Pesquisar
Close this search box.

» Post

CONVERSAMOS COM A IRMÃ DE ANGOLANA ENCONTRADA MORTA EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

Odete Cambala Cruz, de 36 anos, foi encontrada morta em sua casa (07/07), em São José dos Campos (local que viveu desde 2008). Odete saiu de sua terra natal, Luanda, em Angola, para morar com o companheiro, o diplomata Jean Luc Orsoni (64 anos). Do relacionamento nasceram duas crianças, sendo uma de oito anos (menina) e um bebê de dez meses (menino). 

Após o falecimento de Odete, o ex-companheiro ganhou na justiça poder sepultá-la no Brasil. Posição diferente da família e do Consulado Angolano que queriam seguir o desejo da Odete que a muito tempo pedia ajuda para sair do Brasil e retornar à Angola.

O casal se separou em 2020,-houve um acordo judicial compartilhado pela guarda dos filhos-, entre discussões e tortura psicóloga feitas pelo diplomata que até escondeu os documentos de Odete, para que ela não voltasse para seu país de origem. A vítima chegou a fazer Boletim de Ocorrência contra o ex-companheiro, alegando ameaças e violência doméstica. Cruz alegou em e-mail trocado com o Consulado Angolano e obtido pelo Empoderado que sofreu muito com Jean. Leia trecho do documento:

“Estou em uma situação muito difícil de vida, atualmente me sinto presa a algo que não consigo vencer sozinha, vivo em uma espécie de cárcere privado e infelizmente. Não sei como poder retornar para Angola, tendo em vista que possuo dois filhos com um cônsul francês, radicado no Brasil, na mesma cidade. Trata-se de, Jean Luc Orsoni, o qual fui casada por cerca de 9 anos, temos dois filhos juntos, a ϐilha mais velha se chama Chjara Vitória Orsoni e tem 8 anos atualmente, o segundo e filho mais novo se chama Samuel. Anghujulu Victor Cruz Orsoni com apenas 10 meses de idade.” e continuou: Eramos casados e já tínhamos nossa ϐilha quando Jean foi chamado para trabalhar aqui no Brasil. Assim que chegamos dei a notícia a ele que estava grávida novamente, ele não aceitou tal situação, ficou inconformado e fez de tudo para que eu abortasse, insistiu de todas as formas tendo em vista que ele teria facilidade de viajar para outros países, chegou inclusive a ver quanto ϐficaria o procedimento na França. Nunca aceitei essa possibilidade, o que foi motivo para que entrássemos em grande conflito. Após minha postura firme, ele, inconformado, me manteve praticamente em cárcere privado, escondeu todos os meus documentos e de nossa ϐilha, incluindo meu passaporte, os quais até hoje não me devolveu e passou a ser extremamente agressivo comigo. Após minha postura firme, ele, inconformado, me manteve praticamente em cárcere privado, escondeu todos os meus documentos e de nossa ϐilha, incluindo meu passaporte, os quais até hoje não me devolveu e passou a ser extremamente agressivo comigo.”. Sobre sua situação ainda falou: “A época, com muito esforço consegui ajuda de uma advogada, que propôs uma ação de divórcio, no entanto, a demora de uma decisão justa e o tempo de andamento e existência do processo me fez aceitar um acordo, justamente pensando nos valores dos alimentos a serem prestados, pois não podia esperar pra poder ter algum tipo de renda, não tinha nenhum dinheiro pra colocar alimentos na mesa de meus filhos. Sou só, não tenho ajuda, não conheço muitas pessoas, vivo em situação difícil para arranjar emprego e ainda hoje em dia tenho um ϐilho pequeno, que requer cuidados, pois é bebê ainda.”. (sic)

O Jornal Empoderado conversou com a Maria Judite Cassombe, irmã de Odete.

Jornal Empoderado – Fale um pouco da sua irmã.

Odete era uma mulher meiga, de tacto fácil, extrovertida, amiga dos seus amigos, vaidosa, e uma excelente mãe.

Jornal Empoderado – Ela já relatou que sofreu agressões do ex-marido? O sua irmã falava do Jean?

Bastante. Inúmeras vezes ela relatou as agressões do Jean, quando viviam juntos fazia mesmo em frente à sua filha Tchara, e mesmo divorciados ele não parou Nós temos como provar isto. A Odete era muito inteligente. Registrava tudo e enviava para sua família.

Jornal Empoderado – Por que vocês queriam que ela fosse sepultada em Angola?

Após o divórcio, o desejo da Odete era de voltar para o seu país e poder recuperar a vida que ela deixou aos 17 anos. Sentia muita falta da família e do emprego que tinha cá em Angola. Foi o último desejo da malograda quando em vida. Ninguém contava com esta tragédia. Era uma vontade própria

Jornal Empoderado – Sua família já chegou a entrar com processo para que sua irmã fosse sepultada em Angola?

