Mais uma vez presenciamos no BBB uma cena de intolerância religiosa. Na ocasião em questão o participante Douglas Silva insinuou que a participante Linn da Quebrada teria dado um dos fios da sua trança para um outro participante e que por isso ele não estaria dormindo, porque seria uma “mandinga”, popularmente também conhecido como “macumba”.
Link da fala do Douglas!
O caso em questão não está distante das realidades encaradas por boa parte dos adeptos das religiões de matrizes africanas. Mas antes de sairmos por aí apontando ou julgando os envolvidos precisamos pontuar que intolerância religiosa é crime! Mas aí vocês podem, de forma indireta, dizer “Ué? mas não houve agressão!” e eu lhes responderia que “sim” indiretamente não aconteceu uma agressão direta, entretanto é aí, nas agressões indireta, que as intolerâncias cotidianas são gestadas, reatualizadas e proferidas.
Ser chamado de “mandingueiro” ou “macumbeiro” rememora um período da história do Brasil em que liberdade religiosa não era uma realidade para os adeptos das religiões de matrizes africanas. E tais “adjetivos” além de configurar um desconhecimento das práticas religiosas de matrizes africanas também remontam todo um passado colonial de preconceito sobre as práticas espirituais das pessoas africanas em África e em diaspora forçada, para as Américas e para a Europa, na condição de escravizados. Infelizmente a intolerância religiosa está entranhada nas nossas relações sociais cotidianas, culturais, políticas e econômicas, e é ela, a intolerância, que vem se apresentando como um dos nossos maiores desafios contemporâneos diante das possibilidades para a promoção e o fortalecimento das tolerâncias e das equidades religiosas.
Como bem podemos constatar, através das narrativas e dos fatos históricos, somos educados, desde a primeira infância, dentro das construções coloniais que impossibilita qualquer construções voltadas para as diversidades e para as tolerâncias.
Destarte, o preconceito, a discriminação e a intolerância religiosa continuam sendo um fatores recorrente na história das religiões na sociedade brasileira desde o período colonial, mesmo por parte de pessoas engajadas nas lutas antirracismo. Pois a prática da intolerância religiosa, enquanto produto e herança do colonialismo europeu no Brasil, pressupõem uma superioridade religiosa que não está necessariamente ligada à cor da pele, mas sim à espiritual e cultural.
Quero aqui terminar minha brevíssima análise chamando a atenção para ao fato de que o participante do reality show, Douglas Silva, apontado como possível praticante de caso de intolerância, também foi vítima de descriminação nas redes sociais e as construção preconceituosos, ligadas à ideias eugênicas, que caem sobre o seu corpo preto também recaem sobre os adeptos das religiões de matrizes africanas.
Algo que nos levam a compreender que independente da confissão e pertença religiosa as pessoas negras e os antirracistas precisam assumir um compromisso em prol das liberdades, das diversidades e do Estados laico, pois a intolerância religiosa também é um mecanismo de exclusão. E onde há intolerância religiosa e racismo não há democracia.
“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, ou por sua origem, ou sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se elas aprendem a odiar, podem ser ensinadas a amar, pois o amor chega mais naturalmente ao coração humano do que o seu oposto. A bondade humana é uma chama que pode ser oculta, jamais extinta” Long Walk to Freedom, Nelson Mandela (1965).
Por Rozangela Silva