No último final de semana (5 e 6) a 8° edição do Encontro Nacional dos Jornalistas, Comunicadores e Ativistas Digitais, promovido pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé lotou o auditório do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo.
Esse grande encontro aconteceu uma semana depois da 25° Plenária do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) e o Jornal Empoderado esteve presente nos dois eventos, representado pelo seu Editor Chefe, Anderson Moraes.
O BlogProg é um espaço plural para discutir democratização das mídias alternativas de esquerda, periférica, quilombolas, indígena, negra e que respeitam os direitos humanos.
A atividade reuniu cerca de 160 pessoas – a maioria com menos de 30 anos – de 14 estados diferentes e contou com mesas que debateram conjuntura, inteligência artificial, comunicação popular e comunicação jovem.
CARTA DO 8º ENCONTRO NACIONAL DE COMUNICADORES E ATIVISTAS DIGITAIS
Os desafios colocados para os comunicadores e ativistas digitais que lutam por uma mídia mais diversa, plural e democrática no Brasil são duríssimos.
De um lado, a despeito da derrota na eleição presidencial em 2022, a ultradireita e a máquina de desinformação e ódio bolsonarista seguem a todo vapor. De outro, um governo democrático e popular que contrasta com uma ampla maioria reacionária e mercenária no Congresso, impondo enormes barreiras para emplacar o projeto vitorioso nas urnas.
No meio do caminho, a agenda da luta pela democratização da comunicação, que parece estancada pela famigerada conjuntura. O que fazer, então? Todas as respostas convergem em três tarefas imprescindíveis: organização, mobilização e pressão.
Nós, comunicadores populares, jornalistas, pesquisadores, estudantes e ativistas reunidos no o 8º Encontro Nacional de Comunicadores e Ativistas Digitais nos dias 5 e 6 de julho, em São Paulo, assumimos a responsabilidade de definir e executar estratégias de enfrentamento ao esgoto bolsonarista, às contradições do governo e de ação conjunta na luta por uma comunicação mais democrática.
Para alcançar esses horizontes, estabelecemos os seguinte eixos como prioritários para o próximo período:
- A luta pelo fortalecimento das mídias independentes, comunitárias, periféricas e contra-hegemônicas em geral, que deve ser intensificada em todas as esferas – não apenas no Executivo, mas também em âmbito parlamentar, seja estadual ou municipal, ocupando os espaços de participação social, pressionando as bancadas progressistas e fortalecendo instrumentos e campanhas que visam construir políticas públicas de financiamento para o conjunto dessas mídias.
- Fortalecimento da Comunicação Pública, com mais investimentos e ousadia na condução das iniciativas já existentes, com destaque à Empresa Brasil de Comunicação (EBC), para que possa cumprir seu papel com os devidos arrojo, qualidade e abrangência necessários para disputar audiência oferecendo uma programação distinta à dos meios comerciais. Um caminho pode ser a construção de uma ampla rede de emissoras de rádio e de televisão que ofereçam espaço, através de editais, para conteúdos produzidos pelas mídias independentes, comunitárias, periféricas e contra-hegemônicas em geral.
- Atuação e repercussão da luta pela regulação das plataformas digitais, as chamadas “big techs”, fundamentais para o combate ao ódio e à desinformação a partir do estabelecimento regras e limites ao poder dessas corporações transnacionais ao determinar responsabilidades e transparência quanto às suas políticas de monetização e de algoritmos; o mesmo se aplica à regulação da inteligência artificial, que necessita critérios claros para os rumos de sua utilização e desenvolvimento no país. Para além da regulação, também urge pressionar os governos em todas as esferas para a concepção e o desenvolvimento de plataformas próprias, que reduzam a dependência tecnológica das corporações transnacionais e protejam a soberania digital brasileira. Também sugere-se aproximação com o Observatório do Fediverso, um ambiente com notícias, tutoriais, e curadoria de instâncias para estimular a cultura de uso das tecnologias federadas no Brasil.
- Fortalecer iniciativas, políticas públicas e campanhas de combate à desinformação.
- A partir do jornalismo, do midiativismo e da comunicação popular, amplificar a luta por avanços no governo, por mais democracia e por mais desenvolvimento com soberania e justiça social.
- Acompanhar a proposta de criação de uma Rede de Comunicação Popular, tal como está sendo discutido pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), a partir de proposta apresentada em sua 25ª Plenária Nacional, realizada de 28 a 30 de junho de 2024. A iniciativa visa construir unidade entre o maior número possível de mídias independentes, comunitárias, periféricas e contra-hegemônicas em geral, a fim de formar uma grade de programas em áudio e vídeo com produção de lavra própria. A proposta dialoga com outra emenda, apresentada pelo Portal Desacato, sugerindo a criação de um noticiário unificado e nacional regular, através da web e com repetição simultânea nos canais e plataformas dos veículos participantes, para apresentar o jornalismo independente de cada estado em nível nacional, destacando suas identidades e culturas, com uma curadoria semanal das melhores notícias e entrevistas de cada coletivo jornalístico.
- Aprofundar a discussão sobre a realização da II Conferência Nacional de Comunicação (Confecom).
- Articular e estimular a organização da juventude nos espaços de luta pela democratização da comunicação.
- Realizar encontro, no âmbito do Barão de Itararé, protagonizado pela juventude para debater temas urgentes de seu interesse em intersecção com a luta pela democratização da comunicação.
- Pressionar pela implementação imediata dos Canais da Cidanania.
Os tempos mudaram bastante desde o primeiro Encontro de Blogueiros Progressistas, em 2010. A tecnologia avançou sobre a comunicação e o incipiente movimento dos “blogueiros sujos” ajudou a construir um ecossistema muito mais plural que vai das mídias independentes, seus portais e canais, aos influencers digitais e suas novas formas de comunicar, em plena transformação.
O conjunto desses comunicadores e ativistas digitais tem o dever de buscar unidade na diversidade, respeitando as diferenças de porte, região e linha editorial para que a prática de somar forças e multiplicar esforços nas lutas comuns sejam uma estratégia permanente. Só mobilizados, organizados e solidários uns com os outros seremos capazes de incidir em uma das mais duras batalhas já enfrentadas pelo campo progressista, que agora não é só mais para democratizar a comunicação, mas sim construir uma comunicação e um país que dêem conta de estrangular, de uma vez por todas, a serpente fascista.
São Paulo, 6 de julho de 2024