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LER É O MELHOR CAMINHO.

A ideia para a realização do livro “Bibliotecári@s negr@s: ação, pesquisa e atuação política” surgiu em 2016, quando Graziela dos Santos Lima e Franciéle Garcês resolveram escrever um livro juntas enquanto faziam parte do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros da Universidade do Estado de Santa Catarina (NEAB-UDESC). “Sentíamos falta de materiais da Biblioteconomia e Ciência da Informação que abordassem pautas, preocupações e obstáculos dos profissionais negros para que pudéssemos entender quais as dificuldades ou possibilidades de atuação que teríamos enquanto bibliotecárias. O único livro que era nossa fonte sobre isso era o “O negro na Biblioteca”, da doutora e bibliotecária negra Francilene Cardoso”, explica Franciéle. Além de Francilene, a organizadora cita como referências Maria Aparecida Moura, da UFMG e Mirian Aquino, da UFPB.

Apesar de estarem em instituições diferentes em 2017, Franciéle no Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) e Graziela na UNESP, a vontade não passou. Resolveram então elaborar uma obra coletiva com bibliotecários negros. Os convites começaram e tiveram uma ótima receptividade. Em 2018, o livro já estava diagramado e apresentado à Associação Catarinense de Bibliotecários (ACB). A proposta foi que o livro fosse publicado pela Editora da Associação e lançado no 36º Painel Biblioteconomia em Santa Catarina, que neste ano foi coordenado pela bibliotecária negra, Andreia Sousa da Silva e contou em sua programação com oficinas, apresentações de trabalho e pautas ligadas às questões da população negra.

Lançamento do livro “Bibliotecári@s Negr@s: ação, pesquisa e atuação política” no 36º Painel Biblioteconomia em Santa Catarina (Fonte: Facebook Franciéle Garcês)

Depois do primeiro livro veio “O protagonismo da Mulher na Biblioteconomia e Ciência da Informação organizado em parceria com Nathália Lima Romeiro. “A ideia surgiu após uma aula que tivemos no IBICT onde foi discutido sobre mulher e ciência. Sempre discutíamos que, embora as mulheres sejam maioria dentro do campo, quando observávamos as palestras, conferências e eventos da área a maioria dos protagonistas eram homens, em especial nos temas relacionados à tecnologia. Assim, esse livro surgiu com objetivo dar visibilidade aos trabalhos, experiências e pesquisas realizadas por bibliotecárias e licenciadas pesquisadoras da Biblioteconomia e Ciência da Informação (pesquisas de mestrado e doutorado). Além disso, queremos também divulgar as experiências das profissionais, uma vez que conhecemos o quanto a luta pelo reconhecimento da mulher na nossa sociedade é cotidiana. Como o nome afirma, o que queríamos era o protagonismo da mulher e frisamos isso durante do o percurso do livro, o que não impediu de termos dois autores para compor o roll de capítulos da obra” explica a organizadora.

O livro recebeu 19 capítulos e foi elaborada uma coletânea dividida em duas seções: A primeira aborda as mulheres como protagonistas na criação de cursos, nas publicações científicas e na atuação dentro da Ciência da Informação e Biblioteconomia. A outra aborda as pesquisas e atuação realizadas pelas mulheres dentro do campo, mostrando a diversidade de trabalhos que as mulheres atuam enquanto pesquisadoras, cientistas e docentes. O livro foi lançado no EDICIC, na Colômbia e no ENANCIB, em Londrina no mês de outubro deste ano e será lançado em Maceío em novembro. “O feedback dos pesquisadores e pesquisadoras dos eventos foi muito positivo e isso concretizou a nossa percepção de que essas pautas precisam ser abordadas e debatidas no nosso campo” sublinha Garcês.

 

 

Lançamento dos livros “O protagonismo da Mulher na Biblioteconomia e Ciência da Informação” no EDICIC em Medelin na Colômbia. (Fonte: Facebook Nathália Romeiro)

 

 

 

Dizendo a que veio

O processo colaborativo para a composição dessa coletânea foi muito natural, de acordo com as organizadoras, cada uma das autoras e autores dos capítulos determinaram sobre quais as pautas e temas iriam abordar e, a partir disso, a organização do livro aproximou capitulos que se complementavam para que a leitura fosse fácil e conectada.

“As dificuldades estão em poder elaborar livros de até 500 páginas que abordassem diversos temas e pesquisas desenvolvidos por bibliotecári@s negr@s e mulheres. Por isso, já estamos elaborando outros volumes de cada um, trazendo outras perspectivas e pesquisas, pois foi impossível trazer todas as pautas para a discussão em um só volume” aponta Franciéle.

Mas a importância de cada obra se apresentou em relação ao que cada uma representa: Para negros e negras bibliotecári@s, o livro Bibliotecári@s negr@s promove a discussão e denúncia de suas pautas, o olhar para os negros e negras enquanto pesquisadores e pesquisadoras e produtores de conhecimento dentro da área. “De sabermos que nossas pautas podem ser apresentadas por nós mesmos, que temos nosso lugar de fala dentro da área e devemos nos apropriar nele”, milita Franciéle. Além disso, a proposta é trazer, não só a representatividade de bibliotecári@s, mas também para técnic@s negr@s em Biblioteconomia. “Significa isso: representatividade!”

