Chegamos ao mês de Abril, vão dizer, dia da mulher acontece no mês de Março, e daí. É preciso aprofundar nos porquês deste dia e como nós mulheres usamos este dia para longe dos clichês. Que seja um dia de flores e chocolate, mas de reconhecimento e consciência. Não me prendo ao mês, ao dia e sim a luta que travamos diariamente, onde ocupar a cidade é uma ação, um ato de resistência, assim como o samba. Onde a costura bem feita nos leva a uma coletividade das rodas, a parcerias criativas e a comunidades das escolas de samba, com ativíssima participação feminina.
Somos mais de 21 milhões de mulheres em São Paulo, ou 52% da população, segundo dados do IBGE. E apesar de sermos maioria nem sempre a cidade mostra seu viés feminino. Nossas falas são interrompidas, determinam o momento em que podemos nós manifestar, ora nos silenciam, outrora minimizam o ato de violência. Não falem por nós, não escrevam nosso discurso ou determinem quando podemos falar. Já nos foi concedida a palavra, há mais de 100 anos.
Constantemente florescemos, movimentamos nossos corpos e mente, gritamos e quebramos tabus. Quebramos mais um, nasce a equação perfeita: a mulher e o samba. Não a mulher-tema nas letras de música, mas a protagonista, que atraca constantemente no cais do samba. O recado por trás desse movimento é um só: o samba é feminino.
Sim, nas rodas de samba, a função da mulher era mais agregadora e relacionada com a comida que era servida, do que com a música propriamente dita. “Pagode do Vavá”, de Paulinho da Viola, documenta esse cenário: “Provei do famoso feijão da Vicentina/ Só quem é da Portela é que sabe que a coisa é divina”. Apesar da liderança inegável que exerciam em suas comunidades e especificamente no contexto do samba, mulheres como Ciata — e mais tarde outras como Surica e Doca (na Portela), ou Neuma e Zica (na Mangueira) — não tinham direito à voz ativa no discurso artístico, nas letras de música.
Alguns relatos históricos apontam Tia Ciata como a responsável por permitir que o samba fosse tocado. Várias “tias” foram responsáveis por esse acolhimento, foram seio materno e protetoras do samba. O samba nasceu sob comando das tias baianas no morro e foi dos terreiros as ruas. “Não deixe o samba morrer”, composta em 1974 por Edson Gomes da Conceição e Aloísio Silva, em companhia da cantora Alcione enaltece a velha guarda, os bambas e ao dizer que “o morro foi feito de samba”, a letra reconhece que o local físico (“o morro”) não é nada, o que importa, o que “faz” o “morro”, é o samba, é a cultura que precisa ser preservada. E sendo cultura, a cultura pode “morrer” e cabe a nós mulheres herdeiras do samba, não “deixar”.
Não à toa, a valorização da ala das baianas nas escolas de samba é uma forma de homenagear não apenas Tia Ciata, mas a memória de todas as tias baianas do samba. Elas são donas do barracão e Silvana Turva, defende o seu barraco através da música “Quem Manda No Meu Barraco”, gravada com @balilo_do _cavaco, do canto pra velha guarda e fala do protagonismo feminino como compositora, no programa de TV: SOBRE TUDO, no primeiro Festival de Samba: Uma voz e um violão, no Mavaah Bar, no mês de Março. E abaixo a letra-resposta, composição da mesma, referente a música “Deixa Eu Beber Em Paz”.
@silvanatruva, candidata do Festival de Samba: Uma voz, um violão, em entrevista ao programa de tv: SOBRE TUDO
Os tempo mudaram e no território antes dominado pelos homens, hoje dá abertura as mulheres nas rodas de samba, nas composições, no palco e no sucesso. Temos uma geração de respeito que defendeu e defende com honra o legado por Tia Ciata e Clementina de Jesus como Dona Ivone Lara, Leci Brandão, Mariene de Castro, Teresa Cristina e tantas outras como Aracy de Almeida, Elizeth Cardoso, Alaíde Costa, Clara Nunes, Dorina, Elza Soares e Elis Regina. E dentre as novas gerações de vozes que defende as mulheres no samba temos Mariene de Castro, Fabiana Cozza, Teresa Cristina, Mart’nália, Maria Rita, Roberta Sá, entre tantas outras sambistas independentes que não possuem apadrinhamento.
A percepção e a consciência ativa da construção do lugar da mulher no samba são ilustradas de maneiras diferentes, levando a mulher da cozinha ao protagonismo. Um dos ritmos mais brasileiros, o samba completou 103 anos em novembro de 2019 e nasce mais um festival de samba, um acústico de voz e violão, na Zona Leste/São Paulo, no palco do bar Maavah, em Março de 2020, para desmitificar o que poeta carioca Vinícius de Moraes afirmou em 1960: que a capital paulista seria o túmulo do samba.
