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Por que o brasileiro pouco se interessa pelas vidas negras mesmo diante de tantos casos de violência?

Nas últimas semanas/mês vimos manifestações antirracistas nos Estados Unidos, como bem sabemos e estamos a par dos contextos, ganharem forças após o assassinato de George Floyd. Homem negro, 46, que morreu sufocado por um policial branco – em mais uma cena de covardia.

País não se comove com mortes de pessoas negras

Acompanhamos as ondas de manifestações que tomaram as ruas americanas, gritamos por justiça e nos solidarizamos com os irmãos afro-americanos. O episódio fez acordar uma parcela de pessoas brancas também, que entenderam que podem e devem contribuir para o enfrentamento do preconceito racial – afinal, racismo é problema deles, não fomos nós [pretos] quem o criamos.

Foram dias, semanas, de protestos e pautas bem definidas, pressão para que o poder político agisse para punir os envolvidos e por reformas estruturais no departamento de polícia. O povo preto clamava por respostas e, principalmente, para que deixem de ser vítimas da violência policial.

Dias antes da morte de Floyd, tivemos por aqui, no Brasil, o assassinato de João Pedro, jovem morador de uma favela do Rio de Janeiro. Ele foi morto por uma ação da polícia do Estado Fluminense. O menino morreu dentro da própria residência; depois foi levado pelos policiais sem conhecimento dos pais, sendo deixado, muitas horas depois, seu corpo no IML.

Na mesma semana, outros casos foram registrados na cidade carioca, novamente a política de extermínio do Estado ceifava vidas e destruía famílias inteiras. Tudo isso no meio de uma crise sanitária por conta da pandemia de Covid 19; pela ausência de políticas públicas para lidar com o problema de forma a proteger a saúde da população, e não a deixar à mercê da sorte e do medo.

 

 

 

Em mais um triste e revoltante episódio de descaso, tivemos a morte do menino Miguel – de apenas 5 anos idade –, ele caiu do 9 andar de um prédio de luxo no centro de Recife. A criança foi deixada pela patroa de sua mãe sozinha andando pelos elevadores e corredores do local, quando, na tentativa de achar Mirthes Renta, a mãe dele, subiu em uma grade e caiu.

O fato mostra como o racismo se desdobra no tecido social de várias formas e brutalmente. Cotidianamente, casos e mais casos tomam conta dos grandes jornais e redes sociais, num looping interminável de tragédias contra a população afro-brasileira. Os números só aumentam a cada ano e reforçam os processos e manutenção de racismo estrutural e institucional no país.

Segundo último levantamento do Mapa da Violência [2019], 75% das vítimas de assassinatos em 2017 eram pessoas negras. Um aumento de cerca de 3,5% na taxa de mortes, isso porque em 2016 tivemos 71,5% de casos de homicídios de indivíduos não brancos.

65.602 assassinatos no período de 2017, o que corresponde a uma taxa de cerca de 31,6 óbitos para cada cem mil habitantes. Conforme os pesquisadores do estudo, é o maior nível histórico de letalidade.

São números sobre a ordem estrutural da violência sistêmica que abate corpos negros, principalmente de homens jovens e moradores das regiões periféricas. Os principais alvos dessa política de extermínio/genocídio.

Outro fato importante para compreendermos como se dá os mecanismos de exclusão [população negra] é a questão de acesso ao mercado de trabalho. O estudo “Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil”, em 2018, feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou que 64,2% não tinham emprego formal.

Em outro ponto dos dados coletados, 47,3% estavam em condições de trabalhos informais, ou seja: sem carteira assinada. Enquanto entre os brancos a taxa de subocupados [sem registro] era menor: 34,6%.

 

 

Movimento negro e pauta antirracismo na mídia

A defesa das vidas negras é coordenada e feita por lideranças e, acima de tudo, pelo movimento negro. Há anos que ele está debatendo os graves problemas que afligem os cerca de 56,10% de pessoas que se declaram negras – conforme o último levantamento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), organizado pelo IBGE.

Seja nos movimentos sociais, nas ruas e nos espaços políticos, o trabalho de luta do movimento negro tem sido gigantesco e cada vez mais presente na sociedade. Contrariando falas vazias de quem nunca tentou estudar ou estar perto das reinvindicações do MN. O que sempre faltou foi apoio e senso crítico da branquitude para reverem atitudes racistas e seus privilégios.

E vemos isso dentro dos próprios partidos de esquerda hoje. Poucos abrem espaço para lideranças negras serem candidatos (as). Representações quase nulas; sequer o tema racismo é debatido e colocado na agenda política, ficando, apenas, na prática discursiva de sujeitos brancos vistos como progressistas.

Autocrítica precisa acontecer para que mudanças ocorram; não adianta replicar os conteúdos e demandas de fora se não termos nós mesmos as nossas agendas e pautas alinhadas. O que vimos esses dias foram manifestações da grande mídia repercutindo o caso Floyd e os atos antirracismo, mas pouco falando dos nossos aqui. Sem o mesmo empenho e desdobramentos.

Isso faz com as pessoas adotem posturas contra ações discriminatórias por alguns dias e semanas, entretanto, logo esquecem dessas pautas tão rápido elas saem dos noticiários e manchetes. Ficamos com a sensação de militância de conveniência, quando só cabe questionar o mundo e suas complexidades quando a mídia tradicional resolve debater e gerar conteúdos sobre o assunto.

O mundo virtual também cria essa sensação de pertencimento às pessoas, aonde elas se sentem parte de uma revolução social via Facebook e Instagram. As mídias sociais são caminhos e peças-chave no processo de luta também, todavia, não podemos só nos limitarmos a elas e acharmos que um post ou like são suficientes para discutirmos racismo estrutural.

 

São ferramentas para ampliarmos vozes e expormos nossas visões de mundo e formas de combate. Felizmente, hoje, como bem disse o ator norte-americano, Will Smith, o racismo agora está sendo filmado. Temos mais instrumentais teóricos e meios para enfrentá-lo.

Porém, é necessário engajamento para além dos ambientes virtuais, urge ações que possam ir ao encontro de uma reeducação social. O pensamento antirracista exige que a branquitude tome consciência de suas práticas de violência e exclusão. Que passem a adotar posicionamentos críticos e se entendam como partes vitais na luta por uma sociedade mais justa e democrática.

Porque democracia pressupõe acessos e bem-estar coletivo, sem mecanismos de opressão e silenciamentos do povo preto. Só podemos vislumbrar um país com democracia plena quando o racismo for abolido e recriminado por todos. Não há, de forma alguma, um projeto de nação sem que se discuta os agenciamentos e consolidação de melhoria de vida da população afro-brasileira.

Foto: http://www.lumosjuridico.com.br/2019/07/23/movimento-negro-no-brasil/

 

 

 

 

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NOTA

Não deixe de curtir nossas mídias sociais. Fortaleça a mídia negra e periférica

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