A Subseção Diadema, da Ordem dos Advogados do Brasil, recebeu em 27/07, evento de suma importância para debater Gênero e Raça, conquistas e desafios da mulher negra. O Jornal Empoderado esteve presente com nossa fotógrafa, a Iná Henrique. Conversamos com a organização do evento. Leia abaixo:
Jornal Empoderado – Qual a ideia do evento?
A luta das mulheres negras na cidade é contínua e incessante, isto porque, a cidade de Diadema com aproximadamente 429 mil habitantes, segundo o último censo de 2021, mostrou que 49% desta população é mulher, mas que ainda não há representatividade nos espaços de poder dentro do município.
Desta forma, existem diversos movimentos que buscam a paridade. Mas, mesmo que a população feminina seja constituída por 49% dos habitantes, ainda existe muita luta pela frente, pois quando mulheres e suas conquistas e seus espaços de poder são a pauta, a falta de paridade fica aparente. DE fato não há paridade de gênero e nem de raça dentro destes espaços. Se verificarmos o cenário atual, dentro do legislativo de Diadema, o município conta com 21 cadeiras de acesso aos parlamentares, mas apenas uma mulher.
Em se tratando de política de ordem, dentro dos quadros da OAB tivemos uma vitória, isto porque neste triênio 2022-2024, dos cinco diretores, três são mulheres, sendo que duas são Negras, a Doutora Gabriela Cézar e Melo (diretora secretaria adjunta) e a Doutora Flávia Alves de Jesus Ferreira (diretora secretaria geral).
Vale ressaltar que pela primeira vez, a cidade conta com a inclusão de uma mulher negra no executivo, a Vice- Prefeita Patty Ferreira, com mandato de 2020/2024. Muito embora seja uma cidade, constituída por 49% de mulheres entre seus habitantes, ainda dentro destes espaços a realidade é diversa.
Desta forma, a visibilidade e o prestígio da história de luta destas mulheres através da proposta do evento fomenta o protagonismo feminino para que outras se espelhem nas histórias de lutas e conquistas, para a construção de um município com paridade de gênero e raça.
Jornal Empoderado – Quem são as pessoas que organizam o evento?
O evento é idealizado pela Ordem dos Advogados do Brasil 62ª Subseção, em Diadema, através da sua Comissão Temática de Igualdade Racial, presidida pelo Dr. Felipe Melo, e sua Vice-Presidente a Dra. Janaina Martins, com olhar sensível foi observada a necessidade de trazer o tema e o evento para o município.
A comissão ainda conta com duas Advogadas potentes que têm feito a diferença na comarca, sendo a conselheira institucional da comissão e atual diretora secretária adjunta Dra. Gabriela Cézar e Melo, também presidente da comissão de direito médico da subseção e membro do comitê médico da população preta do município de Diadema e a Dra. Sue Helen Circunde, membro efetiva da comissão de igualdade racial da subseção.
E por fim, a comissão conta com o brilhante apoio dos colaboradores André Castro, Paulo Henrique, Marcílio Rodrigo e Robert dos Anjos, acadêmicos de direito.
Jornal Empoderado – Como vocês veem o momento atual do Brasil com as mulheres negras?
O momento atual no Brasil para as mulheres negras ainda é um cenário nebuloso, embora tenha melhorado nos últimos anos, ainda assim está longe do ideal.
No mercado de trabalho, a mulher negra sofre racismo institucional no mercado corporativo vendo seus salários inferiores se comparado às mulheres brancas, sem contar que poucas são as empresas que permitem mulheres pretas participarem e assumirem cargos de liderança.
Em contrapartida, o empreendedorismo tem atingido a mulher negra sendo que a luta por melhores condições de crédito, legalização e regularização da empresa são os maiores desafios, porém como guerreiras que são têm vencido os desafios.
A mulher negra encontra outros desafios com a saúde e enfrentamentos sociais, mas como dito anteriormente as lutas e desafios são gigantes, mas a vontade de vencer ainda é maior.
Hoje colhemos os frutos das lutas de nossos ancestrais e plantamos sementes para as novas gerações.
Esperamos com “E” de esperança que através das lutas e debates chegaremos na equidade de gênero e raça nos espaços de poder, sendo eles no âmbito privado e/ou público.
Jornal Empoderado – Quais os maiores desafios de ser mulher negra na advocacia?
Os desafios da mulher negra na advocacia começa nos bancos acadêmicos, quando ao ingressar nas instituições de ensino superior não encontram muitos colegas negros, momento que questiona-se o lugar de pertencimento.
A conclusão do curso de direito é uma grande vitória, uma vez que muitas mulheres negras enfrentam uma dura rotina, pois trabalham e estudam, isto quando não são mães e esposas.
