A psicóloga Isabela Cotian dá dicas para lidar com os pequeninos em um mundo tão digitalizado
Quem é pai ou mãe de crianças nos dias de hoje sabe que elas praticamente já “nascem com o celular nas mãos”. Não à toa muitas delas sabem mexer em aplicativos e funcionalidades dos aparatos eletrônicos mais do que os adultos. Mas qual o ponto limite para que
toda essa imersão digital não se torne nociva?
A psicóloga e coach Isabela Cotian, que também é mãe, instiga que os pais recorrem aos celulares, tablets e afins para ter um tempinho “de folga” e conseguirem executar os seus afazeres. “Então, eu sugiro que os pequeninos utilizem essa tecnologia a partir dos dois anos, limitando o tempo entre 15 a 20 minutos, e depois os pais estimulem através de atividades e brincadeiras que gerem conexão com seus filhos, que sejam fora desse universo tecnológico”.
Segundo a especialista, a preocupação está relacionada em como o uso desses dispositivos eletrônicos pode afetar o desenvolvimento cerebral. “Segundo os pesquisadores, a superexposição a tablets e smartphones teria impacto no poder de concentração e atenção das crianças, assim como em áreas aparentemente não conectadas ao assunto. Podemos citar o controle do apetite e do sono, por exemplo”.
Use e abuse da criatividade para que a criança não fique sedentária
De acordo com os dados Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica, a Organização Mundial da Saúde estima que em 2025 mais de 2,3 bilhões de adultos terão sobrepeso e 700 milhões estarão obesos. E o último levantamento oficial do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), realizado em 2009, apontou que 15% das crianças brasileiras já apresentam esse diagnóstico.
Se as crianças de hoje são esses números de amanhã, é importante tomar medidas preventivas desde agora. Isabela ressalta que o uso constante da tecnologia favorece o estilo de vida mais sedentário. “E isso justamente em uma etapa do crescimento em que bebês precisam ser estimulados a explorar o mundo por meio de muita atividade física e brincadeiras, além de usar todos os sentidos do corpo, não só a visão e a audição”.
Para os pais, ela indica o resgate das suas brincadeiras de infância, repassando-as para os pequeninos. “Com essas brincadeiras há uma conexão emocional entre pais e filhos. Os contatos social e emocional sempre serão as melhores opções para o progresso das crianças e devem ser estabelecidos desde sempre, para que elas cresçam priorizando as relações, inclusive as com os pais”.
A coach explica que as brincadeiras e jogos trazem à tona valores essenciais dos seres humanos. “São instrumentos para o desenvolvimento e pontes para diversas aprendizagens, possibilidades de resgate do patrimônio lúdico-cultural nos diferentes contextos socioeconômicos, sementes criativas, instrumentos de inserção em uma sociedade marcada pelo preconceito e pela competição exacerbados, as opções de liderar e ser conduzido, assim como a de falar e de ser ouvido”.
A relação entre a educação e os perigos da internet
Se todos os pais não sabem, ao menos deveriam ter a consciência de que os mesmos perigos que há nas ruas também existem na internet. A questão é que muitas vezes, estando em seus quartos ou na sala, sentadas ao lado no sofá, há uma falsa impressão de que as crianças estejam protegidas. Mas não estão.
A psicóloga lista algumas dicas para que os pais saibam como lidar com essa situação impossível de não ocorrer nessa Era Cibernética:
- É preciso estabelecer vínculos, conversar com seus filhos, estarem próximos dos seus interesses e gostos pessoais;
- Faça um acordo com seus filhos sobre o uso da internet para determinar regras e horários de uso;
- Use ferramentas de controle parental e mostre interesse nas atividades das crianças na internet. Pergunte o que elas estão fazendo, peça para ver as fotos etc.;
- Participe das redes sociais (entenda o que elas publicam na internet e com quem conversam);
- Dê o exemplo e cuide de todo o conteúdo que é consumido nos meios de comunicação por toda a família (televisão, rádio, internet, revistas, livros, entre outros). Não assista, por exemplo, um filme com cenas inadequadas para menores de idade quando o seu filho estiver por perto;
- Oriente a criança a oferecer o mínimo de informações pessoais nos seus perfis nas mídias sociais e peça para ela não disponibilizar telefones, endereço, nome da escola etc.;
- Explique para o seu filho que ele não pode compartilhar a sua senha com outras pessoas a não ser os pais e peça para que aceite como “amigos” apenas pessoas que ele realmente conheça;
- Conte para os pequeninos que as pessoas nem sempre são o que dizem ser, inclusive na internet e fora dela;
- Ensine o seu filho a nunca aceitar a se encontrar pessoalmente com uma pessoa que conheceu pela internet;
- Diga à criança que ao receber e-mails de pessoas desconhecidas e arquivos ou fotos estranhas o correto é enviar direto para a lixeira;
- Oriente a criança a não colocar fotos inadequadas. As imagens e os vídeos, uma vez publicados, são muito difíceis e até impossíveis de serem deletados, por isso, esclarecer isso é a melhor maneira de evitar problemas posteriores;
- Estimule que o seu filho conte a você fatos estranhos ou “diferentes” que aconteçam na internet. É muito importante passar essa segurança para que os pequeninos se sintam à vontade diante de qualquer situação em que sentirem ameaças.
A psicóloga realça a relevância do fato da criança saber que está sendo monitorada, porque isso gera uma confiança mútua. “Se existe transparência e conexão emocional entre pais e filhos toda conversa será verdadeira e não será necessário fazer nada escondido. Quando os pais se aproximam da realidade do filho, ou seja, do que ele busca na internet ou nos jogos, fica mais tranquilo entender e conversar sobre limites”.
E continua: “Se quando criança não for desenvolvida a ligação emocional entre pais e filhos, dificilmente existirá confiança na fase da adolescência. A confiança deve ser estabelecida desde quando pequenos”.
Isabela alerta que a modernidade tem afastado as pessoas, as quais mais conversam pelos dispositivos eletrônicos e menos ao vivo, tornando o ser humano mais introspectivo e, às vezes, antissocial. E isso inclui as crianças, que já nascem nesse contexto.
Entretanto, ela destaca que também há pontos positivos em tudo isso. “Existem vários benefícios da ciência e tecnologia, da educação e informação, da cultura e das artes, e também de futuras oportunidades de desenvolvimento que foram sendo incorporadas às famílias por conta da internet, principalmente o acesso às informações, notícias, pesquisas e contato com o mundo”, finaliza.
Serviço:
Isabela Cotian – Psicóloga e Coach de Mães – www.isabelacotian.com
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