Campanhas eleitorais correndo por todo o país e cada vez mais ouvimos candidatos que não têm experiência na administração pública dizerem que merecem o nosso voto pelo simples fato de não serem políticos. Logo, subentende-se que são seres ilibados, longe de qualquer suspeita negativa sobre o seu caráter.
Mas o que há de mal nisso? O que há por trás da ideia de ser político ou não político?Vale a pena fazer um exercício rápido e simples antes de qualquer conclusão sobre: Questionar!
Vamos lá…Para que os candidatos cheguem ao posto de candidato por um partido, seja a linha ideológica que for, é necessário passar por uma aprovação interna do partido feita pelos filiados. É preciso ser uma figura forte e representativa, bem articulada, com uma agenda no mínimo firme perante os critérios do partido o qual representa. Frente a este cenário definido, é hora de o partido definir a chapa de coligação com os outros partidos que irão se apoiar na corrida eleitoral.
Chapa definida, coligação definida, hora de angariar aliados na sociedade civil para apoiar a campanha eleitoral. São eles, associações, instituições, grupos de moradores, comunidades, empresários, funcionários dos empresários, escolas de samba, etc.
Chapa definida, coligação definida, público alvo e aliados definidos, é hora do famoso e criativo jingle de campanha, santinhos, cavaletes e demais artefatos permitidos pela lei eleitoral para promover o candidato.
Em qual parte deste processo não há política envolvida?
Atenção para o fato que política neste sentido é a arte de negociação, de incluir o outro, não de excluir. Estamos falando de negociação, articulação. Já a política no sentido técnico burocrático não é nem citado nos discursos deles. Sendo assim, como será a atuação destes candidatos que não se dizem políticos no sentido de articulador, negociador, e nem se dizem políticos no sentido técnico burocrático? Como eles se veem atuando na administração pública sem estas especificidades? Como um prefeito atuará sem articular com a Câmara Municipal? Como fortalecerá a gestão com iniciativas de parcerias e cooperação em políticas públicas? Impossível, pois faz parte do ofício.
Cabe a nós avaliarmos o discurso sem os pré-conceitos limitadores tão em voga atualmente. Política – técnica burocrática – e a política – negociação e articulação –, não são os vilões da história, não definem caráter do individuo que está se candidatando.
Atentar-se ao discurso desconexo é válido. Questionar como aquele candidato chegou ao posto de candidato é necessário. Se informar sobre como funciona minimamente a administração e a gestão pública é indispensável para avaliar e votar no candidato.
Uma cidade não é uma empresa com fins lucrativos, na qual se discute números em uma tabela de balanço mensal. Não deve ser entendida como tal, pois o único valor envolvido é o valor humano, a vida, as necessidades e a sobrevivência digna dos cidadãos que estão em jogo na administração e gestão pública.
Ser um empresário premiado pela Forbes, ser de uma família tradicionalmente conhecida na cidade pela fortuna, ser uma figura publica caricata, não faz do dia para noite um gestor/administrador público. E este é um fenômeno que estamos vendo não só na cidade de São Paulo, como em várias outras cidades do país.
A realidade é muito mais complexa, deve ser levada com seriedade, não com sensacionalismo e marketing político desonesto. Somos dotados da capacidade de questionarmos o nosso entorno. Que façamos uso desta neste momento de penumbra política.