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Ao retomarmos as historiografias oficiais, observamos um tom tendencioso que naturaliza as violências e busca silenciar, velar e apagar a participação das mulheres negras no desenvolvimento do território brasileiro. Assim como deslegitimar o protagonismo dos enfretamentos das resistências cotidianas, prevalecendo a narrativa histórica dos colonizadores.

Em um território onde as mulheres negras já iniciaram suas travessias marcadas pelas múltiplas faces da violência, seja pelo sexo, pelo estupro, elas experimentavam a igualdade com os homens nas surras, na força, na produção, nas chibatadas e na morte. Para as mulheres negras escravizadas, a maternidade se consolidava como uma estratégia contra a fome e a miséria.

Ficavam incumbidas de serem amas dos filhos dos escravagistas, para além de alimentar fisicamente, essas mulheres eram educadoras, de modo que antes dos meninos e meninas brancas serem considerados senhores, donos das terras e dos

humanos, estavam sob cuidados das negras que ensinaram as primeiras palavras, passos, canções, histórias e se dispuseram as primeiras brincadeiras na infância, sendo as primeiras educadoras desse país.

As grandes contribuições do povo negro para o patrimônio cultural, histórico, intelectual, político, de resistência no Brasil não são legitimados ainda prevalece a tecnologia da morte, que continua em modo ativo: o corpo negro é um corpo que pode sumir (o assassinato de João Pedro e Amarildo, ambos ocorrido na cidade de Rio de Janeiro); a sofisticação da escravidão; o ser social transformado em mercadoria; a raça negra está disponível para a morte ( a morte do Miguel, de apenas 5 anos em Recife, PE), a repetição diária da Casa Grande e Senzala, onde as mulheres negras que foram escravizadas não poderiam ficar com seus os filhos, mas criavam os filhos das Sinhás.

Dos 12,8 milhões desempregados no Brasil, 64,3% são negros, 64% da população carcerária é composta por negros e pardos. A cada 23 (vinte e três) minutos um jovem negro é assassinado no Brasil. As mulheres negras são as principais vítimas de violência doméstica, feminicídio e violência obstétrica nesse país.  Cláudia Ferreira foi arrastada por 400 (quatrocentos) metros pelo carro da polícia, Ágata Felix de 8 (oito) anos morta com os tiros nas costas. Foram 27 (vinte e sete) mortos na chacina do Jacarezinho, alguns deles com suas faces dilaceradas. Yan e Bruno Barros mortos com sinais de tortura pelo roubo de carne. Aonde estão as três crianças negras desaparecidas em Belford Roxo no Rio de Janeiro?

Foram oitenta tiros disparados contra o carro do músico Evaldo, que passeava com sua família, importante relembrar que a primeira morte de Coronavírus registrada no país foi de Dona Cleonice Gonçalves, empregada doméstica que estava trabalhando na casa da “patroa”, recém-chegada de uma temporada na Europa. A “patroa” viera infectada, mas manteve sua funcionária no trabalho, condições abusivas expõe os corpos negros à precarização e a morte.

Mulheres negras foram programadas nessa máquina de mortes para não pensar, para ocupar espaços precarizados, com péssimas condições de sobrevivência, violências essas que ajudam a prevalecer a cultura do silenciamento das mulheres negras na falácia da democracia racial, omitidas dos livros de histórias que preservam a versão de ordem e progresso da branquitude.

Na contemporaneidade, o projeto de genocídio da população negra permanece intacto. A senzala ainda é viva, concreta e jorra sangue. Nesse lugar, arquitetado pelo Estado e legitimado socialmente, onde os detentores dos meios de produção não têm limites, visto que literalmente pisam na cabeça de negro pobre (assim como aconteceu no caso George Floyd, em Minneapolis – EUA).

Nesse contexto, a cultura arraigada associa a população negra como desprovidos de intelecto e portadores de força braçal, com estereótipo de alta periculosidade, todavia, ainda sobrevivem em um país que a todo momento persiste em negar sua história e suas raízes de miscigenação, priorizando os valores burgueses e elitistas que apertam o gatilho a cada segundo. Sob a percepção de “a carne negra é a mais barata no mercado”, pergunta-se: a escravidão foi abolida de fato?

O projeto de genocídio da população negra permanece intacto, são tempos difíceis para aqueles que acreditam em uma nova forma de sociabilidade com valores emancipatórios, livre de qualquer opressão, exploração, discriminação de classe, raça e gênero, mas os nossos corpos resistem, pois nossas almas são de luta.

Acesse o Instragram do Coletivo de Pesquisadoras(es) Negras(os) Neusa Santos

NOTA

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