observou o quanto estamos distantes da justiça alimentar, e como somos vítimas das gorduras, açúcares e condimentos químicos sem nutrientes com Marketing selvagem nos levando a desejar consumir o que nos mata ou matará.

Acordar para esse tema é urgente! Quem acordou, liga no programa e assiste. Quem estiver dormindo faça boas 8hs de sono de qualidade e durma bem, sua saúde importa para todos nós.

Desejamos vida longa ao Show da Realidade, e um crescimento vertiginoso em sua audiência, essa sim mais que necessária.

Revisão e edição: Tatiana Oliveira Botosso

NOTA

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