A estudante Bianca Tibúrcio, natural de Ferraz de Vasconcelos, cidade do Alto Tietê, nutria desde criança o sonho de ser jornalista. Ela buscava ser a representatividade que, infelizmente, não encontrava na grande mídia.
Como na maioria dos lares brasileiros, sua família não tinha condições financeiras para bancar os estudos de Bianca que, inspirada na irmã mais velha, decidiu ingressar no ensino superior através do Programa Universidade para Todos (ProUni).
Ela conta que desde a época da escola já entendia que não seria um caminho simples. “Eu sabia que o ensino que eu recebia na escola pública era ineficiente para conseguir uma bolsa. Praticamente não tinham aulas, e o conteúdo era baseado em copiar textos de livros”. Assim, surgiu a ideia de fazer um curso preparatório, e tentar aumentar as chances de conseguir uma bolsa. “Comecei a pesquisar alguns cursinhos pré-vestibulares, mas eram muito caros. Foi aí que achei um, que fica lá no bairro da Liberdade, e que oferecia bolsas”.
Foi um ano de muita luta. “Estudava em média 11 horas por dia , equilibrando cansaço físico e psicológico. Ainda assim, eu tenho total noção de que fui privilegiada, meu pai pagava uma média de R$400,00, fora alimento e condução. Eu sabia que quase ninguém ao meu redor, na minha cidade, teria a mesma oportunidade, por isso agarrei com unhas e dentes. Cheguei a estudar de pé, no metrô”. Os desafios estavam apenas começando.
Mesmo com todo preparo, Bianca não obteve nota suficiente e o sonho de se tornar uma jornalista, parecia mais uma vez impossível. “Deixei de lado esse sonho de fazer jornalismo, sem bolsa e sem dinheiro para pagar. Fiquei tão mal, parecia ilusão, eu pobre, querer ser alguém na vida”. Decepcionada, Bianca dedicou os primeiros meses de 2016 a procurar emprego.
Foi então que, no segundo semestre, tudo mudou. “Me inscrevi novamente no ProUni, para o segundo semestre do ano, apenas por tentar. Mas, de repente, eu havia conseguido”. Hoje, Bianca está concluindo a faculdade de jornalismo, e escreveu o livro “Som de preto e favelado“, como Trabalho de Conclusão de Curso. A obra traz não só representatividade, como também é a prova de que ela venceu. “Escolhi falar sobre funk, racismo e pobreza, que são temas socialmente muito necessários. Me emociono só de pensar. Parece que foi ontem, que eu achei que tudo havia dado errado, e hoje estou aqui, com 22 anos e autora de um livro”.
*Por Ingrid Mariano e Melissa Roberta