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Olímpiadas e Política 

Por Luis Ricas

Um discurso bastante usual no esporte é que não devemos misturar política com as competições. Mas, delimitar aonde se fala ou não sobre política também é um discurso político. A origem do termo, que vem do grego clássico “politiké” que por sua vez deriva da palavra πολιτεία (politeía) que significa: tudo referente a organização das cidades (Pólis).

Manifestações políticas dentro das Olimpíadas

Também vindo da Grécia Antiga, os jogos olímpicos tanto os clássicos quanto os da era atual (a partir de 1896), podem ser  entendidos como uma manifestação de soft power, que significa: uma influência cultural que um Estado exerce sobre a comunidade internacional em oposição ao hard power, que é a guerra ou uma demonstração de poder bélico propriamente dito.

A Olimpíada moderna ganhou força e virou uma realidade depois da derrota francesa na guerra Franco-Prussiana (1870-1871) e seria uma demonstração de força do povo francês e uma ideia de união de todas as nações.

Aí surge o famigerado “espírito olímpico”. Ou seja, tanto a olimpíada clássica quanto a moderna, nasceram de movimentações políticas, demonstração de poder e desenvolvimento de um mercado internacional de bens de consumo, que impulsionoa criação do evento.

A primeira decisão política, que perdurou por décadas, era que os atletas deveriam ser amadores, o que acabou dando uma ênfase aos atletas das classes sociais dominantes. Contudo, a primeira olimpíada moderna foi realizada em 1896 e teve simbolicamente a cidade de Atenas como sede, remetendo à sua inspiração da Grécia Antiga.

Em 1916, 1940 e 1944 não houveram os jogos devido as guerras mundiais, mas a numeração foi continuada. Em 1920 a Antuérpia sediou a VII edição em homenagem ao povo belga, que foi fortemente atacado na primeira grande guerra pelas tropas alemãs.

Entretanto, em 1932 os jogos foram reduzidos devido a Grande Depressão de 1929. Na edição seguinte, uma das mais polêmicas da história, foi reallizada na Alemanha sob o regime nazista, e era uma forma do país sede promover seus ideais racistas. Porém, durante os jogos, houve a orientação de esconder as propagandas e perseguições antissemitas.

O plano quase deu certo, já que o país sede foi o que mais conquistou medalhas naquela edição, mas o grande destaque daquelas Olimpíadas foi Jesse Owens, atleta afro-americano que quebrou recordes e ganhou quatro medalhas de ouro frustrando o discurso de supremacia racial alemão.

No pós-guerra, por exigência da Inglaterra, tanto a Alemanha quanto a União Soviética (URSS), foram boicotadas e impedidas de participarem. Mas, diversos países do chamado bloco soviético participaram, inaugurando a era da Guerra Fria nas Olimpíadas de 1948. Nessa época surge a tal “proibição” de manifestações político-religiosas para os atletas.

A URSS só participaria dos jogos de Helsinque em 1952 e nos jogos seguintes, em 1956 houve diversos boicotes de países contra a presença de Israel e da URSS, por estarem atacando respectivamente Líbano e Hungria, inclusive a semifinal de polo aquático entre URSS e Hungria virou um conflito generalizado na piscina e nas arquibancadas e ficou conhecido como “blood on the water” (que significa sangue na água).

Em Tóquio (1964) a África do Sul foi excluída devido ao regime do apartheid. E foi em 1968 que ocorreu um dos gestos mais emblemáticos das Olimpíadas no pódio dos 200 metros rasos, os medalhistas norte-americanos Tommie Smith (medalha de ouro) e John Carlos (medalha de bronze) fizeram a saudação dos Panteras Negras, sofrendo diversas punições e perseguições pelo gesto. 

A atitude política dos atletas norte-americanos Tommie Smith e John Carlos gerou mal-estar nos Jogos de 1968| Foto: Reprodução / Infoplease.com

Se, na Cidade do México, tivemos o gesto mais simbólico politicamente da era moderna das olimpíadas, na edição seguinte em Munique, tivemos o mais sangrento, quando o grupo Setembro Negro invadiu a vila olimpíca e assassinou 15 atletas de Israel num ato contra a prisão e execução de palestinos pelo referido país. Cinco membros do grupo, um piloto  e um policial também foram abatidos na ação.

Entre 1976 e 1984 teve diversos boicotes devido à Guerra Fria nas três edições, em especial em 1980 onde 61 países se recusaram a participar. No ano de 1988, a Coreia do Norte se recusou a participar devido a edição ser em Seul, que fica na Coreia do Sul.

Um coletivo chamado de Comunidade dos Estados Independentes disputou os jogos de Barcelona, em 1992 devido ao recente colapso da União Soviética. Nas Olímpiads de Sydney, no ano 2000, as delegações da Coreia do Norte e da Coreia do Sul desfilaram juntas sob a mesma bandeira, mesmo com os países em estado de guerra.

Os jogos olímpicos de Pequim, em 2008, tiveram diversos protestos contra sua realização, devido a ocupação do Tibete, contando com uma forte presença policial para evitar protestos. Em 2016, no Rio, foram feitas diversas tentativas de apagar a tocha olímpica, que trás simbolicamente o fogo original da Grécia, em descontentamento com os gastos excessivos para a realização das Olimpíadas no nosso país.

Nas Olimpíadas desse ano (2024), as referências políticas já surgiram na abertura, com a menção às decapitações da aristocracia durante a Revolução Francesa. Diversos protestos têm sido realizados pela presença de Israel, por conta da ocupação e genocídio contra o território e povo palestino. A boxeadora Marcelat Sakobi fez um gesto de uma arma na cabeça e a boca tampada em referência a Guerra do Congo e também está marcada por um forte aparato de segurança para evitar ataques e protestos.

Todos esses atos, ações e decisões mostram que, apesar da proibição formal de se falar em política, as Olimpíadas sempre foram e serão palco dessas manifestações, já que é um evento visto pelo mundo todo e que inevitavelmente traz a geopolítica ao centro da discussão e mostra como tudo é político principalmente os jogos olímpicos.

Linkografia:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Pol%C3%ADtica_nos_Jogos_Ol%C3%ADmpicos
https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/os-fatos-politicos-mais-importantes-da-historia-das-olimpiadas
https://pt.wikipedia.org/wiki/Pol%C3%ADtica
https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_Franco-Prussiana
https://revistaforum.com.br/global/2023/6/22/que-soft-power-entenda-conceito-essencial-das-relaes-internacionais-hoje-em-dia-138149.html

Revisão: Bru Costa dos Santos e Tatiana Oliveira Botosso

Foto de capa: reprodução / gettyimages (Boxeadora protesta nas Olimpíadas contra genocídio no Congo)

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