O período da escravidão de negros no Brasil, sempre foi ensinado nas escolas de modo superficial, sem que crianças tivessem maturidade para compreender e entender o lado histórico e o horror do tema. Foi pensando nisso, depois de ler obras, em sua maioria escrita por autores brancos, que o quadrinhista Marcelo D’Salete, 38 anos, decidiu abordar o tema sob a ótica de um negro, podendo contar sua própria história. Desse desejo, nasceu a hq Cumbe, lançada em 2014 pela editora Via Lettera.
Único trabalho brasileiro a concorrer ao Eisner 2018, maior prêmio de quadrinhos do mundo, Cumbe foi Lançada nos últimos quatro anos nos EUA, em Portugal, na França, na Itália e na Áustria. Composta por quatro contos que se baseiam em documentos reais para retratar a resistência dos escravos ao sistema colonial. Com 200 páginas, desenhadas em preto e branco e narradas com poucos diálogos, o autor transforma em ficção histórias encontradas em relatos antigos, tentando imaginar a perspectiva do escravizado frente aos desmandos do período colonial.
Apesar da violência e da categoria do autor em revelar histórias que são verdadeiros tapas na consciência social, Cumbe abre espaço para uma lição de esperança. Os poucos textos são outra característica importante de Cumbe, como alegoria da opressão e do silêncio com que conviviam os escravos, impossibilitados de possuírem uma voz.
A indicação à categoria de melhor edição americana de material estrangeiro demonstra, segundo D’Salete, o interesse crescente do público pela história da escravidão e do negro no Brasil.
D’Salete ficou surpreso com a repercussão: “Talvez isso se deva ao fato de que hoje temos um público negro de leitores cada vez maior e um público não negro também muito interessado. Acredito que isso venha da vontade de compreender melhor a nossa sociedade.”
Premiação anual criada em 1988, nos EUA, o Will Eisner Comic Industry Awards é considerado Oscar da indústria dos quadrinhos.