Por Jacque Cipriany, advogada popular, ativista em Direitos Humanos, Militante Antirracista e Rapper, integrante do Coletivo Toca dos Rappers.
Jacque Cipriany entrou em contato com o JE e expressou sua vontade de expor traumas do passado baseado em seu falecido pai Jacque é advogada popular, ativista em Direitos Humanos, Militante Antirracista e Rapper, integrante do Coletivo Toca dos Rappers.
Me desculpa, homem preto,
Se eu não entendi teu medo.
Mas tua dor e tua luta…
Também me feriu no peito.
Me desculpa, homem preto,
Vi você no canto, calado demais,
Com o peso do mundo nas costas reais.
Te chamaram de forte, te negaram chorar,
Homem preto não pode fraquejar!
A quebrada te forjou na ausência do afeto,
Na mira da lei, no medo da grade de ferro
E eu te via duro, bruto, sem tato,
Mas era só a dor vestindo o teu fardo.
Me desculpa, homem preto,
Se eu não entendi teu medo.
Mas tua dor e tua luta…
Também me feriu no peito.
Me desculpa, homem preto,
Eu também cresci na guerra silenciosa,
Sendo forte demais pra ser só mulher e rosa.
Te apoiava buscando, respeito lá fora,
Mas aqui dentro, calando a minha história.
Fui tua companheira, escudo e abrigo,
E muitas vezes, teu alvo e inimigo.
Tentei entender tua dor, tua visão,
Mas às vezes tu esquecia que eu também era solidão.
Me desculpa, homem preto,
Se eu não entendi teu medo.
Mas tua dor e tua luta…
Também me feriu no peito.
Me desculpa, homem preto,
A verdade é dura, mas precisa ser dita:
Não é só o sistema que nos deixa ferida.
Se eu não te li com os olhos certos um dia,
Foi porque tu também não leu a minha poesia.
Eu carrego em mim tua história e cicatriz,
Mas mereço ser ouvida e mereço ser feliz.
Se o mundo não te ensinou a me enxergar primeiro,
Hoje eu te digo com afeto verdadeiro:
Me desculpa, homem preto,
Se eu não entendi teu medo…
Mas se em algum momento eu não te acolhi,
Você não me acolheu primeiro.
Me desculpa, homem preto,
Se eu não entendi teu medo…
