Um grupo de ativistas negros ocuparam hoje(05/12) o Carrefour Demarchi, em São Bernardo do Campo, no ABC/São Paulo com faixas, cartazes e leram um manifesto contra os últimos acontecimentos na rede francesa entre eles o brutal assassinato de João Alberto Silveira Freitas, em Porto Alegre.
O grupo se fez ouvir literalmente em sua carta de manifesto. Leia a carta na íntegra:
Tempos sombrios… O fantasma do período colonial ressurge: um ódio violento e sangrento, motivado e reafirmado pelo VICE-PRESIDENTE da República, juntamente com o atual PRESIDENTE, dizem ao mundo: “No Brasil não existe racismo”. Mas como não existe racismo?
Na véspera do Dia Nacional da Consciência Negra, onde saudamos a história do Quilombo dos Palmares e seus líderes, Zumbi e Dandara, vimos nossos heróis e heroínas serem reverenciados com requintes de crueldade por um crime brutal ancorado no racismo, a morte de João Alberto Silveira Freitas (Beto Freitas), dentro da rede Carrefour.
A vítima poderia ser qualquer um de nós, mais existe um agravante: O racismo que impera dentro do imaginário da sociedade reporta a antigas ideias para população negra.
Olhamos para o nosso município com as desocupações que vem ocorrendo nas últimas semanas, em que sua maioria das pessoas que estão ficando desalojadas são negras. A não preocupação, o descaso, a invisibilidade da população negra são constantes há séculos.
Voltando a esse espaço do Carrefour, uma pessoa branca, teria outro tratamento, pois a sociedade não vê pessoas brancas como “perigosas” ou “suspeitas”.
O assassinato de Beto tem ligação direta com o RACISMO, o ódio por trás dessa tragédia, demonstra o quanto a população negra é considerada desprezível, invisível e propicia a ser descartada.
Equipes de seguranças nos supermercados, shoppings, demonstram o racismo estrutural que vivemos. Não esquecemos jamais do adolescente negro chicoteado no supermercado Ricoy.
Não negociamos Vidas, o Carrefour é reincidente em suas práticas racistas. A Empresa VECTOR é a responsável pelos seguranças que assassinaram o Beto!!! A terceirização dos serviços nos leva refletir sobre a precarização do trabalho.
Parem de nos matar!!!!!!!!!
Assinam o Manifesto:
MNU – Movimento Negro Unificado, PMMR, Rede de Proteção e Resistência ao Genocídio, Sindiserv/SBC, Comissão da Igualdade Racial do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Congada do Pq. São Bernardo, Posse Hausa, Quilombo Dandara, Uneafro, Coletivo Afro RGS, Entregadores Anti Fascistas, Kilombagem, MTST, MNMMR, MLB, APNs, ABC Anti Fascista, Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André/Mauá, Fórum Benedita da Silva, Secretaria de Combate ao Racismo do PT, Rosa Negra Ação Direta e Futebol, Quilombo Invisível, Luta Popular, Coletivo Minervino de Oliveira, AMA – Associação dos Metalúrgicos Aposentados, Vereadora Ana Nice, Deputado Estadual Barba, Deputado Federal Vicentinho.
Nota: Ao portal G1 o Carrefour disse que “entende que as manifestações que estão ocorrendo são legítimas”.
O Jornal Empoderado conversou com uma das ativistas que estava no Carrefour hoje e ela nos contou que a ação foi pacífica, e nasce após mais um caso envolvendo essa rede. Agora foi o assassinato brutal de Beto, em Porto Alegre que foi espancado por seguranças da loja francesa.
Um caso conhecido no ABC foi em 2018, com Luís Carlos Gomes que abriu uma lata de cerveja dentro da loja de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. Mesmo dizendo que ia pagar pela bebida, ele, que tem uma deficiência física, foi perseguido pelo gerente e por um segurança e, por fim, agredido em um banheiro.
Após o brutal assassinato de Beto a ideia foi fazer o protesto dentro da loja para pedir fim dos mal tratos a população negra cometido pela rede francesa e outros casos igualmente terriveis. A militante lembrou do caso do supermercado Ricoy (dois seguranças chicotearam um jovem negro).
O protesto que aconteceu hoje é uma forma para não esquecer tudo que vem acontecendo contra a população negra nos comércios ao redor do país, nos disse a ativista.