Pesquisar
Close this search box.

» Post

Pastor causa indignação com fala preconceituosa sobre mães de pessoas autistas

Pastor disse que autismo é “coisa do diabo” e sua fala causou revolta nas redes sociais


Por Danielle Bueno

Essa semana, um vídeo viralizou e muitas pessoas me enviaram esse tal vídeo comentando sobre o absurdo que viram. Fiquei refletindo sobre o que assisti. Eu, que sou uma pessoa que teve a oportunidade de estudar, senti muita raiva, revolta e chorei. Fiquei imaginando como uma mãe que não tem um pingo de instrução pode ter se sentido ao ouvir aquelas palavras. O senhor Washington Almeida deveria ser processado e impedido de exercer seu cargo de pastor na Assembleia de Deus.

Em sua pregação, o pastor disse: “De cada 100 criança que nasce (sic) nós temos um percentual gigantesco de pessoas e ventres manipulados, visitados pela escuridão que distorce, ainda no ventre, as crianças hoje, de cada 100 nós temos aí quase que 30% de autistas em vários graus. O que que está acontecendo pastor Washington? O diabo está visitando o ventre das desprotegidas, daqueles que não têm a graça, a habilidade, a instrumentalidade para saber lidar no mundo espiritual. E ele só procura os vulneráveis, os desassistidos”.

Ora, a Lei nº 13.146/2015 é a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). O artigo 5º assegura que “a pessoa com deficiência será protegida de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, tortura, crueldade, opressão e tratamento desumano ou degradante.” Em parágrafo único, diz que “para os fins da proteção são considerados especialmente vulneráveis a criança, o adolescente, a mulher e o idoso, com deficiência.” Também prevê a punição para quem “praticar, induzir ou incitar discriminação de pessoa em razão de sua deficiência” (Art. 88). A pena é a “reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa“.

Eu, que sou mãe de uma criança atípica, não posso me calar. Uma pregação dessa forma pode gerar opressão e discriminação nas pessoas que são autistas e em suas famílias. 

Quantas mães que assistiram a esse verdadeiro absurdo e que são da Assembleia de Deus (e as que também não fazem parte dessa igreja) não se sentiram culpadas por terem uma criança autista? Quantas mães não acharam que foram fracas e que não oraram o suficiente para terem um filho sem deficiência? Quantas não escutaram de seus maridos que a culpa da deficiência é dela? Essa fala pode despertar imensos gatilhos numa mãe atípica. E isso como se um filho autista fosse um castigo. Meu filho é a personificação do amor, da pureza, do carinho. Se existe diabo, certamente não foi ele que visitou o meu ventre. Meu filho e tantos outros autistas são seres de muita luz.

As pessoas autistas devem ser respeitadas, bem como a sua família, independente do suporte de autismo que essa pessoa necessita. Essas mães, sobretudo precisam ser respeitadas em todas as suas lutas para que seu filho seja incluído na sociedade. Já não basta termos que brigar pela inclusão nas escolas, espaços públicos e privados? Eu sei os olhares que já recebi e as coisas que já escutei em diversas situações da minha vida com meu filho João que tem 11 anos e tem TEA.

O tal pastor, gravou um vídeo pedindo desculpas e retirou o vídeo que viralizou do ar. Em seu Instagram publicou a seguinte pérola: “Venho neste vídeo me retratar, devido à grande repercussão negativa de uma infeliz colocação minha, em um trecho de uma mensagem por mim pregada. Minhas sinceras desculpas, esta não foi a minha intenção JAMAIS, de me referir desta forma negativa em relação aos autistas”. Disse que a fala foi no “calor da mensagem” e que “o ser humano é fadado ao erro”

Estou cansada de pessoas racistas, homofóbicas, machistas, gordofóbicas entre tantas outras formas de preconceitos se desculparem por suas falas dizendo que são humanas e, portanto, são passíveis de erros. Cansada de pedidos de desculpas com a intenção de amenizar suas falas cruéis justificadas pelo fato de estarem aprendendo. Aprendendo o quê? 

Eu espero sinceramente que toda a sociedade reflita sobre situações como essa e que as pessoas que cometem esse tipo de crime sejam punidas. Como diria uma grande amiga minha: “É isso”.

Confira matéria da Revista Fórum sobre a fala do Pastor aqui.

Revisão e edição: Tatiana Oliveira Botosso

NOTA

Não deixe de curtir nossas mídias sociais. Fortaleça a mídia negra e periférica

Esta gostando do conteúdo? Compartilhe!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

» Parceiros

» Posts Recentes

Categorias

Você também pode gostar

plugins premium WordPress

Utilizamos seus dados para analisar e personalizar nossos conteúdos e anúncios durante a sua navegação em nossos sites, em serviços de terceiros e parceiros. Ao navegar pelo site, você autoriza o Jornal Empoderado a coletar tais informações e utiliza-las para estas finalidades. Em caso de dúvidas, acesse nossa Política de Privacidade