Em abril de 2019 um estudante de nome Paulo Victor, a época com somente 16 anos, após sair da escola com um grupo de sete amigos, pararam na saída do terminal urbano localizado no centro da cidade de Ribeirão Pires, conversando e rindo, quando foi abordado de forma violenta por um GCM, que ainda o teria levado para dentro da Base da GCM que ficava no local e submetido a mais violência física e psicológica.
O jovem relatou ter sofrido agressões físicas ainda na rua, na frente dos amigos e de transeuntes que passavam no local, mas que a tortura psicológica ocorreu dentro da Base – praticada pelo GCM que fez a obordagem e, acompanhando ainda de outro que estava no interior do local, e foi tão intensa que o fez urinar na roupa.
Afirma que os guardas chegaram a dizer que ele teria que limpar a urina com seu boné e zombaram dele, bem como exigiram que o mesmo apresentasse seus documentos e indicasse seu endereço completo, afirmando que ele não poderia omitir qualquer informação aos Agentes.
A mãe do adolescente se dirigiu ao local dos fatos na sequencia e informou os Agentes que o jovem tinha mae, tinha familia e eles não poderiam o tratar daquela forma, questionando se o filho teria sido o único abordado e submetido a violações por ser negro? Sendo tratada de forma ríspida pelos mesmos GCMs que a pouco haviam cometido violência contra seu filho adolescente.
Durante a investigação, a versão da GCM foi “que o rapaz entrou na base voluntariamente e que o motivo foi conversar com ele sobre educação em espaços públicos”. Alegaram também que o jovem urinou na calça por “estar apertado”.
A violência sofrida pelo adolescente foi levada a denúncia na Corregedoria da cidade, registrado boletim de ocorrência, bem levado o caso ao Conselho Tutelar, haja vista o envolvimento de alodescente, no entanto até o presente momento mais de de 2 anos e meio do fato, a vítima e seus familiares continuam sem respostas. A família é acompanhada pela Rede de Proteção e Resistência Contra o Genocidio através da advogada Dra. Jaqueline Aparecida Silva Alves Corrêa.
Nesta sexta-feira dia 05/11/2021 dois dos jovens que estavam junto quanto do ato violento serão ouvidos pela Comissão que investiga o caso na esfera administrativa junto a Secretaria de Segurança Pública local. A demora nas providências em relação ao caso provoca revolta em Paulo e nos seus familiares e amigos, pois evidencia falta de interesse das autoridades de retirar das ruas agentes públicos que cometem crimes contra a população, reforçando o racismo institucional do sistema de segurança pública do Estado. “Foi racismo”, diz Paulo, “o guarda que foi mais violento comigo, antes de se aproximar de mim, um dos meus amigos perguntou o que ele queria e ele afastou meu amigo e disse ‘não é com você, eu quero é aquele ali’, apontando pra mim, mas eu não tinha feito nada diferente de nenhum deles. Ele cismou comigo porque eu era o único negro do grupo.”
Em apoio ao jovem e visando denunciar a totura e a violência dos Agentes, bem como a omissão das autoridades diante do fato, militantes da Rede de Proteção e Resistência Contra o Genocídio promoveram um ato no local onde os jovens foram interpelado pela GCM e seguirão até a Secretaria de Segurança Publica da cidade onde ocorrerá o depoimento das duas testemunhas que presenciaram os fatos de Paulo.
Dados do “Anuário Brasileiro de Segurança Pública”, de 2020, aponta que mesmo com a pandemia da Covid-19 aumentaram os casos de violência policial resultante em morte de civil, os dados levantados tambem apontam que é maior a letalidade entre jovens negros e periféricos. No Grande ABC Paulista, região em que está localizada a cidade de Ribeirão Pires, Santo André e São Bernardo do Campo aparecem no ranking das 50 cidades do Brasil com o maior número absoluto de mortes decorrentes de intervenção policial em 2020.
Por Marisa Feffermann – Rede de Proteção e Resistência Contra o Genocídio.