Luto: Samba perdeu um pouco do seu Molejo, pois aos 51 anos faleceu Anderson Leonardo.
Por Tadeu Kaçula – Sambista e Sociólogo
Foi numa sexta-feira de Oxalá, ou na Nação Angola, dia de Lemba, três dia após os festejos de Ogum que o nosso querido sambista, genial, criativo, Anderson Leonardo , do grupo Molejo, um dos grupos de pagode mais conceituados e mais famosos, que fez muito sucesso entre a década de 1990 e 2000, fez o seu caminho de volta para o Orum. Anderson Leonardo foi um compositor, artista, cavaquinista, sambista e um dos músicos mais importantes dos últimos anos. O sambista deixou um legado muito importante para a música popular brasileira. Várias são as gerações que beberam e ainda bebem na fonte do Grupo Molejo, pois ainda hoje os grandes sucessos do grupo é cantado em shows, rodas de samba e até em caraoquês. Filho de um outro grande artista, Bira Havaí, um grande produtor musical, Anderson Leonardo fez uma carreira brilhante no pagode a partir do Grupo Molejo. Participações especiais em vários discos e artistas como o Grupo Fundo de Quintal, com Zeca Pagodinho, com Beth Carvalho e com outros grandes nomes do samba e da música popular brasileira.
No dia de Oxalá, ou no dia de Lemba, Anderson Leonardo fez a sua trajetória de reencontro com a sua ancestralidade. Anderson Leonardo foi encontrar com os seus ancestrais e lá entregar, devolver, retribuir todo o legado que os nossos ancestrais deixaram na formação do samba e da música popular brasileira.
O sambista é um daqueles que já nos deixa saudade, porque de forma peculiar e de uma maneira única e com a sua voz peculiar conseguiu cativar o público brasileiro através das suas canções, através dos seus shows, através do seu toque do cavaquinho, do seu carisma e até mesmo compondo o grupo com outros grandes sambistas, como o próprio Andrezinho Mocidade, filho do grande mestre André, um dos grandes diretores de bateria da Escola de Samba Mocidade Independente Padre Miguel.
É, infelizmente nós perdemos mais um sambistas, e como diz Geraldo Filme, O apito de Patunagua emudeceu, e, neste caso, o cavaquinho de Anderson Leonardo emudeceu, mas o seu legado, a sua história, toda a sua musicalidade continuão vivas e influenciando as futuras gerações de sambistas em todo o Brasil.
Pembelê, Lemba! Epà Babà!
Sambistas e ativistas se despedem de Anderson Leonardo:
“Notícia triste agora. Anderson do Molejo acabou de se despedir desse mundo material. Voltando a pátria espiritual que os bons espíritos o recebam na paz de Jesus. Meus sentimentos a todos familiares“. Por Thobias, da Vai-Vai.
“Hj o pagode perde, por indeterminado tempo, a sua irreverência, parte do seu talento, a sua figura mais emblemática: Anderson Leonardo do Gr Molejo: um Gigante, uma enciclopédia, que tanto fez pelo Movimento do pagode 90. É um momento de tristeza para família e para todos nós, mas faz nascer a esperança de que um dia o samba volte a sorrir, brincar e ser feliz como o foi com esse bamba. Salve Anderson Leonardo, Salve a família Havaí, para a qual, Hj e sempre, o pagode lhe deve todo sentimento. Adeus, Anderson Leonardo, descance em paz.”. Por Claudinho de Oliveira (ex-integrante do Soweto, compositor e colaborador do Jornal Empoderado).
A parlamentar e sambista Leci Brandão disse em suas redes que foi uma grande de perda e que conheceu, Anderson, antes dele entrar no grupo Molejo. E que o sambista sempre a tratou com carinho.
Dani Lopes, do Empoderado, lembrou sobre a convivência com o sambista:
“Acho que uma coisa legal de se destacar sobre o Anderson era que ele era um entusiasta da favela…ele frequentava e acreditava no potencial cultural e social da favela!
Ele visitava o Complexo de favelas da Mangueirinha por ser cliente da King Instrumentos Musicais e foi cliente desde o inicio, quando a fábrica ainda funcionava nos fundos do quintal do dono… Ele acreditou e abriu portas pra empresa que hoje é inclusive exportadora!
Quando visitava o local, cumprimentava a todos…abraçava os idosos e dançava com as crianças! Era como se estivesse em seu local natural e estava!
Afinal, era um gênio do samba, fã de Bezerra da Silva…tinha a favela na alma e no compasso de suas batucadas maestrais e irreverentes!“
Nota: O JE agradece aos sambistas por nos atender, pois foi um dia muito triste para todos (as).
Foto: Reinaldo Marques/Globo