O Jornal Empoderado foi até um sarau, em Diadema/São Paulo, meses atrás e lá ouviu, Jonas Ferraz, um integrante da banda VNRAP – Viciados No Rap cantar uma música que fala de pessoas em situação de rua.
O VNRAP mostra que a periferia é muito talentosa.
Um pouco sobre a banda:
Em meados de agosto de 2004 na cidade de Diadema, grande ABC paulista,o grupo de rap "VICIADOS NO RAP" era fundado por J.Ferraz (compositor/intérprete) e Cristian VNRAP (intérprete) com o intuito de mostrar a realidade periférica através de letras contudentes e batidas pesadas. Em 2005 o grupo gravou sua primeira música intitulada "Tamo chegando", a mesma teve produção de Erick 12 e assim que foi lançada abriu espaços para o grupo participar de eventos na casa do hip-hop da cidade e também fazer apresentações em pequenos eventos da época. Depois de uma parada por motivos particulares de mais ou menos 10 anos, o grupo voltou as suas atividades no ano de 2016 gravando no estúdio K36 com produção de LC mago dos beats outra faixa chamada "Com a faca nos dentes", e depois disso, gravou mais 11 faixas assim fechando seu primeiro disco intitulado " E se não fosse nóiz?" que foi lançado recentemente mais precisamente em dezembro de 2017. O disco contou com as produções de LC e DJ San que entrou no grupo em maio de 2017 sendo fundamental para que o disco fosse feito. Depois dessa volta o grupo também participou de vários projetos e eventos como: O mês do hip-hop, Virada cultural, Lazer na quebrada...e etc , e agora em janeiro de 2018 o grupo lançou seu primeiro clipe, cujo a música do vÃdeo leva o mesmo nome do disco, sendo o mesmo filmado no coletivo 217 e na praça da moça, locais importantes da cidade. E é assim depois de tantas idas e vindas que o grupo continua sua caminhada em busca de um lugar ao sol como tantos outros grupos emergentes.
Hoje recebemos a letra “Ore por mim” e desejamos compartilhar com os (as) nossos (as) leitores (as):
Ore por mim
por (J. Ferraz)
Meu teto é cinza, as vezes estrelado, meu piso é de piche, sem paredes dos lados/as buzinas dos carros me despertam por aqui, os guarda me expulsa, mais não tem como sair/ meus vizinhos ,tão sempre apressados , e só me veem quando peço um trocado/eu não entendo a antipatia deles, não me lembro de ter feito nada com eles/to aqui todo dia , mais não falam comigo, dia desses botaram fogo em um amigo/playboy safado não tinha o que fazer, nazista aliado do estado vai saber/um olho fechado, outro aberto ligeiro, e o vira lata lado a lado fiel escudeiro/exemplo de lealdade, ele vai aonde eu vou, bem diferente de quem me abandonou/me deixou aqui ao relento, ao Deus dará , desde moleque não conheço outro lugar/de vez em quando me aqueço na cachaça, banho quando tomo é no chafariz da praça/vejo fumaça, os mano fumando pedra, infeliz é quem, esse maldito vicio pega/ nessa não me envolvo, tenho medo, ta ruim assim, mais não melhora desse jeito/não discrimino, cada um tem sua verdade, e o seu modo de fugir da realidade/eu não sei ler, mais sei contar, e quantos eu já vi por aqui atracar/ até famílias inteiras, vindas do nordeste, com o sonho de ser feliz no sudeste/e hoje tão em busca de um capital, pra quem sabe um dia voltar pra terra natal/somos invisíveis a margem da riqueza, nos faróis da vida, retrato da incerteza/ de não saber como vai ser daqui pouco, se vou ter que disputar meu almoço no soco/ é só por Deus que a gente resiste, amor é uma palavra que aqui não existe/como sei de tudo isso??? É a vivencia, é tudo uma questão de sobrevivência /foi tudo na marra, sem ninguém pra ensinar, adquiri a sabedoria que um diploma não dá/e você que ta fingindo, que não ta me vendo, sou ser humano, me respeite pelo menos/
Refrão
Lembre de mim, quando for reclamar, lembre de mim, quando com a mãe querer brigar/ ta tudo aí, pare de chorar, apenas ore por mim, quando o inverno chegar/
Viciado em crack, não tive pra onde correr, primeiro trago pra de fome não morrer/não tenho mãe, sou filho daqui, sem documento fui me criando assim/queria ter a chance de um recomeço, saber quem eu sou, será que não mereço?/ de uma família eu quero fazer parte, se reunir com todos num domingão a tarde/não quero grana, só dignidade ,cansei do olhar de nojo da sociedade/sem compaixão, esse é meu modo de pensar ,moldado a cacetada da polícia militar/eles vem seco, batendo pra limpar, e mudar a Cracolandia de lugar/projetos furados ,de gente sem decência, sem propriedade pra falar da minha doença/já que querem limpar, comecem por Brasília , prendam esses lixo, sem nenhuma regalia/não tenho estudo, mais sem muito bem, que tenho a humanidade que vocês não tem/e um coração que no fundo quer paz, calejado, cansado, já sofreu demais/ a palavra do meu Deus e viva e eficaz, e ele ta vendo as maldades que vocês faz/
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