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Oito de março, dia internacional da mulher.

Que mulher?

Romantizamos datas que inicialmente eram marcos históricos, transformando-as em algo de cunho comercial, fútil, quase que um lembrete de que existimos, como se não existíssemos de fato nos outros 364 dias do ano, ou nos outros 365, visto que 2020 é ano bissexto e ganhamos um dia a mais no calendário.

É ótimo que tenhamos um dia dedicado a nós, mas é lamentável que seja preciso um dia para lembrar que merecemos respeito, dignidade, espaço, cargos, direitos sobre nosso pensamento, sobre nosso corpo, sobre nossas vidas. Sim, nossas vidas, pois muitas perdem as suas pouco a pouco em relacionamentos abusivos ou em condições desumanas de moradia, trabalho e de vida.

Diariamente, inúmeras mulheres são vítimas de feminicídio ou violência doméstica, todos os dias inúmeras mulheres têm seus corpos violados, metaforicamente ou literalmente, e precisam manter-se caladas para se manterem vivas, isso quando a barganha funciona.

E o mais triste disso tudo é constatar que mais da metade dessas vítimas sociais são mulheres negras, periféricas e para quem o povo não dá a mínima, pois esquecem que elas existem e essas, em sua grande maioria, não têm sequer um dia no ano para si, ou pior, elas ganham por sua existência, dores física e emocional em todos os dias do ano, por todos os anos, mas disso ninguém gosta de falar.

Falamos muito de empoderamento, mas o que queremos é apoderamento, ou seja, queremos que nossas vidas não sejam ameaçadas diariamente, queremos poder ir e vir sem medo de que tentem tomar o que é ou deveria ser nosso, nossos corpos, nossa dignidade, nosso amor próprio, nosso poder de escolha.

Desejamos que 8 de março seja todo dia e que, mesmo que venham as flores e os bombons, venham principalmente o respeito e a visão de que não somos apenas corpos a serem usados a bel prazer, nem tampouco mercadorias para serem admiradas, apalpadas, compradas ou tomadas a força.

Nós, mulheres, de todas as idades, de todas as raças, de todas as classes sociais, almejamos o dia em que o nosso direito não valerá apenas no papel, mas na prática, o dia em que não sejamos exibidas como uma espécie de troféu ou que não iremos ouvir aquele desdém clássico de quem se surpreende com nossas conquistas, afinal, o que mais somos se não apenas mulheres?

Nós, mulheres, de todas as idades, de todas as raças, de todas as classes sociais, almejamos o dia em que o nosso direito não valerá apenas no papel, mas na prática.

Mulher: sinônimo de luta e de glória

Nós somos tudo, eu vos digo, somos aquelas que com a cara e a coragem saem de casa para trabalhar ou assumem suas casas e seus filhos, somos as que andam temerosas na rua, mas entendemos que precisamos caminhar de cabeça erguida, somos aquelas que criam rivalidade entre si, algo que precisamos com urgência superar, mas que também somos capazes de sentir a dor da outra.

Nós somos as que vivem no apartamento de luxo, as empresárias, as operárias, as chefes de família, as empregadas domésticas, somos as que andam de carro, táxi, Uber, ônibus, trem ou BRT, somos aquelas que são espremidas propositalmente e que precisamos nos esgueirar para não sofrermos abuso no transporte público porque um cara qualquer simplesmente achou que podia, somos da periferia, somos do asfalto, somos da vida, somos da luta, e é por isso que continuamos aqui.

Por isso, lhes peço que deixem os padrões de lado, que parem com as comparações de corpos, de peso, de cabelo ou cor de pele e se atenham ao que temos em comum, nossa luta e nossas dores, pois o resto nos torna seres individuais, que merecem ser valorizadas como especial que somos.

Sim, precisamos do Dia Internacional da Mulher, mas não para que nos papariquem com mimos apenas, e sim para que nós e toda a sociedade possamos lembrar de onde viemos, o que já conquistamos e do quanto ainda temos que lutar para alcançar o que, de fato, almejamos.

Feliz Dia Internacional da Mulher!

NOTA

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