Sábado o Jornal Empoderado foi ao Rio de Janeiro, em Moça Bonita, estádio do Bangu para cobrir as finais masculina e feminina da Taça das Favelas 2019. Evento Organizado pela Cufa!
Na estrada com a Taça
Eram quase 23h40 quando a rua, no metrô Sacomã, já era tomada por um grande grupo que divididos em dois ônibus se organizavam para começar a viagem para o Rio de Janeiro, em Moça Bonita, estádio do Bangu.
Enquanto se conferia a lista para que se autorizasse o embarque dos presentes no devido ônibus, a resenha (como falam do bate-papo entre boleiros) não parava e já dava o ar amigável e de troca entre as comunidades.
Nota: Os/as representantes das quebradas receberam comunicado da viagem pelo grupo do aplicativo de mensagens e foram espalhando entre os conhecidos.
Rumo a Bangu se parou duas vezes. Momento para um lanchinho, frio, fotos e mais…resenhas. Sempre comandada pelo sorridente Sidney Augusto, ou Nei Cartola, de 50 anos. Ney falou ao Empoderado um pouco da importância da taça: “Esporte, estudo e a saúde caminham juntos. Para cada um real que se investe no esporte, se economiza dez reais em saúde. Pois uma criança que pratica esporte e uma criança saudável. E hoje ela (Taça das Favelas) faz a diferença no sonho de toda crinça (de periferia) e para mim é a realização de um sonho”
A viagem caminha ao som da banda de rap Racionais MCs, que continua na playlist do ônibus na volta também. O DJ foi o próprio motorista do ônibus, o eficiente Jose Cirico, de 48 anos.
Na última parada, Seropédica. Mais fotos, só que agora com um lindo pôr do sol ao fundo e depois idas ao banheiro e mais um pouco de RESENHA.
Abalando Bangu
Enfim, Bangu! A cidade da escola de samba da rainha Elza Soares, a Mocidade Independente de Padre Miguel. O sol já mostrava para que veio. Ou como disse um funcionário do clube, “Relaxa, normalmente é 43 (graus) na sombra aqui (dentro do estádio)”.
Um pouco sobre a história do Bangu Atlético Clube que foi um time fundado por ingleses, mas formado, em grande parte, pelos operários da Fábrica de Tecidos Bangu, no subúrbio do Rio de Janeiro.
Francisco Carregal foi o primeiro negro a ser escalado no estado do Rio de Janeiro. Ele foi jogador do Bangu em 1905. O que fez a liga da época emitir uma nota proibindo “pessoas de cor” como atletas de amadores de futebol. Então, o time do Bangu tomou uma decisão importantíssima: se retirou da Liga e não disputou o Campeonato Carioca daquele ano.
Isso fez o time do Bangu virar um símbolo da luta contra o racismo no futebol nacional e responder a um questionamento do porquê os jogos das finais da Taça das Favelas não ser no estádio do Maracanã ou no Engenhão.
Primeiro, que a Taça das Favelas teve seu primeiro campeonato em Moça Bonita. E, segundo, que a história de luta antirracista no futebol nasce em Bangu. Respondido?
Um dos pontos a se destacar foi a receptividade dos torcedores e torcedoras que chegavam para o jogo para com o Empoderado e um grupo de “TORCEDORES PELA DEMOCRACIA” que estavam ali levando conscientização política para quem passava.
Aqui vale destacar o povo que faz este mosaico chamado Rio de Janeiro, que mesmo com tantas dificuldades, não perde o sorriso e o bate-papo fácil.
Enquanto o celular carregava em uma barraca que vendia de cerveja à caixa de som, uma moça que já deveria ter tomado alguns goles a mais confidenciou que apesar de ser Mocidade Alegre não cansava de cantar o samba da Estação Primeira de Mangueira deste ano, “História pra Ninar Gente Grande“, pois para ela a Mangueira “cantou o que a gente precisava falar” (sic).
A segurança foi feita por um número até excessivo de policiais civis e militares, mas todos trataram educadamente aos que ali estavam, sendo que em um determinado momento um dos PMs até estava comentando o jogo com um dos Cabo-Man (ajudante de cameraman ficando responsável pelos cabos da câmera das emissoras de TV e rádio) de uma emissora de tv. Cena peculiar tipicamente carioca.
O clima das ruas e dentro do estádio foi unicamente de festa entre os presentes. Bangu foi tomada por torcedores que vieram de várias favelas da Cidade Maravilhosa. Ou como diz um torcedor de um dos times para o Empoderado: “Pô, meu parça, eu saí de casa de manhã e cheguei agora. Porque moro lá…olha, lá longe, viu” (sic).
A Taça das Favelas é “Um Gol pra toda Vida”, como diz seu slogan, pois ela traz visibilidade para jogadores e jogadoras de comunidades carentes e esquecidas pelas autoridades.
É comovente ver a alegria estampada nos rostos desta população carente e, muitas vezes, esquecidas e desrespeitadas pelas gestões públicas.
A ruas e o estádio, assim como em São Paulo, ficaram lotadas de famílias e moradores de periferia, que foram torcer por seus filhos, amigos, sobrinhas, namoradas… E a maior vitória que se percebe para quem pode acompanhar pessoalmente a Taça foi ver a autoestima elevada de um povo sofrido, que tem neste campeonato o maior dos gols: O Respeito e valorização do ser humano!
Agradecimento especial às favelas de São Paulo: Favela do Cai Cai, Jardim Sinhá, Favela da Vila Clara (Zona Sul), Favela da 1010 (Rio Pequeno), Favela da Cidade Líder, Favela do Jardim das Palmas, além de favelas cariocas, como Vila Moreti (Bangu), Complexo da Maré, Da 8, Pilar e tantas outras. Muito obrigado a todas as comunidades que nos receberam muito bem e a equipe da CUFA.
O Estádio do Bangu estampa nas suas paredes os ídolos que fizeram históra no clube como Domingo da Guia, Leonidas da Silva, Ademir da Guia entre outras grandes figuras do futebol mundial que por lá passaram.
Celso Athayde da Cufa para a Taça das Favelas
A Taça
Em seu oitavo ano, a Taça das Favelas Rio contou com o envolvimento de 96 mil jovens e 240 favelas, durante várias etapas. Na fase final, foram 84 favelas masculinas e 24 femininas disputando as partidas da competição, de onde sobraram duas por categoria que vão disputar o título troféu Ari Pipa, nome dado em homenagem ao maior incentivador da Taça das Favelas, falecido no ano passado.
Curral das Éguas e Gogó da Ema vencem a Taça das Favelas pela primeira vez!
Meninas do Curral das Éguas ganharam por 2 x 0 do time Corte Oito. Já a final masculina foi decidida nos pênaltis com vitória do Gogó da Ema 2 (5) x (4) 2 Patativas. Os jogos tiveram entrada franca.
Texto e Edição: Anderson Moraes
Revisão: Priscilla Silvestre
Fotos: Anderson Moraes e Jonathan Paixão (Cufa).
Para mais fotos veja nossa galeria no Facebook clicando aqui!
Respostas de 2
Viajei de Araguari/MG ao Rio de Janeiro pra conhecer de perto e entender essa tecnologia social. Compreendi perfeitamente o quanto essa competicao empodera os jovens moradores de favelas e gosyaria de replicar o modelo em nossa região. Notei a falta de um incentivo aos tecnicos comunitários que alimentam na base ease sonho. Parabenizo o Jornal Empoderado pela cobertura que possibilita a quem nao teve a oportunidade estar presente uma ampla visao do quao lindo e esse projeto.
Otima analise, Zulu. Obrigado por nos acompanhar!