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A crise de Segurança do Rio de Janeiro e a Falência do modelo atual

       Ao se falar de Brasil no exterior, a primeira visão que um estrangeiro imagina são as belas praias, a festa e o o clima alegre da cidade do Rio de Janeiro, cartão postal mor do Brasil. Fugindo da visão marcada por esteriótipos e ao mesmo tempo, reconhecendo que o Rio de Janeiro foi abençoado em beleza e recursos naturais em abundância, os problemas enfrentados pela capital carioca não são novos, pelo contrário, remontam desde o final do século XIX (com a chegada da Família Real Portuguesa) e atingem seu ápice no meio do século XX, quando o Rio deixou ser capital federal durante os anos de 1960. Os problemas estruturais, dentre eles a falta de moradia , resultaram no surgimento das primeiras favelas que se multiplicaram gerando um contraste surreal com as belas paisagens cariocas, explicitando ainda mais as desigualdades sociais existentes no Brasil. Alvos da especulação imobiliária e de empresários oportunistas que tem na pobreza extrema uma mercadoria para angariar lucros com turistas ensandecidos por “um dia de pobreza”, pessoas humildes e extremamente trabalhadoras sofrem com péssimas condições de vida grande parte, devido a histórica omissão dos governos brasileiros, através de suas três esferas,  em desenvolver políticas públicas de inserção social de longo prazo. Através dessa omissão, durante os anos 1980 surgiu o crime organizado e com ele, as comunidades passaram palcos de disputas destas “forças alternativas”. 

 

       Com a ausência das forças estatais, o cidadão médio das favelas cariocas passou a se “acostumar” com a presença de tais lideranças que, muitas vezes, faziam serviços que, na teoria, deveriam ser feitos pelo Estado como zelar pela segurança pública e pela saúde dos moradores (quantas histórias existem de traficantes que garantiram remédios e outros itens essenciais para cidadãos em necessidade) criando um laço extremamente prejudicial, principalmente aos moradores que, reféns de tais serviços , muitas vezes são obrigados a colaborar com o crime  organizado sob risco de atentados à sua integridade física e moral já que, infelizmente, estão esquecidos pelo Estado brasileiro. Na favela, de fato, existe Estado Mínimo. Neste processo de romantização da criminalidade a polícia, que deveria dar segurança e respaldo à população, passa a ser vista com desconfianças, muitas vezes, alvo de medo por parte dos populares já que, devido as péssimas condições de trabalho, muitos policiais acabam sucumbindo ao mundo da criminalidade, da extorsão, gerando as famosas milicias, agentes fardados que protegem interesses próprios. De um lado traficantes armados até os dentes e do outro, milicianos fardados e com todo poder da impunidade existente neste país e com todos estes males, o que sobra para o morador das comunidades cariocas? O medo e a esperança de que dias melhores virão, sob a batida do funk ou a passos de samba.

 

Na favela, de fato, existe Estado Mínimo.

 

      Se aproveitando da falta de esperança, políticos oportunistas, com discursos rasos de combate à criminalidade mas que nunca vivenciaram a realidade das comunidades, sobem os morros e enganam trabalhadores através falsas promessas que muitas vezes parecem roteiros de filmes de Hollywood.Clamam aos populares que o “caveirão” (tanque blindado do BOPE) seria a saída mais eficaz para dar um pouco de paz aos trabalhadores das comunidades, recebendo aplausos esfuziantes de pessoas simples, que não percebem que por trás de promessas vazias, estão publicitários, ávidos por votos para seus candidatos.  Terminada eleição, estes mesmos salvadores se escondem na orla carioca, esperando mais quatro anos para ludibriar o pobre morador das comunidades carentes. 

 

Clamam aos populares que o “caveirão” (tanque blindado do BOPE) seria a saída mais eficaz para dar um pouco de paz aos trabalhadores das comunidades, recebendo aplausos esfuziantes de pessoas simples, que não percebem que por trás de promessas vazias, estão publicitários, ávidos por votos para seus candidatos.  

 

      O grande problema de se atacar violência com mais violência é que, muitas vezes, quem acaba pagando com a própria vida são inocentes, crianças, mulheres e pais de famílias. Este discurso de combate a violência que vem de cima pra baixo, sem a participação popular, acaba gerando atritos que resultam em abusos e desrespeito aos direitos humanos como a imagem, emblemática,  de crianças negras sendo revistadas no caminho da escola. Será que as crianças da Zona Sul também serão alvo de revistas vexatórias, ainda mais sabendo-se que, muitas vezes, quem financia o tráfico não é morador das comunidades?

