No último domingo, dia 17 de fevereiro, houve um boicote feito em frente ao mercado Extra do RJ, o qual ocorreu o estrangulamento do jovem de 19 anos, Pedro Gonzaga. Sendo mais uma representação latente do racismo institucional, evidenciando que pessoas negras tendem a ser submetidas à essas situações de truculência cotidianamente. De acordo com os dados do IPEA , a cada três assassinatos, dois são de pessoas negras, reafirmando novamente que a política punitiva da polícia militar tem relação com a cor do indivíduo e, automaticamente, classe social.
Em meio a tanta indignação e descontentamento por parte dos manifestantes, houve um grupo de pessoas com cartazes referentes ao ex presidente Lula e à partidos políticos desvirtuando o propósito do protesto.
O desconforto a respeito desse grupo de pessoas acabou terminando na internet com um vídeo com mais de cinco mil compartilhamentos que mostra uma jovem questionando o ‘’por quê’’ da faixa pró Lula. Assista. A crítica feita pela pessoa a qual postou o vídeo foi que essas atitudes as quais ligam partido políticos ao assassinato do jovem, é uma forma de banalização do protesto descentralizando a real intenção a qual era incentivar um boicote ao mercado Extra e evidenciar o racismo institucional. Em resposta, de acordo com a jovem, o mesmo grupo de pessoas reagiu negativamente à repreensão.
Esse não foi um caso isolado onde houve insensibilidade por parte de pessoas brancas a respeito do assassinato do jovem. Em Bahia, houve o mesmo protesto em frente a um mercado extra, quando um casal de jovens fez uma reclamação a respeito dos manifestantes por estarem atrapalhando as compras dos mesmos. Automaticamente, pessoas que faziam parte do protesto reagiram à atitude do casal com frases o quais incluíam o termo ‘‘racistas’’ juntamente de vaias. Assista.
Infelizmente o genocídio de pessoas negras pouco causa comoção. A naturalidade da morte é algo extremamente frequente; e junto a isso uma criminalização quase que automática por parte da polícia militar, da mídia e, consequentemente da sociedade. Um problema crônico que desmascara as políticas de segurança pública que diz incluir a todos cidadãos.
O segurança, o qual assassinou Pedro, teve a fiança paga e responderá em liberdade.
O Jornal Empoderado conversou com profissionais da área de segurança sobre o ocorrido. O primeiro, é instrutor e líder de uma empresa de segurança que aplica treinamentos para vigias e seguranças, já a segunda é uma segurança feminina. Os dois profissionais responderam algumas dúvidas ao Empoderado, sobre o procedimento, do segurança, que levou ao falecimento do Pedro Henrique. Nota: Ambos pediram para não serem identificados.
Gestor da área de Segurança – “O caso dele houve alguns erros: Reação unificada, combate corporal armado (seja arma letal ou não letal). Despreparo para manuseio de arma de fogo (tanto e que ela foi subtraída). Ação reativa na presença de público terceiros, transeuntes, clientes, etc…”
Jornal Empoderado – É normal dar um “mata leão” em um jovem?
Gestor da área de Segurança – “O ‘mata leão’ é uma técnica de imobilização. Não é negligência a sua utilização em menores e sim a dosagem. Ações entre 10 e 20 segundos ou a percepção do desfalecimento do indivíduo que sofre o golpe. Claro que ele foi despreparado ao tanto de se jogar sobre o indivíduo com peso e estrutura inferior assim tampando totalmente suas vias aéreas respiratórias, lesões na traqueia e afins.”
Jornal Empoderado – Ao nosso Jornal a vigia feminina disse sobre trabalhar sem estar totalmente certificado.
A segurança feminina – “Pelo que sei ele não deveria estar trabalhando como segurança (estava afastado de suas funções). Portanto o supermercado tem a maioria da culpa, por ter contratado uma pessoa afastada de suas funções. E por último não teve um filho da puta para dar a ordem de retirada do mesmo sobre o indivíduo que faleceu.”
A visão a respeito do segurança, do Extra, é quase que unânime: ele não tinha preparo suficiente e deveria estar afastado das funções. O que nos leva a crer que a empresas devem investir em profissionais bem treinados e que respeitem a vida como consta em muitos manuais de treinamento de vigia/segurança. E que assim mostre que esses profissionais são treinados para proteger vidas e não para retira-las.
Respostas de 2
Ótimo artigo, Juliana Passos, sobre as várias facetas do evento “Morte no Supermercado EXTRA”
O que se depreende é que a banalização dos atos de protestos reflete a banalização. do sujeito que é transformado em objeto da vontade e gestão alheia. Quanto mais se aprofunda a análise mais se revolta e fere coletivamente. A questão é que fazer? No contexto do racismo estrutural, materializado em todas as ações dos atores e agentes públicos e privados envolvidos, o diagnóstico mais próximo é de que o povo negro vivencia um “Estado de Necessidade” .
Sim,José!Infelizmente precisamos tomar uma atitude maior como um todo. Já não é de hoje que nos desumanizam criando em cima disso uma imagem marginalizada da população negra para não gerar comoção social.