Nos textos anteriores já entendemos que Crédito é uma operação de Liquidez, feita para obtenção imediata de moeda. O custo dessa operação é chamado de Juros. Também vimos que podemos colocar os Juros a nosso favor, quando realizamos investimentos como poupança ou tesouro direto. No entanto, sem os devidos cuidados, podem se tornar um grande inimigo de nosso patrimônio.
Seja qual for o caso, os Juros são do tipo composto, calculados em relação ao tempo do crédito e da taxa. Primeiro vamos entender a taxa.
Taxa de Juros
Cada tipo de crédito tem uma taxa específica. Na poupança, ela é determinada por lei. Nos empréstimos e parcelamentos, por exemplo, é determinada pelo próprio banco ou loja. Nos três casos, a Selic, a taxa básica da economia, é um fator importantíssimo. Ela é definida pelo Banco Central através de decisões políticas e econômicas definidas pelo Banco. Usamos o seu valor como ponto de referência para todas as operações de crédito. Em geral, quanto menor a Selic, mais barato será obter um empréstimo. E também menor será o rendimento da poupança.
Já no Tesouro Direto há vários títulos com períodos e taxas diferentes. Mas todos têm uma relação muito forte com a Selic. Inclusive, há o título Tesouro Selic, que paga a mesma taxa definida pelo Banco Central. Outros tipos de renda fixa, como CDBs e LCIs, encontradas muito facilmente em qualquer banco também possuem uma taxa básica: o CDI. Ele é sempre muito próximo da Selic e é determinado diariamente pela média das operações de crédito entre os bancos. É muito importante ter noção da taxa básica, para saber se o Juros que pagamos ou recebemos está de acordo com o mercado.
Se a Selic estiver abaixo de 8,5% ao ano, a poupança paga apenas 70% da Selic. Se estiver acima, paga 0,5%. Hoje, Março de 2021, a Selic está em 2% ao ano. Logo, a poupança paga apenas 1,4% AO ANO (0,2 * 0,7 = 0,014). Ou seja, a cada 100 reais que guardamos na poupança, ao fim do ano teremos R$101,4. Assim fica clara a importância da Selic em nossas vidas. Também fica clara a necessidade de entendermos melhor onde aplicar nosso dinheiro.
Cálculo de Juros Compostos
Em comparação, fiz uma simulação de empréstimo com a Nubank (não patrocinado). A taxa é de 3,25% ao mês. Ela varia para cada cliente, mas serve como ilustração. Vemos como a taxa está ao mês. Agora entenderemos a importância de outro fator para os Juros Compostos: o tempo.
O cálculo é feito dessa forma:
Total Pago = Valor * (1+Taxa) * (1+Taxa) * (1+Taxa)…
Fazemos a multiplicação da taxa repetidas vezes, conforme o tempo. Nosso exemplo é 3,25% ao mês. Vamos supor o empréstimo de R$100 pago ao fim de 6 meses.
Total Pago = R$100 * (1+0,0325) * (1,0325) * (1,0325) * (1,0325) * (1,0325) * (1,0325)
Total Pago = R$100 * (1,0325)6 = R$100 * 1,2115 = R$121,15
Portanto, em apenas seis meses, o empréstimo de R$100 custará R$21,15, uma taxa final de 21,15% ao semestre. Ao ano, reproduzimos a conta acima com o expoente 12 no lugar do 6.
Total Pago = R$100 * (1,0325)12 = R$100 * 1,4678 = R$146,75
Ensinamentos
A taxa de 3,25% ao mês virou 46,78% ao ano. Bem diferente da poupança e da Selic. Quase sempre, pagar Juros Compostos é muito mais caro que os ganhar. Ou seja, investir enquanto se possui dívida é desastroso. Quitar dívida é sempre prioridade. Investimento e dívida são coisas completamente diferentes e não devem ser comparados.
Devemos comparar dívida com dívida, investimento com investimento. Nestas comparações, fica uma lição: para os Juros Compostos, tempo ganha de taxa. Sempre. É uma questão matemática.
Tempo e Taxa
No gráfico acima, aplicamos apenas 100 reais por ano. Um investimento extremamente baixo, apenas para exemplo.
Na linha Azul, a taxa foi de 8% ao longo de 30 anos. Na linha Laranja, a taxa foi de 8% ao longo de 20 anos e acumulou menos da metade. Na linha Amarela, o valor foi aplicado somente por 10 anos.
Porém, para chegar ao valor da linha Azul, foi necessária uma taxa de 45% ao ano. Cabe uma observação: 8% ao ano é uma taxa muito comum e obtida de modo relativamente fácil por qualquer pessoa. Já 45% ao ano, apenas no cartão de crédito.
Tempo e aporte
Já neste caso, na linha Azul, mantemos o investimento anual de 100 reais ao longo dos 30 anos. Na linha Laranja, investimos 100 reais apenas nos 10 primeiros anos e nos 20 anos seguintes, não aplicamos nenhum valor novo. Na linha Amarela, começamos a investir somente dos 10 aos 30 anos, porém aplicamos 100 reais todo ano. A taxa para todos é de 8% ao ano.
Vemos a importância de fazer novas aplicações constantemente e pelo maior tempo possível.
A linha Azul acumulou quase o dobro da linha Amarela, que começou a investir 10 anos depois.
Por outro lado, a linha Amarela, com investimentos constantes, quase alcançou a linha Laranja, que ficou abandonada. Até podemos ver uma “quebra” na direção da linha Laranja, quando ela se separa da linha Azul.
Por fim, falta entender o motivo dos juros variarem no cartão, empréstimos, poupança, Tesouro Direto, apesar das taxas básicas Selic e CDI. Este motivo completa o triângulo básico do mercado financeiro e se chama Risco. E será o tema do próximo texto.