Em Novembro/2019, a empresa OSR- Produções Artíticas, deu vida ao projeto “O Samba Reúne” (@sambareune), (https://jornalempoderado.com.br/o-samba-reune/), realizado no espaço CASSASP, na Zona Norte, fomentando o negro na música unindo o passado e o futuro, um encontro de gerações. E a produtora Djembê Produções e Entretenimento,em parceria com a OSR, criam uma amalgama entre o Samba Reúne e o projeto ELLAS. A Djembê além da percepção do lugar da mulher no cenário musical e no samba, (https://jornalempoderado.com.br/abre-alas/), abre alas as duas sambistas independentes na roda majoritariamente masculina. ELLAS – Ana Paula Santos (@anapaulasantoscantora) e Bruna Oliveira (@bruna.oliveiracanto), cantam e encantam mostrando que o samba reune.
Em Março deste ano, a REVISTA CAVACO DE PRATA, (@revistacavacodeprata) cria o projeto: Primeiro Festival de Samba: Uma voz e um violão, idealizado pelo Ricko Di Carvalho que dentre as parcerias estabelecidas, a produtora DJEMBÊ PRODUÇÕES E ENTRETENIMENTOS (@djembeproducoes), sob direção de Fábio Aleixo, atraca novamente no cais do samba, desta vez, na zona leste, no MAVAAH bar e o programa SOBRE TUDO com Fabiana Silva.
Levando a sambista Bruna OLiveira (@bruna.oliveiracanto) para a abertura da terceira eliminatória do festival, estendendo sua participação a jurada ao meu lado, trazendo um viés feminino ao juri, juntamente com outras juradas nas demais eliminatórias. Com a cobertura do programa de TV: SOBRE TUDO (@sobretudo.programa), voltado para a comunidade negra com um viés feminino, exibido nos canais 9 da NET e 8 da VIVO para o grande ABCD (7 cidades) e pelo facebook da emissora ECOTV e reproduzido no canal do youtube (Programa Sobre TTudo). Que aguarda o fim da quarentena para iniciar a terceira temporada sob a produção executiva de Mara Rodrigues.
https://youtu.be/ZzPUHIj6Z1M
Juri da terceira eliminatória: Robson Frota, Drico Mariano, Fabiana Silva e Bruna Oliveira
O festival, cria condições e estimula a visibilidade da mulher no samba, este (re)uniu, 10 sambistas independentes, com repertório regado de músicas autorais, covers e de matriz africana, onde a harmonia ficou por conta do violão de 7 cordas. Todas receberam o troféu em alusão ao festival e a vencedora, premiação em dinheiro. Abaixo os flyers dos encontros e algumas das entrevistas concedidas ao programa de Tv, SOBRE TUDO.
A primeira interprete finalista foi Teresa Baddini, @teresabaddini, com seu harmonia Nenê Barbosa com a música Estranha Loucura de autoria de Maycon Sulivan e Paulo Massadas.
A segunda interprete finalista foi Ester, com seu harmonia Davi Ferreira, com a música Exclusivo no Amor de autoria de Eliana de Lima.
Ester, em entrevista ao programa de tv: SOBRE TUDO, fala da emoção de participar do festival, ora por ser o primeiro a participar outrora por honrar o legado que vem de família, defendendo a bandeira do samba. Representar as baianas, donas dos barracões, fomenta a necessidade de espaço, independente do apadrinhamento. E ela solta a voz, mais uma vez, interpretando Alcione, ” o morro foi feito de samba, não deixe o samba acabar”.
A terceira interprete finalista foi Alldry Eloise, @aldryeloise, com seu harmonia Guina Thedoro com a música Paó Exú de autoria de Guina Theodoro.
Outra surpresa agradável do festival foi a participação da interprete Ana Caroline de 13 anos, que apesar da pouca idade demonstra dedicação, compromisso, humildade e respeito. E acima de tudo, não negligencia o conhecimento acumulado pelos mais antigos, sob olhos atentos do seu pai.
Assim como os compositores, seu pai reconhece que uma cultura pode “morrer”, o “samba” pode morrer, se for desleixado, se não cuidar dele, proteger, defender, lutar por ele, se não assumir a tarefa de passar esta cultura para as próximas gerações, sua filha. Fica claro que precisamos ensinar às crianças o que é, o que significa, qual sua importância e porque o samba deve ser preservado.
“E quando eu não puder pisar mais na avenida
Quando as minhas pernas não puderem aguentar
Levar meu corpo, junto com meu samba
O meu anel de bamba, entrego a quem mereça usar
Eu Vou ficar
No meio do povo
Espiando
Minha escola perdendo ou ganhando
Mais um carnaval”
Neste trecho fica o recado de que os mais antigos, ao sentirem que não possuem mais condições de continuar carregando e celebrando a tradição, passam “a quem mereça usar”. Não a qualquer um, não a quem tem necessariamente a mesma cor, classe social ou nacionalidade. O “anel de bamba” que será dado ao representante da nova geração que merecer tal distinção, uma honra que pressupõe responsabilidade, talento, comprometimento e dedicação.
O antigo guardião não se retira totalmente, não abandona suas responsabilidades, não deixa para lá. Ele vai para o “meio do povo”, despido de qualquer vaidade, mas fica “espiando”, com a “escola perdendo ou ganhando mais um carnaval”.
E a campeã deste festival foi a Teresa Baddini, em breve no canal do youtube da revista Cavaco de Prata.
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