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Entrevista com Vicente Blood e sua historia de superação e vitoria

O Empoderado falou com Vicente Blood que gentilmente nos atendeu para contar sobre “suas vidas”. Aproveitem, pois Blood é uma lição de vida!

Fale da sua infância e juventude

Tive  uma infância feliz, o fato de morar na casa do meu avô colaborou muito pra isso, pois praticamente todos os fins de semana primos e tios iam até a nossa casa e sempre foram encontros muito divertidos, fora a rua em que morávamos no Jardim Bonfiglioli, na Zona Oeste-SP , que era como se todos fossemos uma mesma família. A transição infância/adolescência já foi bem mais complicada pois saímos de são paulo capital e nos mudamos para cruzeiro SP , onde as brigas entre meus pais eram muito frequentes e financeiramente as coisas se tornaram bem mais difíceis também.

Como foi sua relação com a família?

Tenho uma ótima relação com minha família, tenho 5 irmãos todos homens dos quais sou o terceiro mais velho. Meus pais se separaram após um conturbado período dessas desavenças acima citadas , hoje moramos todos (mãe, irmãos,cunhadas, sobrinhos) em São José dos Campos SP.

Aos 18 você foi pai?Como foi esta experiência?

Uma das melhores experiencias  da minha vida, é óbvio que meus filhos não foram planejados , mas nem por isso deixaram e deixarão de serem amados e vistos por mim como uma verdadeira benção de Deus em minha vida, o nascimento de cada um deles foram fatos preponderantes para o inicio da minha regeneração. Sempre quando ouço alguém falar que filhos são problemas discordo com veemência pois pra mim ser pai ou mãe é dádiva divina.

Como e por que você entra  no mundo do tráfico?

O mundo do crime  em geral é muito tentador , quando falamos em jovens carentes sem a figura  do pai por perto essa tentação é maior ainda, no meu caso agregado a essa realidade  ainda tinha o fato de eu ter uma desculpa pronta ou melhor uma armadilha pronta: a necessidade de fralda e leite para meu recente primeiro filho, então comecei primeiro conhecendo as pessoas já envolvidas , depois fazendo pequenos favores até chegar ao ponto de me envolver efetivamente.

Mulheres, drogas e afastamento da família. Como foi essa fase?

Existem algumas características que são bem presentes na maioria das pessoas envolvidas no crime , dentre elas estão: arrogância,altivez e cegueira para o mundo real isso faz com que na maioria do tempo se queira viver e conviver com pessoas  alinhadas ao mesmo estilo de vida, com isso tudo posso dizer que minha vida era pautada nesses falsos valores, era como se fosse normal usar droga a qualquer hora do dia , deixar de dar valor as pessoas que realmente se importavam comigo.

E ai você é preso?Como foi que aconteceu e o que mudou ?

Estava em um ponto da favela vendendo, quando avistamos os policiais não tivemos tempo de correr, eles revistaram tudo em volta e ao acharem a droga escolheram que dentre nós três quem era o traficante era o “negão”.

Da primeira vez ( que durou 19 dias),  a única coisa que mudou era que agora eu além de ter um maior conceito com a rapaziada pelo fato de não ter caguetado ninguém , eu havia nesses 19 dias bolado um plano para que quando eu voltasse para a favela ganhasse ainda mais dinheiro e foi oque aconteceu. Já da segunda vez  como fui rapidamente condenado, posso dizer que houve uma reflexão se realmente aquele estilo de vida valia apena.

Como nasce a mudança em sua vida?

Em março de 2017 eu já era pai de três lindos meninos de 9, 7 e 5 anos e mesmo não tendo mais nenhum envolvimento direto com o crime ainda era muito viciado em maconha , e nesse momento me encontrava já cansado desta vida que estava levando, foi quando através de um amigo bem próximo na época fui a uma igreja recém chegada na cidade a BOLA DE NEVE, e quando após muita insistência da parte dele fui ao culto, senti uma sensação de amor e acolhimento jamais experimentada por mim antes, neste dia decidi entregar a minha vida para Cristo ali nasceu a mudança.

