Vivemos tempos sinistros. Quem imaginaria que ressurgiriam funestos tipos como Jair Bolsonaro (PP-RJ). Há 53 anos meio milhão de pessoas foi às ruas em um movimento contra as propostas de reforma social de Jango. O fatídico movimento antecedeu a sombrios anos de ditadura. Felizmente hoje os militares não tem mais tal força política. Nem é do interesse da gente sensata que tenham. No entanto, a despeito disso, a extrema direita dá sinais de vida. Atos inconcebíveis como a homenagem do deputado Bolsonaro à um torturador da ditadura atestam que existem ainda hoje esmaniados que querem no Brasil o regime político próprio das republiquetas.
No entanto, nos tempos incertos não há melhor refúgio do que recorrer aos defensores do estado democrático. Sendo assim, cabe resgatar à memória o jornalista e escritor Graciliano Ramos. O alagoano fez notória iniciação às letras quando, ainda prefeito de Palmeira dos Indios, elaborou refinado documento que apontava os criminosos desvios de recursos de seu governo. Em vão o prefeito lutou contra os corruptos. Mais tarde renunciou. O dossiê conjuga ironia, rigor estilístico e exercício da cidadania nas linhas que impressionaram o então governador de Alagoas.
Anos mais tarde, Graciliano Ramos é confinado a prisão, em plena ditadura de Getúlio Vargas. No cárcere, trava conhecimento com Olga Prestes e Nise da Silveira. O escritor, por todo o período, sequer é levado a julgamento. Mais tarde descreve o longo claustro na obra “ Memórias do Cárcere”.
A despeito disso, a prisão talvez tenha inspirado o alagoano a avançar na sina de falar pelos oprimidos. Toda a sua obra enquanto jornalista e escritor desvela o sofrimento do nordestino e a desigualdade social. Merece destaque, entre tantos outros livros, “ Vidas Secas”, um dos mais belos livros da literatura nacional.
Por fim, no momento atual cabe a dica de leitura: “ Memórias do Cárcere” é um romance dos mais atuais. Toca no desrespeito ao regime democrático, assunto tão em voga na atualidade.