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Como o combate ao ciclo do racismo no futebol europeu, passa pelo nacionalismo de jogadores africanos

A perseguição racista sofrida pelos jogadores negros Saka ,Sancho e Rashford , que perderam pênaltis na final da Eurocopa, mostra como uma grande parte europeia ainda usa do esporte para destilar ódio. Há muito o que se pensar sobre , em pleno século XXI. Isso mostra como uma bandeira dizendo não ao racismo não adianta nada.

O Liverpool este ano iniciou uma campanha contra crimes raciais virtuais, mas só para aí. A Fifa e confederações das ligas europeias não fazem nada de efetivo. Ninguém é punido. Aliás tem um time inglês (Arsenal) ,que já preferiu punir seu próprio atleta por ele se manifestar pelos maltratos que os muçulmanos estavam sofrendo na China ,ao invés de dar apoio a causa. Com isso as torcidas extremistas ganham mais respaldo. Como de costume, essas torcidas organizadas recebem até financiamento ao invés de punição em relação a seus atos radicais. Fora que na Europa a política fascista de alguns governos andam lado a lado com o futebol, só olhar a Rússia e a Hungria, gay praticamente é massacrado. Tudo é mera politicagem.

Agora, se tratando de jogadores africanos ou das ilhas da América Central uma crítica é necessária: Os jogadores com dupla nacionalidade poderiam pensar duas vezes antes de optar pela seleção europeia. É mais fácil fazer como Aubameyang , ser estrela solitária no Gabão. É preciso entender o poder político de optar por não jogar numa seleção europeia . Olhem por exemplo o quão faz bem para o Senegal ter Sadio Mané representando seu país, o cara bota a cara tanto dentro de campo como com projetos sociais em seu país.

Uma coisa a anos fica clara, os europeus adoram colocar a culpa nos jogadores negros , a Itália fez isso com Balotelli. Aqui no Brasil não foi diferente , a Copa de 50 foi assim com o goleiro Barbosa e Mário Filho retrata isso muito bem no seu livro “O negro no futebol brasileiro”, durante anos negros ficaram sem atuar no gol por causa deste caso .

O jogo em si da final da Euro tem mais peso sobre as escolhas do técnico Southgate (Tite britânico) , ele jogou a final toda na retranca , colocou dois dos jogadores que perderam os pênaltis frios, faltando dois minutos para ir para os pênaltis, sendo que o Saka nunca bateu pênalti no profissional.

O fator técnico acaba sendo o menor de uma questão que é estrutural, pois a escravidão que deu origem a essa estrutura racista de hoje foi mundial. Como resquícios dela o negro ainda é visto como o corpo, enquanto o branco é a cabeça. Por isso o sistema branco ainda é capaz de aceitar o negro nas glórias mas discriminá-lo na derrota. Pogba por exemplo tem influência direta no título Mundial de 2018 da França, ele tem ascendência africana de Guiné. Fora o tanto de jogadores africanos e das ilhas caribenhas como astro do Liverpool Van Dijk de origem Suriname, que teve influência direta na Champions recente conquistada. Jadon Sancho que perdeu o pênalti , é filho de pais vindos de Trinidad Tobago. Saka tem origem na Nigéria por meio dos pais. Tem também os irmãos Boateng, Kevin Princ Boateng que sempre se manifestou pela luta antirracista e seu irmão Jerome Boateng zagueiro do Bayern .

Apesar de ambos terem uma origem na Gana pelo seu pai, Princ escolheu jogar pela Gana e Jerome pela Alemanha. Gullit o craque holandês que chega a bater de frente com Ronaldo fenômeno tecnicamente tem origem também no Suriname, sempre foi um líder na luta antirracista mas assim como Virgil decidiu defender a Holanda. Os inúmeros jogadores de origem argelina que tem influência direta em títulos da França também entram nessa lista , mas nesta hora “a França não é para franceses” . Aleas Zidane tem origem argelina .A França de 2018 tinha mais jogadores de origem africana do que francesa . Uma relação antiga , tanto na relação França/Argélia como Holanda/Suriname , relação colonizadora vale ressaltar . Da mesma forma que na relação mercantilista a metrópole ficava com o bem mais precioso da colônia , hoje os times e seleções Europeias usufruem dos jovens talentos africanos e caribenhos no futebol.

Mas felizmente uma luz no fim do túnel se acendeu , o que é a maior forma de manifestação contra este ciclo de servir como mão de obra a quem na derrota te devolve com ingratidão. Callum Hudson-Odoi quer trocar de seleção. Os casos de racismo pós-eurocopa, junto com a conversa com o Presidente de Gana Nana Akufo-Addo, o influenciaram muito , por isso o jogador quer defender Gana, e não Inglaterra. Graças às novas regras da Fifa, que permitem que um jogador com menos de 21 anos e não mais de 3 jogos defendidos por uma seleção, possa defender outra caso queira. Isso é sem dúvidas um dos maiores casos de manifestação .

É necessário que os jogadores saibam o poder de seus corpos, uma fala, um posicionamento. Até porque jogos de futebol tem um valor social e político importante na vida das pessoas, é só lembrar do jogo Brasil e Haiti que parou um conflito no país haitiano.

Por isso uma atitude como a do Callum é significativa , pois além de funcionar como um possível efeito dominó , este pode ser o início do fortalecimento de seleções africanas e consequentemente enfraquecimento das europeias ( Espanha , Inglaterra ,Bélgica ,França ,Holanda,Itália,Alemanha entre outras que marcaram a história com títulos com contribuição direta de jogadores de origem africana e caribenha além de ainda serem compostas por grande parte de jogadores destas regiões ) e por engajar ainda mais seus atletas nas lutas antirracistas e sociais de seus países, visto a ineficiência das grandes entidades . Seus corpos são políticos, por isso fora da visão racista não sejamos o corpo como lucro deles e sim uma outra ressignificação fora da visão ocidental. O corpo africano é sagrado .

Pedro Vinícius Lobo Gomes — é morador do Complexo da Mangueirinha em Duque de Caxias, RJ. É militante de movimentos sociais, ativista de direitos humanos, cronista da favela, Vascaíno e  colunista Zecornetatv

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