Passaram alguns dias, e o caso do homem de 38 anos morto por asfixia, em 25 de maio, numa câmara de gás improvisada dentro de uma viatura da Polícia Rodoviária Federal já começa a cair no esquecimento pela mídia. Um caso como este, que chegou a estampar jornais fora do Brasil, deve ainda ser amplamente divulgado. O silenciamento das mídias e das instituições envolvidas colabora para que o racismo continue existindo. Não faltam novos casos de ofensas e injúrias raciais cometidas diariamente , as vítimas são atacadas das mais diversas formas, por pessoas de diferentes classes sociais ou poder aquisitivo. Estas práticas que para alguns são “normalizadas” e aceitas como brincadeiras, são na verdade parte do racismo estrutural , um conjunto de práticas discriminatórias, institucionais, históricas, culturais dentro de uma sociedade que frequentemente privilegia algumas raças em detrimento de outras.
Relembrando o caso
O racismo estrutural que eleva as chances de um negro ser abordado pela polícia, e também segundo pesquisas do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), a chance de um homem negro ser assassinado é quase três vezes maior em comparação a um não negro. No caso de Genivaldo assassinado por agentes do Estado, as imagens gravadas revelam a tortura o levou à morte.
O assassinato que ocorreu no município de Umbaúba (SE) despertou uma série de protestos pelo Brasil, devido a barbárie cometida por aqueles que deveriam manter a lei. A vítima foi abordada pelos agentes da PRF, por conduzir uma moto sem capacete. Os três agentes da PRF imobilizaram Genivaldo, que ajoelhado no chão com as mãos sobre a cabeça foi atingido por gás de pimenta. Sem oferecer resistência, o mesmo foi colocado dentro da viatura algemado.
O uso do capacete é obrigatório para o motorista e para o passageiro. Caso cometa a infração de não usar capacete, o infrator deverá pagar uma multa de R$ 293,47, pontos na Carteira Nacional de Habilitação – CNH e suspensão do direito de dirigir.
Os agentes ao confiarem Genivaldo na viatura, transformaram um carro em uma “câmara de gás”, e este não teria sido um caso isolado no Brasil. Segundo reportagem da Tv Globo, nos últimos 12 anos, há ao menos 18 relatos, em sentenças judiciais, de homens que receberam gás de pimenta enquanto confinados em viaturas de diferentes forças policiais.
Mobilização dos Movimentos Sociais
Dia 30 de maio, uma manifestação ocorreu em frente a PRF no bairro Lagoa Nova, reunindo lideranças e ativistas de vários movimentos populares. O grupo entregou uma carta à superintendência do órgão federal com as seguintes exigências:
Prisão imediata dos assassinos de Genivaldo Santos; a instituição de programas de promoção da igualdade étnico-racial na Polícia Rodoviária Federal, trabalhar coletivamente junto ao Movimento Negro, aos movimentos sociais, conselhos e militantes de direitos humanos e sociedade civil em geral para construir uma outra política de segurança pública e aumentar o controle social nos órgão de segurança pública.
Ativistas exigiam justiça cobravam posicionamento das PRF, para os ativistas, o assassinato de Genivaldo não é um caso isolado, e não há como dissociar sua morte dos crimes de racismo que são todos os dias praticados contra o povo negro.
A carta, compara a violência policial sofrida por Genivaldo aos crimes mais bárbaros da história: a câmara de gás, típica do regime nazista, e a brutalidade do genocídio do povo negro, que perdura há mais de 500 anos no Brasil”. O documento finaliza relembrando que “a luta antirracista é uma luta de todos que acreditam um em Brasil democrático, livre das desigualdades, que respeite os direitos humanos”.
Os efeitos do racismo
Passadas poucas semanas do episódio da câmara de gás, mais ataques de racismo são registrados, como de uma passageira presa por injúria racial em metrô de Belo Horizonte, onde em um vídeo aparece insultando uma família com ofensas racistas. O racismo estrutural demostra como nossa sociedade brasileira se configurou em base racista, favorecem pessoas brancas e desfavorecem negros. Perpetuando o histórico de desigualdade entre brancos e negros, encarceramento na pobreza uma grande parcela da população brasileira que continua tendo seus direitos roubados, desde da abolição da escravatura.
Conforme o levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), que a chance de um homem negro ser assassinado é 2,6 maior na comparação com o não negro. Entre as mulheres negras, esse índice é de 1,7. Quando comparados os anos de 2009 a 2019, as taxas de homicídio tiveram uma redução de 15,5% entre negros e de 30,5% entre amarelos, brancos e indígenas. Ou seja, a queda percentual para os não negros é 50% superior à correspondente à população negra, segundo dados da Agência Senado.
Outro caso recentemente noticiado foi de uma professora que solicitou uma corrida em um aplicativo, e pediu para que o motorista estacionasse o veículo em um local proibido, como ele se negou a fazê-lo, acabou sendo alvo de uma série de ofensas racistas. A Polícia foi acionada, mas como normalmente ocorre , o agressor paga fiança e logo fica solto novamente. Casos como este devem ser reprimidos, para que não aconteça uma situação extrema como a de Genivaldo.