Políticas Públicas e Gestão Cultural no Samba é o tema do último encontro do projeto Poesia Sambada na Quebrada, contemplado pelo edital Proac n° 33/2020, que acontecerá no próximo dia 12, às 20h, nas redes sociais do Sarau na Quebrada, coletivo de Santo André, mediado por Neri Silvestre, articulador, gestor cultural e Gláucia Adriani, educadora social, agitadora cultural, ambos integrantes do coletivo. Entre as apresentações artísticas, o evento terá como convidados os rappers Márcia Rimação e Nego Dabes, os poetas Hélio Neri e Vitor Oliveira, o músico Ricardo Palmieri e a Bateria Ritmonstro colocando todos para sambar.
Último encontro do Projeto Poesia Sambada na Quebrada traz a gestão cultural no samba como exemplo para pensar políticas culturais mais democráticas
A live pretende trazer exemplos de uma gestão cultural periférica como caminho de formação para políticas públicas mais democráticas. Para tal, das experiências locais dessas comunidades, contará com a presença do mestre Nunuca, sambista e presidente da S.E Vila Suíça; Mestre Rica, presidente da Escola S.E.C.I e Luiz Fernando, percussionista, co-fundador da Bateria Ritmonstro, como representantes do samba da cidade de Santo André, dividindo suas vivências de gestão cultural, aquecendo e enriquecendo o debate.
As realizações por parte dos grupos periféricos, de saraus, batalhas de rappers ou mc, escolas de samba tradicionais, são geridas de forma autônoma, pelos próprios integrantes das comunidades, dos coletivos aos quais pertencem. Seja nos afazeres domésticos, nos times de várzea, nos botecos, samba de roda, todo esse pessoal encerra o fazer de gestão cultural, compartilhando seus saberes, dos mais velhos para os mais novos. No entanto, à margem do debate e da participação na construção de políticas públicas, são alijados de direitos e subordinados a padronizarem-se para participar de editais não elaborados para eles e por eles, reforçando a estrutura classista da sociedade.
Não obstante, a Lei Aldir Blanc é um exemplo de lei pensada para atender os grupos mais diversos possíveis e mesmo que tenha havido falhas, ainda assim, significa um avanço diante de tantos retrocessos na atual conjuntura política, alcançando pessoas, grupos coletivos, comunidades tradicionais que jamais haviam sido beneficiadas antes.
Chamados de mestres não à toa, outros de griôs, por disporem de vasto conhecimento acumulado por gerações, pertencentes ao patrimônio imaterial, de valor inestimável, muitos deles recebem títulos honrosos, como o de honoris causa, atribuídos por universidades, exercendo uma função mais simbólica do que de lugar de igual, não podendo fazer o mesmo, oferecer seus títulos para homenagear uma figura dessa mesma classe universitária, embora sejam títulos significativos e desempenhem papel essencial na comunidade onde atuam, são esvaziados do seu sentido e colocados como alegoria.
Não é de hoje que a gestão cultural no samba existe, é anterior ao nome, ao conceito, veio com com os negros em diáspora. As baianas, por exemplo, cozinhavam, vendiam seus quitutes, comidas, negociavam com as autoridades para que o samba acontecesse sem interrupção, geriam seu negócio e garantiam a subsistência da sua comunidade negra. De matrizes africanas muitas culturas periféricas dão continuidade ao modo dos mais antigos e subsistem, sendo os próprios a criarem, divulgarem, realizarem seus fazeres culturais, mostrando que podem ser modelo e ponto de partida para a construção de uma política cultural ampla e mais igualitária, uma vez que seu legado ancestral aponta que nunca terceirizaram, sendo mediadores e não mediados, sempre autônomos e grandes gestores da herança dos seus antepassados.
Por Fabiana Lima