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Lançamento do livro de Lélia Gonzalez

A biblioteca Mário de Andrade recebeu, domingo dia 22 de julho, o lançamento do livro da ativista Lélia Gonzalez. Uma obra organizada e editada pela União dos Coletivos Pan-Africanistas (UCPA). Já na entrada do salão onde foi apresentado o evento, houve venda de livros não somente de Lélia como de outros (as) autores negros (as) e no saguão principal da biblioteca, uma recepção com lanches, mostrando uma organização ímpar por parte dos colaboradores (as) da UCPA. Houve muitas intervenções desde poetas, como a cantora como Lua, e até uma participação especial de Lenny Blue, ativista co-fundadora do Movimento Negro Unificado (MNU).

AULA MAGNA

Mas o ponto alto da noite foi a aula magna da pesquisadora, historiadora, doutoranda e especialista em L[elia, Raquel Barreto, que veio direto da Cidade Maravilhosa. O que mais chama a atenção em Raquel é sua fala fácil, didática, porém, com muitos conceitos acadêmicos. Foi impressionante a sua explicação sobre a vida e obra da ativista e teórica Lélia Gonzalez, que soube como poucos interpretar o Brasil, encantou os (as) presentes.


Raquel esbanja talento e simpatia. Sua aula relembra uma Lélia forte, intelectual que se descobre negra através da psicanálise e do candomblé, que a ajudaram a se encontrar como negra. Trazer Lélia em livro é dar visibilidade às negras intelectuais que ainda hoje, assim como os negros, são esquecidos até mesmo na academia. Pensadoras como Lélia (Gonzalez) ou (Franz) Fanon não devem apenas ser mencionados nas universidades, mas, sim, devem ter cadeiras cativas nos principais cursos relacionados com humanas.

Raquel Barreto lembrou como era importante ter um livro em primeira pessoa de Lélia quando pesquisava para seu mestrado. E essa obra catalogada e organizada pela UCPA é um resgate em alto nível. Um livro que deve estar na biblioteca de negros(as), estudiosos, ativistas e amantes de uma boa leitura.

SOBRE O LIVRO

Lendo o livro é difícil não se apaixonar por Lélia Gonzalez e sua capacidade de mexer com nosso brio, auto-estima e dizer que o que precisava ser dito. Assim, ela escreve um artigo elogiando o Chacrinha (apresentador da década de 1970/1980), que teve coragem de dizer que existia racismo no Brasil e que as emissoras em que trabalhou, a Tupi e a Globo, criavam uma série restrições a programas como o dele, não permitindo que as câmeras focalizassem diretamente o auditório para que os negros não fossem mostrados, que apenas fossem registrados de costas ou em rápidas passagem.


E ela continua “…Axé pra você, Velho Guerreiro, que nas suas supostas loucuras tem apontado para muitas verdades que as autoridades governamentais, os políticos “progressistas” e os intelectuais idem, não tem a honestidade de assumir…” Luiza Bairros escreve em 1998 o artigo “Lembrando Lélia Gonzalez”, sobre a importância da amiga, militante e intelectual de uma forma primorosa e colocando Lélia no grau de importância de arte para que seu falar fácil, robustez das criticas e seu sorriso de corpo todo não fossem nunca esquecidos.


Lembrou da militante do MNU, da professora da vida e da universidade, da crítica do samba “moderno”, que com Candeia tinha papos sobre as cousas que ela fazia “por ai”, que eram mais importantes do que muito cobra fazia. Lembrou as críticas que fazia em prol da luta da mulher preta e até a esquerda repetidora do mito racial.


Lélia saiu do PT para o PDT por achar esse segundo mais próximo do povo, mas não abandonou seu programa político que nasceu no Partido dos Trabalhadores. Mostrando que sua luta contra o racismo, homofobia e o sexismo e em prol de direitos era alinhada ao seu “compromisso com as lutas do movimento negro que ela ajudou a construir, tendo pouco a ver com as contramarchas da questão racial no interior dos partidos”(pags. 434/435).


Ainda há espaço para Bairros lembrar de Lélia que fala de Amefricanidade e como ela tinha facilidade para usar a psicanálise para curar as relações e tensões até entre “os nossos”, mesmo sendo, como dizia dos brancos de esquerda, “irmãs e irmãos”. Por isso, nessa fração deste LIVRÃO, vale muito a pena tê-lo. Não como enfeite intelectual fetichista, mas como obra a ser lida e consumida. Ou melhor, como uma aula de Lélia, na PUC-RJ ou como papo regado de cerveja e sorriso de corpo todo de quem fez das letras e do pensar a arma mais poderosa da sua época e das que se seguiram.

UM GOL DE PLACA DA UCPA


Se faz necessário novamente agradecer e parabenizar a UCPA pelo trabalho, a professora Raquel pela aula da noite e em especial a própria Lélia, que ainda nos ensina a lutar. Lélia, que foi leitora de cânones como Franz Fanon, Martinica, de Molefi Kete Asante, do psicanalista Jacques-Marie Émile Lacan, do norte-americano William Edward Burghardt “W. E. B.” Du Bois e de grandes personalidades negras da época, foi ativa militante e pensadora do mundo em que vivia.


Assim, discutiu que o tal milagre econômico no Brasil na ditadura só beneficiou a mulher branca e a população negra não teve melhora. E ainda trouxe a provocação que tanto o capitalismo quanto o socialismo não elimina(ram): a discriminação e os problemas para os negros(as). Mulheres intelectuais como Lélia merecem ter livros, peças teatrais, filmes e exposições, assim como outra grande intelectual, pesquisadora e ativista a Maria Beatriz Nascimento, grandes pensadoras que “ousaram”, ainda bem, pensar o mundo.

Lélia merecia uma obra desse tamanho, pois foi militante, guerreira preta, quilombola, antropóloga, filósofa, professora universitária, conferencista, tradutora, ativista do movimento negro e do feminismo negro. Com seu esforço físico e intelectual, deu as bases para a organização da mulher preta e de todo povo preto, como está no ótimo livro que recomendamos para estante de todos e todas.

NOTA

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