 

Será que as crianças da Zona Sul também serão alvo de revistas vexatórias, ainda mais sabendo-se que, muitas vezes, quem financia o tráfico não é morador das comunidades?

 

      A solução para o problema carioca é bem mais complexa do que apenas colocar o exército nas ruas, passa pelo trabalho de “estatização” das comunidades. Através de políticas inclusivas estatais como a criação de escolas, Universidades, programas de geração de emprego e de fomento ao comércio local, através da cultura, dos esportes etc. Não se combate violência com flores mas também, não é jogando gasolina no incêndio que resolveremos a questão. Através de políticas de valorização profissional, com amplo treinamento, é possível aproximar moradores e policiais até porque em muitos casos, o policial que sobe a favela, acaba morando nela. Temos que gerar um sentimento de empatia, de pertencimento, mostrando que nem todo morador das comunidades faz parte do crime organizado e que o cidadão  não pode ter seus direitos cerceados por imposição de um Estado que só entra na favela para matar, nunca para ajudar. 

 

Através de políticas de valorização profissional, com amplo treinamento, é possível aproximar moradores e policiais até porque, em muitos casos, o policial que sobe a favela, acaba morando nela.

 

       O Brasil tem histórico em abafar grandes crises com políticas emergenciais, como o caso clássico da abolição da escravidão onde o negro deixou de ser escravo mas não foi inserido corretamente na sociedade brasileira e o caso da crise de segurança pública do Rio de Janeiro é semelhante. Chama-se a truculência para dar uma resposta rápida a expansão da violência, gerando um clima de paz curto atrelado a uma falsa sensação de segurança, em contrapartida, engavetam-se planos de longo prazo para dar dignidade aos moradores das comunidades. Não se faz política de segurança pública pensando-se em eleições, pelo contrário,faz-se pensando em melhorar a vida do cidadão, garantindo direitos e estabelecendo diálogos e parcerias com as comunidades. Basta analisar que tanto o Comando Vermelho no Rio como o PCC em São Paulo nasceram justamente no período de maior truculência Estatal, no caso carioca durante o final da Ditadura Militar e no caso paulista, pós Massacre do Carandiru.

 

Não se faz política de segurança pública pensando-se em eleições, pelo contrário,faz-se pensando em melhorar a vida do cidadão, garantindo direitos e estabelecendo diálogos e parcerias com as comunidades. 

 

       Precisamos pensar em novas políticas de segurança públicas, políticas inclusivas que auxiliem a fortalecer debates essenciais como a desmilitarização das polícias, a legalização de algumas drogas como a maconha, seguindo o exemplo positivo de alguns países como a Holanda e o Uruguai, o incentivo de programas de moradia popular através dos mutirões, dentre outras ações que já provaram ter eficácia. Com maturidade, sem alarmismos, poderemos resolver de uma vez por todas este grave problema que afeta a vida de milhares de cidadãos cariocas. 

 

 

 

Favela Santa Marta – Morro Sta Marta, Rio de Janeiro
fotos: Robson Regato

 

NOTA

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2 respostas

  1. Prof. Diogo, excelente análise.
    Apresenta explicações para os problemas atuais a partir da sua raiz: país que fez sua riqueza a partir da mão de obra de africanos escravizados, explorados por uma elite que via pouco além do seu nariz e não conseguia enxergar o progresso sem o trabalho escravo.
    Forçado a por fim na escravidão oficial devido a pressões externas e rebeliões internas não favoreceu a integração da população negra na nossa sociedade. Ao se ver livre o negro também se viu sem moradia, sem emprego e sem educação; uma população marginalizada.
    Ao longo dos anos a elite nunca se preocupou em melhorar de fato as condições de vida desse enorme contingente populacional e os problemas foram aumentando chegando ao caos que se encontra o Rio de Janeiro e as periferias de diversos Estados.
    Hoje o descendente de escravo, maioria, se mistura com o branco pobre formando esse quadro terrível com poucas perspectivas a curto prazo.
    Certamente a solução não virá só com o uso da força, se faz necessário sanar aquela pendência que permanece desde 1888: moradia, trabalho e educação, enfim cidadania.
    Prof. Wilson de Oliveira

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