Após o sucesso de público e crítica com o espetáculo “É Samba na Veia, é Candeia”, o grupo apresentará cenas de quatro textos principais do dramaturgo russo Anton Tcheckhov, além de trechos de cartas e contos do autor, com o tempero inusitado e poético do samba de nomes como Cartola, Paulinho da Viola, Manacéa da Portela e Nelson Cavaquinho.
Erika Balbino, colaboradora do O Jornal Empoderado conversou com Aloysio Letra, que assina a Direção Musical e Preparação Vocal da peça.
JE – Como surgiu o convite para assinar a direção musical e preparação vocal da peça?
Rita Teles, que é do elenco e produtora do espetáculo, apresentou-me ao Leonardo Karasek. Rita conhece meu trabalho como autor e como intérprete e, numa tarde no apartamento do Karasek, ele me falou da proposta dos textos e da fusão com canções de samba. Achei superbacana a mistura e iniciei alguns estudos do material. Topei logo de cara.
JE – Já tinha feito algo anterior no teatro?
Estou em processo. Tive algumas experiências em trabalhos cênicos musicais circenses. No teatro, fui intérprete criador e músico durante dois anos no Núcleo Sonoridades da Escola Livre de Teatro de Santo André. Nesse período na ELT montamos, em 2015, “Mário de Andrade Conta Macunaíma”, que foi uma oportunidade que tive de experimentar a voz e o violão como elementos dramáticos. Penso que, para além da música, estamos “contando com música”, indo além do “belo e bem executado” para chegar a uma interpretação sensível que soe como o texto. Devo isso, essa abordagem, a uma das minhas mestras, a Lucia Gayotto. Penso em me arriscar mais em palcos teatrais.
JE – Qual a sua trajetória profissional?
Sou cantor, compositor, performer circense e continuísta de cinema. Atuo em várias frentes de trabalho cultural. Acredito que minha experiência como revisor de roteiros de cinema (continuísta) colabora para ajudar a interpretar o material poético por meio da música.
JE – Como o samba está presente na peça? Quais músicas foram escolhidas?
O samba e as canções presentes no trabalho reiteram ou questionam apontamentos da peça. Além de participação musical, sonorização e trilha musical, penso que a música dá contornos e contrastes para o que está sendo dito, para as explanações e pensamentos dos personagens. Cantamos canções da velha guarda da Portela, como “O Mundo É Assim”, de Alvaiade; “Nascer e Florescer” e”Autonomia”, do Cartola; “Rugas”, de Nelson Cavaquinho, Ary Monteiro e Augusto Garcez. Há, ainda, uma canção minha chamada “Porquês do Céu”. As canções escolhidas têm em comum temas como vida, existência, o sentido do ser e a busca do significado de sermos seres finitos.
JE = Como a obra de Tcheckhov se relaciona com a poética do samba, na sua opinião?
Acredito que o samba, especialmente da época escolhida, tem um lirismo que discute sobre questões essenciais da vida. Quais questões mais essenciais que viver, amar, falar sobre o tempo que vivemos? Isso, o samba tem em comum com Tcheckhov. O samba aborda as mirongas e os mistérios da vida, daí os condensa, os comprime em simples versos, concisos e certeiros, assim como a concisão que Tcheckhov preza. Acho essa relação do material poético uma das grandes potências do trabalho que estamos realizando.
SERVIÇO
“Vidas Medíocres ou Almas Líricas”
Temporada de 6 de abril a 26 de maio de 2019
Quando: sábados às 21h e, domingos, às 19h
Duração: 70 minutos
Classificação Etária: 12 anos
Onde: Espaço Pequeno Ato
Capacidade: 35 pessoas
Endereço: Rua Dr. Teodoro Baima, 78 – Vila Buarque, São Paulo – SP, CEP 01220-040
Ingressos: R$ 40, inteira; R$ 20 meia entrada (idoso ,estudante, professor e classe artística)
Estacionamento: ao lado do teatro, 24h