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Universo Negro: Mulher, mídia, vida e políticas publicas

Na verdade, gostaria de não precisar mais escrever artigos sobre este assunto. Mas o Brasil é muito atrasado e hipócrita quando o assunto é o negro. Devemos isso, dentre outras coisas, à ditadura (1964-1984). Muitas vezes, os próprios negros não querem esse assunto. Sentem vergonha: “Cotas? Depois vão dizer que somos incompetentes!”

É reparação, gente! A televisão não nos leva a sério; nos ignora, mesmo. Sei que somos mais de 70% das empregadas domésticas do país (na boa, mamãe foi doméstica, nada contra), mas quando uma novela tem a doméstica como protagonista como em Anjo Mau (1976, remake, 1999), a empregada é loira (Susana Vieira), e no depois uma índia (Glória Pires). Cadê a atriz negra?

Isso, sim, me incomoda. Não me incomoda a empregada doméstica ser negra. Todas minhas tias foram, é natural pra mim. Foram, para que os filhos não fossem.

A propaganda brasileira, tão elogiada mundo afora, nos ignora também. Washington Olivetto disse em entrevista que a culpa não é dele: o cliente pede à produtora para não colocar negros, por não quererem o produto ligado a nós. Grande bobagem, pois consumimos de tudo: revista, sorvete, bancos, bolacha, absorventes, cerveja etc. O exemplo está no Sebastian, à frente da C&A por mais de 20 anos, e a loja passa bem. Outro exemplo foi Victor Custódio tirando bugigangas do cabelo, para que entendêssemos que no Fiat cabia muita coisa. A Fiat passou a Volks em vendas de carro popular. A Tang também só ganhou com Cintia Raquel.

Em meados dos anos 80, nos Estados Unidos, a Pepsi Cola contratou Michael Jackson para garoto propaganda (ele ainda era negro). Todo negro americano deixou de tomar Coca-Cola e migrou para a Pepsi. A fábrica da Coca viu, pela primeira vez, as contas balançarem. Correu e contratou Michael Jordan, mas já era tarde. Até hoje em filmes de negros americanos, a Pepsi aparece na mesa.

Nós, negros brasileiros, precisávamos ter esta cultura da união: “Se não me representa, não compro”. Quanto a não ter negros no jornalismo etc.,a explicação é óbvia: nós vamos pouco pra universidade. Ainda precisamos de “ações afirmativas”.

Falando de mim: tive sorte, por ser a filha mais nova. Mamãe não tinha mais tantas despesas, eu não precisava “ajudar em casa”. Então, pude ir pra faculdade.

A única solução é a Educação. A lei 10.639 (que legisla o ensino da África nas escolas) está aí desde 2003 e até agora nada. As pessoas ainda acham que África é um país. Temos de saber que negros dão nomes a avenidas importantes em bairros nobres de São Paulo: Rebouças, Teodoro Sampaio (dois engenheiros baianos). E até a Rua Cabo Joel Leite, em Cidade A. E. Carvalho, um bombeiro herói no incêndio do Edifício Joelma. Um negro herói!

Temos de ter orgulho de ser negros, de sermos sobreviventes. Mas muita coisa depende de nós. Pra começar, não temos ídolos. Nossos negros com destaque não gostam de tocar nesse assunto: Pelé, Ronaldo Fenômeno, Neymar. Nos anos 70, Benjor e Tim Maia seguraram uma onda, mas hoje Anita e Diogo Nogueira querem ser brancos. Sonho com uma campanha com negros de pele clara, “pouca tinta” (light skyn). Pra motivar os outros negros.

Falando novamente de mim, ainda menina, anos 70, me espelhei em Angela Davis, a ativista americana que foi presa (procurem saber). Também amava Zezé Motta, mas eu não queria ser atriz, queria fazer carreira acadêmica!

Pra encerrar, os meninos negros precisam admirar mais as mulheres negras (às vezes, acho que é baixa estima deles) e não só as meninas loiras. A gente fica sobrando. Eu sobrei!

Gente, quem faz a comida é Tia Anastácia, e quem vira nome de farinha de trigo é Dona Benta!

FOTO: ELI ANTONELLI

Conceição Lourenço
Paulistana, formada em Jornalismo em 1984, pós-graduada em Gramática da Língua Portuguesa. Trabalhou na Revista Exame, Quadrinhos da Editora Abril e Jornal Diário Popular. Também passou pelas revistas Bárbara, Chiques e Famosos, Ti-ti-ti, Uma, e pela Raça, como editora e diretora, entre outras publicações. Hoje tem sua empresa de comunicação, com assessorias etc.

NOTA

Não deixe de curtir nossas mídias sociais. Fortaleça a mídia negra e periférica

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