Basta procurar um pouco, entre as araras de roupas e as feiras, bazares e eventos do segmento para perceber quão fértil é o terreno da moda. Temos mulheres negras criando roupas, acessórios e conceitos, o empreendedorismo está galgando espaço entre essas criadoras.
Criadoras que nos permitem outras vivências, outras memórias, outros corpos. A junção de cinco coletivos, várias criações e um desfile, discutindo a moda e a participação da mulher negra.
Frente ao desejo das criadoras dos cinco ateliês envolvidos, nesta mostra, discutiu-se a sociedade através da moda, através da coletividade feminina e fomentou-se o processo de construção criativa entre as mulheres negras.
Além de abrir espaço para a moda de forma mais democrática e inclusiva – uma vez que a mostra é proposta como homenagem ao dia 25 de julho, dia internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha.
Entre os destaques do mês da mulher, ocorreu dia 09 de Março, das 20h às 22h, o pré-lançamento da quarta edição da Mostra de Criadoras em Moda: Mulheres afro-latinas, no Sesc 24 de Maio. Nas três primeiras edições, cada ateliê da capital paulista trabalhou em sua própria coleção, separadamente, para um desfile único ao final.
Nesta edição, buscou-se através da união perfeita de cinco distintos ateliês, Abayomi Ateliê, África Plus Size Brasil, Candaces Moda Afro, Cynthia Mariah e Xongani, uma única coleção que expressa a conexão entre africanidade e afro-brasilidade, bem como percorrer uma trajetória que nasce em referências ancestrais até o futurismo. É preciso conversar sobre o passado dos negros, mas sem deixar de olhar para o futuro.
A fusão dos ateliês acarretou na fusão de identidade entre os coletivos que nos leva a economia criativa e nos dá recursos para o fomento de negócios duradouros e lucrativos.
A sensação de sermos fortes, no sentido fortaleza, embriaga-me de emoção diante deste time de mulheres negras: estilistas, modelistas e costureiras, das convidadas Goya Lopes, designer de superfície e artista plástica e Julia Vidal, designer de moda. Dissipação de conhecimentos através do bate-papo nos permitiu acesso às estratégias, onde “minha idéia” pode ser usada ao longo do processo para fomentar a sua ou até ser “nossa”.
Estilistas negras criaram uma coleção que propõe diálogo entre ancestralidade afro-brasileira e futurismo para o desfile que ocorreu, no dia 17 de março, a céu aberto na região central de São Paulo. Meia hora antes do início do desfile, platéia lotada, correria tradicional, criações “voando” dos cabides, últimos ajustes e retoques no cabelo e na maquiagem, além de sorrisos nervosos.
A rua foi a passarela, território que enalteceu além da exibição nos palcos, as roupas foram feitas a partir das histórias de vida das mulheres que as vestiram. Desencadeando um movimento contrário, buscando olhar a mulher, sua personalidade e depois a roupa. E desmitificar que modelos são apenas “cabides”, o valor não se resume a roupa.
Quem esteve presente, pode ver o retrocesso no desfile, hoje estamos acostumados com modelos com rostos inexpressivos, sem personalidade, resumindo-se “cabides” que andam. Nesta amostra a peça virou criação, a modelo desfilante e toda a ousadia transbordou com o riso, a dança e o sorriso.
Todas as fotos deste desfile disponiveis no link abaixo, evento registrado por Vanderlei Yui.
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Ficha Técnica
Ateliês: Cynthia Mariah, Abayomi Ateliê, África Plus Size Brasil, Xongani e Candaces
Mediação: Manifesto Crespo
Desfilantes: Erica Malunguinho, Celynha Moreira, Ciça Costa, Li Bombom, Evelyn Daisy, Wanessa Yano, Nairobi Ayobami, Lidia Thays, Buh D’Angelo, Dalva Serra
Poetas: Joana Côrtes, Dinha, Kimani, Tatiana Nascimento
DJ: Luana Hansen
Maquiagem: Mika Safro
Costureiras e modelistas: Renata Baptista, Roseli Torres, Thata Vieira e Selma Paiva
Preparadora corporal: Janette Santiago | musicista: Adriana Aragão