A semana foi a prova que a população negra só precisa de oportunidade e investimento para mostrar ao mundo seu real potencial.
Falemos da importância desse filme “Estrela Solitária” no contexto de produção artística e como essa obra ajuda a abrir diálogo quando temos um país que ainda não saiu dos ideais escravocratas e todo dia tenta apagar a memória e história negra.
Quando Marco Antônio Fera, idealizador da obra artística, traz luz sobre temas como homossexualidade e negritude, com sua maioria de figurantes negros e negras ele trata de frente o aspecto de embranquecimento do cinema nacional. E ainda expõem a ferida dizendo que os incomodados são aqueles que sempre tiveram privilégios e hoje temem perder sua posição “herdada e roubada”, muitas vezes.
Marco ousa ao trazer temas que ajudam a dar voz a grupos marginalizados, além de dar oportunidade de visibilizar tantos rostos negros e negras em uma época que representatividade importa e muito.
O projeto de branqueamento do país em vários aspectos ajudou criar estereótipos que hoje são tratados como odiosos e devem ser apagados da história negra e do país. E mostrar que nem tudo é “piada”.
Como nos aponta Marco Aurélio da Conceição Correa no Justificando: “Vivemos em tempos sombrios, tempos onde as diferenças são cada vez menos respeitadas, tempos onde direitos sociais são cada vez mais atacados por gritos de ódio e intolerância. Porém, mesmo dentro dessa neblina de poeira emerge um movimento que nos dá esperanças. O cinema negro emerge e levanta, o cinema negro é o hoje, é o agora. E este levante assusta, dá medo, cria alvoroço dentro de uma sociedade que está bem conformada com suas desigualdades raciais.”.
A construção identitária do Brasil passa pelo entendimento que existe a necessidade de destruir o imaginário racista tão absorvido até por quem hoje se chama de “descontruído” e acredita não ser racista mesmo praticando (in) conscientemente racismo estrutural na sua vida e entre os seus.
E para dar cara preta a essa produção estiveram presentes esta semana, para serem figurantes do Filme “Estrela Solitária” de forma solidária e animada: Cristiane Costa, Kathia Ferraz, Clika Coelho, Leticiah Santos, Hillary Nascimento, Patricia Carneiro, Guilherme Françoso, Luciene Santos, Yzi Pretinha, Alan Vinicius e Izelma Jesus entre outras negras e negros na região do Butantã.
O filme terá uma interessante abordagem e um conjunto de reflexões sobre a masculinidade negra e sobre outras face tão silenciada, mesmo entre nós: homens pretos gays. Talvez essa abordagem nos provoque a pensar em outros silêncios entre nós, afinal, somos homens negros dentro da comunidade LGBTQ+
A partir da chamada feita pelo JE, do filme “Estrela Solitária”, inúmeras pessoas se mostraram interessadas e foram ser figurantes de forma solidaria e animada. Ali estavam pessoas que viram a importância desse filme para o cinema nacional independente. E isso ficou visível nas observações de quem participou das filmagens:
“Eu gostei, achei organizado. A interação da produção conosco foi muito boa. E o filme por falar da homossexualidade e negritude é muito importante, para nossa sociedade. Resumindo: Amei!” – por Yzi Pretinha
“Sou grata e me senti representada envolvida. E que rendeu boas conversas e futuros projetos. Gratidão” – Izelma de Jesus
E, por fim, como diz o idealizador e diretor do filme, o Marco: “Estrela Solitária agora passa a ser um sonho muito mais coletivo. Um sonho de igualdade, força, beleza, luz e amor! Um filme negro que vai falar de amor, beleza, alegria…”. Como diz o canto “Povo negro unido é povo negro forte”.
O Empoderado não só apoia esta empreitada cinematográfica como acredita que em um momento que o país vive será a arte, a educação e mídia independente que serão a forma que luta e sobrevivência da população negra e vulnerável.
Fotos: Jamaica, Guilherme Françoso, Yzi Pretinha, Kathia Ferraz e Clio Coelho.
Respostas de 2
Fantástica iniciativa e matéria excelente! Parabéns ao jornal e a todos os envolvidos.
Obrigado, Alexandre por nos acompanhar e continue junto com a gente em 2019!