Como construir caminhos para uma infância segura de verdade?!
Atualmente, existe uma dinâmica intensa, para grandes construções de um novo modelo social, mais justo e igualitário. Mas como podemos de fato, avançar e tornar efetivas as práticas antirracistas?
Muito se discute o papel das escolas, dos meios de comunicação, e do quanto nossas crianças estão envolvidas em projetos, que alavancam as engrenagens sociais, mas ainda carecemos de comprometimentos honestos com as pautas raciais.
É um trabalho árduo, onde todos nós, estamos diretamente envolvidos. Sobretudo, devemos pensar, que mães e pais pretos dentro da diáspora, já cumprem esse papel de sobrevivência pessoal e de suas famílias. O racismo está em todos os espaços de uma sociedade que foi pautada com sólidas estruturas.
Pessoas pretas percebem o reflexo racial em suas vidas diariamente, em consultas obstétricas, acompanhamento ginecológico, em entrevistas de emprego, no primeiro dia de aula, estamos sempre observando e convivendo com as adversidades de existir em uma concepção de resistência.
Quando falamos de valorização da infância, somos levados por uma ideia de valorizar, porém, com um olhar mais detalhista, observamos a falta total da celebração do estado de infância de crianças pretas.
A infância, nos humaniza, ao passo que é um estado em caráter tridimensional, como bem explica o professor Renato Nogueira, existe um poder na infância, um momento inerente de todo ser humano, que nos permite alcançar êxito em nossa existência.
Infelizmente desde a colonização, crianças africanas, não são vistas como pessoas, muito menos com direitos a um momento de contemplação do estado de infância e de desenvolvimento sadio. Essa conduta racista e desumana, vem ocorrendo em tentáculos de uma necropolítica a e vemos poucas iniciativas para que se controle o infanticídio que assola a população negra, vemos negligências cometidas sem pudor, pelo Estado, que torna desproporcional o ingresso em escolas públicas desde o ensino fundamental, falta de apoio e incentivo para acompanhamento básico de saúde.
O mesmo Estado que torna a violência urbana um fato do cotidiano bem como a falta de medidas mais duras para combater o assédio sexual e trabalhos forçados.
O racismo estrutural, torna situações que exigem cuidado e zelo, em crimes violentos, assim foi com a criança Aghata, assassinada na comunidade da Fazendinha, Complexo do Alemão, mesmo na companhia de sua mãe, o que garantiria sua segurança, não foi o suficiente para preservar sua vida da violência urbana, instalada no Rio de Janeiro, disfarçado de combate às drogas, outro exemplo de racismo cabal, foi o abandono da criança de 5 anos em um elevador, Miguel, que acompanhava sua mãe, na época doméstica, e cumpria serviços mesmo em meio a pandemia de covid19. Miguel foi deixado pela patroa da mãe, no elevador que o deliberante colocou na função subir. A criança acabou caindo e perdendo a vida.
O racismo é cometido de forma fatal, onde nossas crianças não têm chances, mesmo quando a família se esforça para preservá-las. Existe uma naturalização no sofrimento, desprezo e mortes delas.
Esse cenário é extremamente caótico e perverso, toda a sociedade é conivente, porém, existem medidas que podem ser tomadas para que possamos caminhar, compromissos sociais e equipamentos voltados para uma descolonização das formas como a sociedade se movimenta racialmente e elevando conhecimentos para afro perspectivas, de forma comum e acessível.
O Brasil é um país miscigenado, com grandes contribuições dos povos originários e com uma grande cultura popular proveniente de um berço civilizatório africano . Acessar essa ancestralidade, como uma ferramenta de manobra, para uma sociedade melhor em que crianças pretas tenham o direito a uma infância segura e protegida é o mínimo de empatia, que os descendentes não negros podem lutar.
Texto: Arlete Lima
edição: Daniela Lopes