Fale de seu livro “BLOOD: O PASTOR DAS RUAS”

Trata se de uma autobiografia onde falo do milagre que é eu estar vivo , livre e forte hoje, nele relato com riqueza de detalhes tanto os percalços quanto as bençãos vividas nestas 4 décadas de vida, a maneira como ele foi escrito faz com que o leitor se sinta parte de toda história e adentre em cada parte dele.

O que você pensa sobre jovens que entram no crime mesmo tendo uma família que da amor e atenção?

O que tenho a dizer para esses jovens é que quando se entras nessa vida as pessoas que se ama são as que mais fazemos sofrer, que essas pessoas importantes para você estão mais interessadas na sua volta para casa com a integridade física e moral inalterada do que qualquer quantia em dinheiro que o crime possa lhe fazer levar.

Qual seu maior medo na cadeia?

Não tive tempo e nem dei oportunidade para sentir medo de nada lá não, desde o começo sabia que não me traria benefício algum ser uma pessoa temerosa na cadeia, mas houve um acontecido que jamais sairá da minha cabeça:

Certa vez durante minha primeira detenção na cidade de Caçapava estávamos em uma cela superlotada e parte do contingente da mesma começou a consumir crack, quem já viu pessoalmente o estado em que esses usuários ficam podem imaginar o clima nessa ocasião.

Por que o crime seduz tanto? 

Pela falsa sensação de liberdade, pelo dinheiro teoricamente conquistado sem tanto esforço, pelo ilusório glamour e pelo efetivo plano de marketing.

Do que vc se arrepende?

De não ter a mente que tenho hoje quando meus filhos eram pequenos.

13.Como iniciou no RAP?

Me identifiquei com o rap desde a primeira vez que escutei quando ainda criança em são paulo, músicas como: CORPO FECHADO (THAIDE), RAP DA ABOLIÇÃO ( OS METRALHAS) e NOME DE MENINAS ( PEPEU) foram determinantes para que eu escolhesse o rap como aquilo que eu gostaria de fazer e aprender, comecei cantando essas músicas para mim mesmo e depois entre amigos, mas o inicio efetivo foi em 1994 já em SÃO JOSÉ DOS CAMPOS quando fui a um encontro hip hop e após ir parabenizar um grupo que havia acabado de se apresentar fui surpreendido com o convite dos irmãos para que eu fizesse parte do mesmo, assim nasceu BLOOD NICE ( tradução grotesca para sangue bom), que depois de aproximadamente 15 anos decidi mudar para VICENTE BLOOD , pelo fato unir meu nome de batismo com o vulgo da rua.

Quais suas referencias musicais?

Samba e black music em geral principalmente anos 70/80/90 pela influencia  do que meus pais e irmão mais velho escutava, reggae por ter aprendido a apreciar após participar de uma banda e rap por ser a primeira paixão. Escuto muito também louvores independente do ritmo.

Fale do seu EP solo intitulado “Meu Testemunho”.

Foi um EP gravado em  2014 em uma época em que eu trabalhava durante o dia e fazia curso técnico a noite , conseguindo grava lo apenas no período de férias do curso, mesmo sabendo se tratar de um curto espaço de tempo para a conclusão deste trabalho,  resolvi faze lo ainda assim por entender que naquele momento precisava expor minhas ideias  e meu testemunho de vida através das canções escolhidas.

O que foi fazer parte da SPL (Sociedade dos Poetas Livres)?

Sou rimador, freestyleiro e improvisador desde sempre , como digo em um trecho de uma música nossa: “EU SOU DO TEMPO EM QUE AS RIMAS NEM ERAM PRA VALER BRINCADEIRA DE CRIANÇA GERERÊ GERERÊ”, e participar deste dream team da rima foi algo realmente marcante para minha história, cada encontro era uma sessão pesada de rimas e risadas , acredito que se trata da maior reunião de freestyleiros por metro quadrado já vista rsrsrs.

SPL  é algo orgânico e imortal a qualquer hora podem surgir novidades…

Qual mensagem você deixa para nossos jovens leitores?

Acreditem em vocês!

Eu acredito em vocês!

Mais do que a futura geração vocês são a presente geração e podem chegar aonde quiserem, conquistar oque quiserem. NUNCA permitam que pessoas ou circunstâncias limitem seus sonhos , use os como combustível  para alcançarem suas metas. Contem comigo sempre!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

NOTA

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