O livro Protagonismo da Mulher na Biblioteconomia e Ciência da Informação faz o que se propõe que é promover a mulher cientista, pesquisadora, bibliotecária, licenciada, docente enquanto produtora de conhecimento, atuante e protagonista dentro da história da BCI. O livro conta com pesquisadoras de diversos lugares do país que trouxeram suas pesquisas, suas lutas e os obstáculos enfrentados pelas mulheres dentro das diversas esferas de nossa sociedade, em especial, na ciência. “Acreditamos que esses livros vieram para demarcar o lugar de fala de negr@s e mulheres dentro da Biblioteconomia e Ciência da Informação”.

As obras estão tendo uma aceitação muito boa, embora distintas para cada uma. Enquanto o livro “Bibliotecári@s Negr@s: ação, pesquisa e atuação política” chamou mais atenção de estudantes e bibliotecári@s negr@s tanto nas mídias sociais, quanto nas encomendas do livro físico, o livro “O Protagonismo da Mulher na Biblioteconomia e Ciência da Informação” teve mais aceitação entre mulheres negras, brancas e homens.

“Um fato que chamou atenção foi que, algumas docentes da área pediram para ver o sumário do livro quando divulgamos a obra para ser encomendada antes do lançamento, isso talvez tenha acontecido por ter sido organizado por duas mulheres, uma negra e uma branca, ainda mestrandas. Ou seja, sentimos que há uma hierarquia entre quem produz a ciência, mesmo que seja entre mulheres. Talvez se tivesse sido elaborada por docentes conhecidas da área, o sumário nem teria sido solicitado”, aponta Franciéle.

Em relação aos homens, há a presença de alguns como colaboradores e também aqueles que encomendaram e adquiriram seus exemplares impressos.

Para quem ficou com vontade de participar, diversos outros projetos estão em andamento. Até dia 31/12 as organizadoras estarão recebendo capítulos para o livro “Bibliotecári@s Negr@s” – 2º Volume, organizado novamente por Graziela dos Santos Lima e Franciéle Garcês que trará capítulos escritos por outr@s bibliotecári@s negr@s que querem divulgar suas pesquisas de trabalho de conclusão de curso, mestrado, doutorado ou ações dentro das unidades de informação, além disso, técnic@s negr@s em Biblioteconomia e licenciad@s negr@s em Biblioteconomia. Elas também querem ampliar e colocar bibliotecári@s indígenas na publicação, mas ainda não encontraram nenhum@. Nesse livro, embora o protagonismo seja do bibliotecári@s negr@s e indígenas, poderão participar biblitoecári@s e orientador@s de outros pertencimentos étnicos.
Outro projeto que já está sendo elaborado é o “Epistemologias negras: relações raciais na Biblioteconomia” organizado por Danielle Barroso, Elisângela Gomes, Erinaldo Dias Valério, Graziela dos Santos Lima e por Franciéle Garcês que traz somente capítulos de bibliotecári@s negr@s e engloba estudos, relatos de pesquisas e de experiências dentro do campo de relações raciais interseccionadas com gênero, sexualidade, informação e comunicação.
O terceiro projeto que está sendo elaborado é o segundo volume do “O protagonismo da Mulher na Biblioteconomia e Ciência da Informação” que já começou também a receber capítulos para lançamento no próximo ano.
O quarto projeto é a coleção de minibooks “Mulheres Protagonistas” coordenada por Nathália Romeiro e Franciéle Garcês que contará com diversos mini books de até 150 páginas que abordarão temas como: epistemologia da Biblioteconomia, perspectiva decolonial na organização e representação do conhecimento, branquitude, classificação de informações estatísticas, economia política da informação, mulheres e informação legislativas, entre outros temas escritos sobre a perspectivas das mulheres.

As obras estão disponíveis para download gratuitamente, afinal, muitas das autoras e autores são oriundas e oriundos de universidades públicas e por isso acreditam na distribuição gratuita do conhecimento para todos e todas.

Franciéle encerra lembrando que “como obtivemos muitos pedidos de livro impresso e não conseguimos atender a tod@s informamos que estamos recebendo novas encomendas até dia 10/11/2018. O livro está sob licença creative commons sem fins lucrativos, por esse motivo, a pessoa que desejar seu livro impresso encomenda e paga o preço de custo da impressão e os custos de frete”.

Link para encomenda livro “O protagonismo da mulher na BCI”: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSfV-hy92aq9hqwxphPvANJNBaOw0ZU_ADiZoprH_krMD8MXOQ/viewform

Link para encomenda do livro “Bibliotecári@s Negr@s: ação, pesquisa e atuação política” https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSfV9YgE7f4PyN7o9lmkNU1eNgIjYZuCMb_SD4MhRA3kaMFzQw/viewform

 

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