Jornal Empoderado – Por que o Jean insistiu que ela fosse sepultada no Brasil?

Esta é uma questão que não se cala. Nós inclusive ficamos desiludidos com a atitude do Jean, não nos contactou em nenhum momento. Desrespeitou a nossa dor e o nosso luto como também a vontade da malograda. Nós ligamos para ele quando recebemos a notícia do falecimento, em nenhum momento ele nos contactou, só ele mesmo para responder porque insistiu e persistiu sem notificar a família

Jornal Empoderado – E as crianças com quem ficarão? Você já viu seus sobrinhos? E sua família já viu as crianças?

O Jean é o progenitor. As crianças ficam com ele por direito. Ainda não vi os meus sobrinhos, queria muito estar com eles no momento da notícia do falecimento da mãe deles. Tentei fazer uma vídeo chamada no número dela, sem sucesso. A minha família também não os viu, dói muito isso sabe, os sobrinhos são como filhos.

Jornal Empoderado – Como o Consulado Geral de Angola está ajudando vocês?

Afirmativo. O Consulado Geral de Angola tem ajudado sim, a Odete já estava a ser acompanhada pelo mesmo consulado, foram eles quem encontraram a nossa Irma morta, um desfecho que nem o Consulado esperava. Eles têm trabalhado dias e horas para dar resposta a todas as dúvidas que existem neste triste e lamentável incidente Só temos mesmo a agradecer o empenho e dedicação dado. Muito obrigada.

Jornal Empoderado – Qual o pensamento da família agora?

Dar paz à alma da minha irmã em todos os sentidos.

Por Lenny Blue, integrante da Marcha das Mulheres Negras de SP falou ao Jornal Empoderado:

A morte misteriosa de  mulher angolana, na cidade de São José dos Campos, interior de São Paulo,  que foi encontrada sem vida ao lado do filho de 10 meses em circunstâncias no mínimo misteriosas,   reafirma um dos motes de luta da  Marcha das Mulheres Negras de São Paulo,  compromissadas com  efetivo combate à política de morte que tem como um dos braços o genocídio das mulheres negras através do feminicídio. 

Existem nuances já percebidas em casos semelhante, a saber:1 –  já havia sido registrado um Boletim de Ocorrência por ameaça e violência doméstica contra o ex-companheiro diplomata francês. 2 – o Boletim de Ocorrência não levado a termo face ao seu pedido posterior de fim da medida protetiva, sob a alegação de ‘ter sido apenas uma discussão um pouco mais acalorada , causada ‘pelos hormônios da gravidez’; apesar de estarem em uma em disputa judicial pela guarda compartilhada. 

Nada de novo. Afinal tais agravantes são semelhantes em incontáveis casos, isto é violências psicológicas e físicas prévias de atos de feminicídios e misteriosos assassinatos.

 O diferencial é o fato de que a ‘aversão ao estrangeiro’ perpetrada principalmente contra imigrantes negros – vulneráveis duplamente; que por sua nacionalidade sofrem xenofobia e devido à cor da pele sofrem o racismo, pode interferir na aplicação do direito constitucional do devido processo legal,  que  assegura o direito a todos e todas a um processo com respeito a todas as etapas previstas em lei e todas as garantias constitucionais, sob pena de nulidade.  

Instigadas pelo nosso mote de combate contínuo ao feminicídio , clamamos para que Poder Judiciário seja equânime e considere as nuances de feminicidio na investigação em contraponto ao buraco negro existente na defesa tanto de crimes  de  racismo, feminicidio  e xenofobia. 

Motivadas no combate a política da morte que nos tem como alvo não mais admitimos a naturalização da violência do racismo estrutural contra as mulheres negras. 

Estamos em Marcha por nós, por todos, e ofertamos o bem viver em prol da ‘tal’ “sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos”, apregoada na Constituição Federal.

NOTA: Colaboraram para essa matéria a Marcha das Mulheres Negras, o Consulado de Angola, Dra Karina Lopes e o Dr. Julio Cesar, da Frente Nacional Antirracista e Instituto Luiz Gama!

Mulheres Negras – Símbolo de Resistência

NOTA

Não deixe de curtir nossas mídias sociais. Fortaleça a mídia negra e periférica

Esta gostando do conteúdo? Compartilhe!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

» Parceiros

» Posts Recentes

Categorias

Você também pode gostar

plugins premium WordPress

Utilizamos seus dados para analisar e personalizar nossos conteúdos e anúncios durante a sua navegação em nossos sites, em serviços de terceiros e parceiros. Ao navegar pelo site, você autoriza o Jornal Empoderado a coletar tais informações e utiliza-las para estas finalidades. Em caso de dúvidas, acesse nossa Política de Privacidade