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O turista negro pode e deve descobrir o afroturismo!

Por Laysla Cristine de Souza Ferreira – 20 anos

Toda pessoa negra deveria ter a oportunidade de visitar a África um dia. É uma sensação tão estranha… o estranho fato de que você é uma pessoa padrão, como todas as outras! O seu cabelo é o comum, a sua pele é o comum, o seu corpo é o comum! Às vezes isso é chocante. 

Durante a minha viagem para a África, fiquei chocada com coisas simples como: cabelo para box braids sendo vendido no supermercado, pente-garfo vendido por comerciantes ambulantes e a facilidade para encontrar cremes para o seu tipo de cabelo.

Logo quando cheguei no aeroporto, havia mulheres cantando em comemoração a chegada de alguém importante. Aquilo foi a primeira coisa que me tocou durante a viagem. Eu entendi, naquele momento, um pouco do que os angolanos queriam dizer com “banzo”, pois eu senti um alívio tão grande, percebi que eu sentia muita falta de um lugar… lugar este que eu nunca havia conhecido. 

A academia chama o que eu fiz de turismo diaspórico. Nele, o turista é descendente de uma diáspora e a intenção da viagem é reconectar-se com a sua “identidade ancestral”. No nosso caso (negros brasileiros), somos descendentes da diáspora africana e os nossos cientistas já discutem o nosso turismo diaspórico nomeando-o, especificamente, de afroturismo. 

Neste afroturismo, nós viajamos para destinos em África (nossa terra-mãe) ou até para destinos que consideramos centrais na cultura negra (como Salvador, por exemplo). Isso para nos conectarmos, talvez, com aquela parte em nosso âmago que nos pede para manter a nossa identidade negra, que resiste, às vezes supera ou falha diante do apagamento que nossos ancestrais sofreram.

Visitar Moçambique foi o meu detox. Por 2 meses (período do meu intercâmbio) eu diminuí as minhas ansiedades causadas pelo racismo à brasileira e além de turistar (o que já é ótimo) conhecendo danças tradicionais, praias e principalmente, pessoas, eu pude conhecer uma sociedade pensada para e por pessoas negras. Isso foi fantástico, fiquei pensando “eu quero que minha mãe veja isso, o meu namorado, a minha irmã, minha família, meus amigos… eles adorariam” e isso me levou a outro ponto importante do afroturismo: quem tem o direito de viajar?

O direito de ir e vir, em tese, é constitucionalmente garantido e mesmo assim, o turismo mostra-se uma indústria repetitiva quanto ao reforço de dinâmicas racistas. Não é só o preço que nos afasta de pensar que não podemos viajar (visto que ganhamos menos), mas nós não nos vemos em fotos de publicidade de agências de viagem ou na recepção de um hotel considerado “de luxo”. Pessoas negras, até pouco tempo, simplesmente não eram vistas dentro da dinâmica do turismo, coisa que têm mudado com a pauta da diversidade.

No entanto, aquele Brasil que criou a sua primeira lei antirracista (lei Afonso Arinos) por negar a hospedagem de uma pessoa negra em um hotel ainda existe, mas aprendeu a fazer isso “na miúda”. O nosso afroturismo luta com firmeza quanto a isso, porque para além de nos conectar com a cultura negra, ele movimenta a conta bancária de pessoas pretas que fazem parte desta cadeia: um guia, um quilombo visitado, um hoteleiro, um artesão, um dono de restaurante e por aí vai!

Existem agências de turismo focadas no turismo afrocentrado e, mesmo que viajar para fora do país não seja uma possibilidade, existem vários roteiros afro no nosso país e vale a pena conferir. Devemos, de qualquer forma, lutar contra a ideia de que não podemos viajar (seja por afroturismo ou não), ideia esta difundida sem remorso por quem acha que “empregada doméstica” não deve ir à Disney. Talvez, no fundo, estejamos acreditando neles. 

Permita-se! Permita-nos! Viaje! Passeie! Insira um destino de afroturismo na sua próxima viagem!

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