Como mencionado anteriormente, o mercado de trabalho após a graduação é um enorme desafio, haja vista que os grandes escritórios ainda não têm a cultura da contratação de mulheres, assim quando as contratam não para receber salários inferiores aos salários pagos às mulheres brancas, e os cargos de gestão não de difícil acesso.
Outrossim, merece destaque as tratativas que as mulheres negras recebem por magistrados e promotores, sendo muitas vezes uma forma velada de racismo.
Assim, tem-se que a mulher negra advogada enfrenta dias difíceis, mas também há dias de glória, quando vemos outras mulheres negras se fortalecendo e tendo voz em lugares de destaque, ou até mesmo quando vemos mulheres brancas levantando bandeira de paridade e igualdade.
Jornal Empoderado – Pensando no futuro próximo o que vocês esperam para o próximo governo?
Pensando no futuro, temos que ser sempre otimistas, pois nunca foi fácil e nunca será para a população negra
Acreditamos que mais candidaturas e mais representantes com o olhar sensível para as questões da população negra é o caminho, exercendo assim boas políticas públicas.
Mas para isso é necessário que nós, pretos e pretas, elejamos estes representantes, já que somos 56% da população.
Martin Luther King em sua bela frase expõe que: “Aprendemos a voar como os pássaros e a nadar como os peixes, mas não aprendemos a conviver como irmãos”, nos mostra a importância de estar em unidade para a construção desta paridade e equidade, seja no legislativo, judiciário, executivo e nos quadros da Ordem dos Advogados do Brasil.
Temos um poder que ainda não conseguimos enxergar, por isso não nos furtaremos em lutar pelas nossas ideias e trazer assuntos e pautas como esta para alcançarmos o que nos foi tirado.
Esse evento só foi possível devido a equipe de advogadas e advogados, da CIR – Comissão de Igualdade Racial, da OAB/Diadema.
A noite foi completa com as homenagens à mulheres que fazem a diferença na sociedade. Conheçam as premiadas.
Vice Prefeita, de Diadema, Patricia Ferreira
Empreendedora, mãe solo, formada em Tecnologia em Cosmético, cabeleireira a mais de 25 anos, especializada em colorimetria e em permanente Afro. Vice-Prefeita e Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho.
Dra. Lázara Carvalho
Mãe, advogada e defensora dos Direitos Humanos e das lutas pelos Direitos Sociais. Especialista em Educação nas Relações Étnico Raciais e em Direito das Famílias e Sucessões. Pesquisadora de Comunicação Não Violenta e Justiça Restaurativa. Co-Fundadora do Instituto da Advocacia Negra Brasileira – IANB, Conselheira de Promoção de Igualdade Racial no município de Osasco. Conselheira do Conselho de Execução Penal, previsto no art.61, VII, da LEP, no município de Osasco. Diretora de Regionais do Movimento da Advocacia Independente – MATI, Conselheira Fiscal do Geledés Instituto da Mulher Negra, e Co-Fundadora do Movimento ELO – Incluir e Transformar.
Psicóloga Tânia Maria Pereira da Silva (Tânia Dandara)
Pós-graduada em Gestão Hospitalar e Gestão Pública com Ênfase em Estratégia da Saúde da Família. Integrante do Fórum de Promoção da Igualdade Racial de Diadema “Benedita da Silva”.
Enfermeira Mônica Calazans
Especializada em UTI hospitalar, foi enfermeira no Hospital Emílio Ribas, aos 54 anos de idade foi a 1º mulher a tomar a vacina da Covid 19 no Brasil, vencedora do 1o Prêmio Notáveis, na categoria Herói do Ano.
Dra. Deniva Borges
Advogada e Tesoureira adjunta da OAB/Diadema. Foi homenageda por estar a mais de 30 anos prestando serviços para OAB.
Executiva da Comissão da Igualdade racial OAB/Diadema e participantes do evento.
Nota: Um agradecimento especial o Dr.Felipe Melo – presidente da comissão de igualdade racial de Diadema e a Dra. Sue Helen Circunde, membra efetiva da Comissão de Igualdade Racial da Subseção, e a toda OAB/Diadema, pelo carinho desde do início com o Jornal Empoderado.
Foto: Ina Henrique
Texto: Anderson Moraes, Dra. Sue Helen Circunde, membro efetiva da comissão de igualdade racial da subseção, Dr. Felipe Melo, Dra Gabriela Cezar e Melo (advogada – secretária adjunta da OAB/Diadema) e Dra. Janaina Martins (Vice- Presidente da Comissão de Igualdade Racial da OAB Diadema).
