No dia 13 de Abril de 2011, o metalúrgico paulista Paulo Sérgio Ferreira, em protesto solitário e eloquente, escalou o mastro da bandeira nacional na Praça dos Três Poderes em Brasília e ateou fogo no principal símbolo nacional queimando parte dele.
Em depoimento à PF ele se justificou dizendo que foi um “ato para chamar a atenção para as questões raciais no Brasil” e aos jornalistas ele disse que se sentia “perseguido” por ser negro e acusou o Brasil de ser uma “pátria assassina de negros“.
Segundo reportagens à época, agentes da PF teriam chegado à conclusão que ele “sofreria das faculdades mentais”, versão comprada tanto pelos mídias da branquitude dominante como pelas lideranças das entidades e articulações do movimento negro, que se silenciaram em torno do caso, segundo a Afropress.
Preso, ele foi solto no dia seguinte para responder o processo em liberdade graças à pronta pronta ação do ouvidor da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), Carlos Alberto de Souza Silva e Júnior. Não há informações nos mídias sobre quando ele foi julgado pelo heróico ato e, se condenado, qual a pena a ele aplicada, o que revela que o fato não mereceu posterior atenção midiática.
Volvidos onze anos, vale a pena resgatar o protesto solitário, destemido, expressivo e incisivo de Paulo Sérgio Ferreira quando o Brasil se mostrou chocado e envergonhado com a filmada selvática morte do jovem africano Moïse Kabagambe, mais uma na normalizada barbárie contra corpos negros.
O Brasil é sim ”pátria assassina de negros” e o Mapa da Violência está aí para respaldar a acusação. Paulo Sérgio Ferreira é um herói silenciado, talvez o primeiro grande herói negro brasileiro do início deste século. A história o resgatará.
Fotos: Antônio Cruz/Agência Brasil