*Por Valéria Jurado
Quando se fala sobre a população em situação de rua em SP (capitaL), ouve-se que tem todo tipo de gente, gente de toda cor…mentira! A predominância dos negros segue a olhos vistos, e está em torno de 90%.
Em momento algum as autoridades abordam esse aspecto, deveriam, porém, novamente é mais um dado importante varrido para debaixo do tapete desde o início do governo HIGIENISTA de João Dória e continuado por Rodrigo Garcia e na esfera municipal por Ricardo Nunes, talvez o mais cruel, avalisando um senso pop rua subnotificado e farsante.
Agora, temos um agravante, imigrantes senegaleses, moçambicanos e outros de origem africana, ocupam barracas pelo centro e frequentam o fluxo da Cracolândia, como usuários e ou como “vapores”.
Vou contar sobre três SERES HUMANOS NEGROS, esquecidos invisíveis aos olhos da cidade mais rica do país.
MONALISA DA BAHIA. Mona é uma travesti de fala mansa e elegante, veio tentar a vida artística em SP, antes do estouro da antiga Cracolândia, Mona tinha um “império” na Praça.
Princesa Isabel contando com três barracas das altas em um espaço bem amplo, Mona é lider e socorre as outras travestis espancadas, Mona está sumida, não a encontro há mais de 10 dias, com tantos estouros na Praça, confesso que não sei mais onde procurar, ela vive de pedir auxílio nos faróis da região, oferecendo banho de pipoca e caracterizada como uma praticante de religião de matriz africana.
BAHIA. Um homem solitário e alcoólico, vive numa barraca iglu com seu cachorro vigilante, quando o dono sai para tomar banho no Banho Solidário ao lado do Largo do Paissandu, o cão fica amarrado para fora da barraca, todo dinheiro que consegue com reciclagem, usa para o álcool, levo alguns alimentos para ele como arroz feijão óleo molho macarrão.
Um homem de 42 anos em idade produtiva e bem articulado, veio da Bahia para trabalhar na capital e desempregado há muitos anos, morava na Praça Princesa Isabel antes do estouro do fluxo, há mais de dez dias carrego no porta malas uma sacola com arroz feijão água óleo e não consigo entregar, não vejo o Bahia pelo novo fluxo que ali se instalou e ninguém sabe dizer por onde anda.
JULIO. Me contou com felicidade que estava “virado” de trabalhar no Carnaval para a Rede Globo, trabalhou 12 dias por 850 reais que até agora não recebeu, foi trabalho braçal, carregar equipamentos pesados e fios, estava com fome e conseguimos uma marmita para ele, era quase 17 horas de hoje. Julio é do interior de SP da cidade de Capivari, Julio vai e volta diariamente a pé da Bela Vista até o Brooklyn cobrar a Rede Globo desde segunda feira, ele mora embaixo do viaduto que passa na Praça Pérola Byington.
“Dona Valéria quando a ONG chega na praça, ela escolhe os menos pretos para ajudar: curso, emprego, doação…”
Essa é a fala de um “vapor” que nunca vou esquecer, tamanha tristeza e vergonha que senti, sinto. Ele tem no máximo 25 anos, está em condicional, ele é do crime e não quer sair, ele é preto
As ONG’s também são BRANCAS!
Em qual momento, os especialistas em Direitos Humanos, as entidades de Defesa de Direitos Humanos vão exigir, vão gritar sobre essa realidade cruel, sobre esse governo HIGIENISTA e BRANCO ?
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Valéria Jurado é Jornalista e Ativista de Direitos Humanos. Desde o início da pandemia reportando como voluntária às causas da POP RUA divulgando e atuando em várias frentes.
Créditos/Fotos: Ale Ruaro, fotógrafo de Arte e Lifestyle. Registrando como Fotojornalista a situação da POP RUA durante toda pandemia.