Um relato apaixonado da torcedora e colaboradora do “JE” Dona Maria Angélica, após o clássico Corinthians 0 x 4 São Paulo.
Se a torcida é um bando de loucos, no gramado do Morumbi tinha um bando de frouxos, um time sem vontade, sem alma e sem respeito à camisa do Timão. Um time sem dignidade, como reconheceu um dos jogadores, um time amorfo, desorganizado, desarticulado, atrapalhado e desmotivado.
Nossa defesa é uma peneira, só tem buracos. Não importa quem atue, o resultado é sempre o mesmo. Parece que estão fazendo rodizio para cometer um pênalti. Não temos um volante de contenção para proteger a zaga. O meio campo não desarma, não arma e não cria e o ataque não passa de um ataque de nervos para nós torcedores e de um ataque de risos para os adversários. Nosso time, atualmente, vive de uns breves lampejos individuais e das falhas dos adversários. Tem jogador que parece estar na passarela, pois desfila em campo. Uns são displicentes, outros afobados e o time todo desorganizado. É um coro desafinado e dissonante. Parece que não tem maestro ou então, tem um maestro sem diapasão.
O jogo foi pior que um filme de terror, um halloween meio atrasado no qual nossos jogadores mais pareciam meninos assustados tremendo de medo, paralisados e apenas assistindo, sem reação, as bolas entrarem no gol. E após o jogo, não faltaram justificativas, desculpas, xingamentos e até palavrões, como se o que aconteceu fosse um acidente de percurso e não uma situação recorrente na temporada.
Ao invés de assumir sua responsabilidade, o técnico culpou o juiz pela goleada, afirmando que o gol decorrente de um pênalti que não existiu desestabilizou a equipe. Ao terceirizar o fracasso do time, Oswaldo tentou livrar-se do vexame jogando a responsabilidade, que também é sua, nos outros, ignorando que time bom tem a capacidade de reagir mesmo levando um gol de pênalti que não existiu. Time que tem qualidade reage e mostra que para vencer não precisa da ajuda do juiz. Willians pediu desculpas ao torcedor, Fagner falou que faltou dignidade, no que ele está certo, pois faltou mesmo, e Cássio saiu xingando e soltando palavrões. Saíram do campo lamentando, mas não assumiram seus erros individuais e coletivos. Tanta indignação deveria ser com eles mesmos, protagonistas do vexame. Nós, torcedores não queremos desculpas nem lamentações.
Queremos apenas que respeitem a camisa do Timão e no mínimo que façam jus aos seus altos salários e mordomias.
Queremos ver jogador se doar em campo e não esse bando de frouxos fazendo tudo errado e se lamentando como meninos mimados e malcriados.
Mas, reconheço que a responsabilidade não é somente do técnico e dos jogadores. A responsabilidade maior é da diretoria que promoveu os desmanches e não repôs à altura. E de quem permitiu que o time perdesse mais de 20 jogadores e boa parte de sua comissão técnica e na hora da reposição das peças perdidas compraram na xepa da feira e, sem bons cozinheiros, não conseguem nem fazer um sopão.
Alguns, inclusive a diretoria, talvez para eximir-se de suas responsabilidades, acharam que o problema era o técnico e depois da ida do Tite para a seleção e do segundo desmanche de jogadores do ano, partiram para o troca troca e de nada adiantou. Embora corresponsáveis, os técnicos não são os vilões do nosso fracasso em 2016. Eles são efeitos e não a causa do problema. Nesse time limitado, amorfo e sem vontade, o problema maior não era o Cristóvão, o Carille e, atualmente, não é o Oswaldo. Com esse elenco nem Guardiola, Mourinho e Simeone juntos dariam jeito.
O time é o reflexo da omissão, da incompetência e do descompromisso da diretoria e do grupo que a bancou. Problemas e escândalos pipocam em todos os setores, no clube social, na Arena, no marketing e no financeiro, em prejuízo da imagem do Corinthians e com reflexos no desempenho em campo. E o futebol, carro chefe e vitrina do SCCP, é o mais prejudicado.
Temos um elenco que, além de tecnicamente limitado, com raríssimas exceções, atua sem vontade e determinação. Embora tenhamos a base mais vencedora do país, pouco aproveitamos nossas revelações, vendendo mal e precocemente nossas possíveis promessas, favorecendo apenas os empresários dos garotos. Aqueles que sobem para o profissional não ficam nem no banco, enquanto os que subiram de outros times são colocados para jogar e fazem gols, inclusive contra nós. Os nossos garotos, preservados para não serem queimados, só treinam e não jogam. E isso tem sido com todos os técnicos.
Como contratamos mal, precisamos reconstruir o time. Do elenco que temos, pouco se aproveita. Tem que fazer uma limpa e, como não temos dinheiro para investir em grandes talentos, que se contrate pelo menos três bons jogadores para serem referência na defesa, no meio campo e no ataque e coloque os garotos que vieram da base para jogar. Eles não são piores do que muitos dos que estão no time e atuarão com mais vontade, pois precisam conquistar vitórias para alavancar suas carreiras. A maioria dos jogadores atuais está acomodada, desmotivada e não têm amor nem respeito à nossa camisa. Falta vontade e falta referência para os mais novos e inexperientes. Falta profissionalismo e amor à camisa.
A ação nefasta da diretoria levou-nos à situação vexatória de termos que agradecer por não corrermos o risco de cair. E de sermos ameaçados de ficar fora da Copa Libertadores, mesmo após a zona de classificação ter passado de G4 para G6. Quanto à possibilidade de classificação eu tenho algumas dúvidas:
Uma classificação na bacia das almas significa que estamos aptos para o torneio continental?
Vai ter dinheiro para reforçar o time para garantir uma atuação digna, eficaz e eficiente?
Ou vamos passar vergonha e cair na fase preliminar?
Tal classificação não serviria para abafar os desmandos da diretoria, camuflando os problemas que enfrentamos?
Como torcedora apaixonada quero que o Corinthians participe e tenha sucesso, mas a vontade da torcida será suficiente para alavancar o time? Ou se for para passar vexame seria melhor não se classificar?
O que deverá prevalecer, a paixão ou a razão?
Diante de tantas dúvidas e incertezas, precisamos ter o bom senso de não confundir o Corinthians com seus dirigentes e com os profissionais que nele atuam. E a certeza que o Corinthians é maior que todos eles. Eles passam, o Corinthians fica. Eles desmancham o time, mas jamais conseguirão destruir o Corinthians nem o nosso corinthianismo.
Acompanhe também, mais artigos em: http://timaoparasempre.blogspot.com.br