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Uma leitura da peça Antígona Revis(i)tada: uma releitura violenta

 

Antígona Revis(i)tada:uma releitura violenta é uma daquelas peças de teatro que não te deixa indiferente em nenhum momento.  O texto de Sófocles é apresentado como uma costura com os momentos mais dramáticos da História do Século XX e do Século XXI, mostrando o porquê esse texto clássico continua vivo e forte.

A atriz e autora da peça, Eleonora Ducerisier nos apresenta esse texto com sangue, corpo e pele de tantas outras antígonas reais que a civilização silenciou. Em forma de monólogo, Eleonora encarna a Antígona de Sófocles, mas também traz Dandara, os judeus no holocausto, os negros, a mãe negra que, como Antígona, não pôde enterrar seu filho, todas as mulheres, gays, lésbicas, travestis, transexuais, todos que foram violentados, silenciados, emparedados, mortos, esquartejados sem o direito de ter os seus nomes guardados pela história.

A Antígona clássica se rebelou contra a voz da autoridade e do poder, contra o Patriarcado, contra o seu próprio silêncio. Cavou com as próprias unhas de suas mãos, a sepultura de seu irmão, sabendo que assim também cavaria a sua. Antígonas modernas também se desprendem dos seus corpos por seus ideais, levando muitas vezes estes para o aniquilamento.

Para encarnar todas elas no espaço cênico, Eleonora subverte o próprio espaço do teatro: o palco se torna um mero coadjuvante, assim como foram para a história da cultura humana, as vozes das personas que ela traz para a cena. Não é hora do palco, é hora da entre sala, daquilo que estava escondido por trás das cortinas, de revelar os segredos que estavam escuros e trazer à tona, a violência gerada pelo apagamento. E que isso se transforme em dor, em angústia, em um corpo que se estilhaça na sua frente e se recompõe novamente em outro. Não há tempo para sentir alívio ou se conformar, pois, as cenas, as histórias, os medos, as dores, os corpos e a linguagem vão se construindo e se destruindo bem na sua frente. Como expectador, não há um convite para participar da peça, há uma obrigação. Seus sentidos são alçados o tempo todo para que não fique nunca mais indiferente à injustiça.

Sentir, suar, amar, sofrer e se despedaçar como se a personagem fosse, assim acomete ao  expectador  durante toda a peça! Você é colocado dentro do monólogo e não fora dela, por isso não há plateia. É um monólogo de início, mas no fundo, a atriz está contracenando contigo para que a sua consciência nunca mais cochile. As luzes são acesas nos momentos certos em que; a luta entre o bem e o mal, entre a dor e o amor, entre poder e querer se fazem presentes na dança das mãos e dos braços da atriz. São as mãos, mais do que qualquer outra parte do corpo, aquelas que cavaram a sepultura para Polínice, as que conseguem falar pelas vozes e corpos que foram silenciados. As mãos que trabalham e que criam, como as das crianças que limpam as chaminés ou da artista que escreve e atua, expressam muito mais os mecanismos injustos do sistema, enquanto bailam em devaneios pelos ares, do que as palavras de um grito abafado. E que o grito exprimido no peito se transforme em música, em canto, em um corpo que se contorce em angústia permanente na sua frente e não mais por detrás dos muros, das cortinas, das paredes, dos escombros, do camarim ou do palco. Que seja no chão estendido rente aos seus olhos, como foi muitas vezes na calçada com uma bala na cabeça ou como uma mulher que foge de seu abusador, mas que na correria do dia a dia, você não quis ouvir nem ver.

Subversiva como Antígona, Eleonora subverte não só texto, mas a concepção de teatro e entrega o seu próprio corpo para que a revolução se faça em atitudes e não apenas em reflexão. Entre o Clássico e o Moderno, entre o Antigo e o Contemporâneo, descobrimos com Lelis (o apelido carinhoso da atriz escritora) que somos os mesmos corpos históricos, enrolados em uma engrenagem suja de um sistema que escolhe quem deve falar, quem deve existir, quem deve morrer e quem deve viver. Não nos pertencemos realmente como sujeitos até que a arte, a literatura, a filosofia nos desperte. Seja convidado a despertar para o mundo com Antígona Revis(i)tada: uma releitura violenta! Mas cuidado! Pode ser como um soco no estômago, mas na verdade, é seu âmago que está dizendo que você ainda vive em meio a tantas sobrevivências.

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