Imaginem termos liberados no Brasil o uso de agrotóxicos (venenos) que estão proibidos em países mais desenvolvidos? Pois está é uma das flexibilizações propostas na PL 6299/2002 que está em discussão e em vias de ser definitivamente aprovada, impactando e afetando a vida da sociedade brasileira.
A PL (Projeto de Lei) além de desconsiderar os impactos na saúde de quem se alimenta destes produtos submetidos ao uso destes agrotóxicos, dos danos e contaminações ambientais (água, ar), desconsidera também a exposição dos trabalhadores do campo que ficaram em contato direto com estes venenos. A FIOCRUZ de Brasília destaca em seus relatórios que traz um mapa dos últimos 10 anos que em 107 mil casos de intoxicação cerca de 3450 pessoas morreram – inclusive o Ministério da Saúde detém também estas informações – e complementa os registros da FIOCRUZ informando o alto número de trabalhadores com sequelas graves decorrente de intoxicações, atendidos pelo SUS.
No Congresso querem deixar de fora desta discussão dos agrotóxicos o povo (nós) e as instituições de pesquisas com reconhecimento mundial pelas significativas contribuições nos estudos que relacionam doenças graves com o uso de agrotóxico nas plantações. Por exemplo, Institutos do Câncer, IBAMA, ANVISA, FIOCRUZ e Greenpeace não estão recebendo o devido respeito e peso nestas discussões, alguns deputados (os contra a PL) insistem para que estas instituições sejam ouvidas, mas, a Comissão Especial que a Analisa a PL 6299/2002 (apelidada de PL DO VENENO) recusa-se de diversas formas e impedem a participação efetiva destas instituições.
A Comissão Especial que analisa a aprovação e transformação em lei da PL 6299/2002 é composta de 50 membros e 37 deles já se declaram a favor da flexibilização e contra esta bancada poderosa e bem articulada somente a união do povo e uso das redes sociais poderão fazer frente contra este desrespeito com a nossa saúde ao planeta onde habitamos.
A raiz do problema não está na falta de informações cientificas sobre os danos socioambientais e a saúde, por exemplo, movimentos sociais apontam que está raiz esta sem dúvida na base do financiamento das campanhas eleitorais milionárias, e é neste ponto que entra também a ação dos eleitores (já que anular o voto é um perigo) – temos que prestar a atenção em quem financia o nosso candidato – e não usar o nosso voto nas urnas contra nós mesmos.
Uma série de organizações e movimentações voluntárias contra a PL 6299/2002 está ocorrendo em todo o Brasil aberto ao público em geral. Nesta sexta (13), por exemplo, uma roda de conversa foi aberta pelo Instituto Chão, o Instituto Casa da Cidade, Movimento dos Sem Terra e o Armazém do Campo, que lançou a Feira da Casa da Agricultura Familiar[1], conforme o pronunciamento do Rafael (Rafinha) do Instituto Chão “este lançamento fortalece uma diretriz interessante para o exercício de soberania alimentar e politiza o discurso e a decisão em torno do que queremos ter como alimento em nossos pratos, sendo a Agricultura Familiar um contraponto ao agronegócio que deixa um rastro cada vez maior de danos sociais e ambientais”.
E destaco também a fala do Engenheiro Agrônomo Luiz Bambini, especialista em compras públicas e ativista da segurança alimentar e nutricional “a importância de se criar canais de comercialização como este tem diversas nuances: primeiro com relação aos agricultores, que podem sair da rota dos atravessadores e receberem remuneração mais justa por sua produção. Isso se relaciona com a manutenção destas pessoas na atividade rural, garantindo assim a oferta de alimentos nas grandes cidades, lembrando que a agricultura em pequena escala é responsável por cerca de 70% de nossa alimentação diária, portanto garantir a sobrevivência dela é fundamental em um amplo contexto de segurança alimentar e nutricional. Segurança alimentar e nutricional é um conceito bem amplo que perpassa desde aspectos sanitários do alimento (segurança da saúde de quem consome), mas principalmente pela garantia de existência de alimentos para consumo. Não qualquer alimento, mas sim alimentos de qualidade, cultivados de maneira sustentável a feira tem o propósito de assegurar tudo isso, uma vez que aproxima produtores e consumidores”.
A luta pelo direito ao trabalho seguro e digno nas lavouras brasileiras, assim como, direito a uma alimentação segura e verdadeiramente nutritiva já reúnem várias pessoas. Este debate, contudo, precisa ser fortalecido numa movimentação popular, pois, o assunto impacta e afeta a vida da sociedade como um todo.
Você já havia pensado nisto?
Referências
http://www.casadacidade.org.br/categoria/noticias/
http://www.mst.org.br/2018/07/16/monsanto-vai-a-julgamento-nos-eua-por-agrotoxico-cancerigeno.html
http://www.mst.org.br/2017/08/10/armazem-do-campo-comemora-1-ano-em-sao-paulo.html
http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=46249
[1] A realização da próxima edição da Feira da Casa da Agricultura Familiar será dia 21/07/2018 a partir das 09hs até às 18 horas com oportunidade de compra de produtos orgânicos, rodas de conversa e atividade culturais. Local: Rua Rodésia, 398 próximo do metrô Vila Madalena.
Respostas de 2
Com todo o respeito à todas as entidades e organizações envolvidas na discussão sobre o uso e denominação dos agrotóxicos, e é saudável que a sociedade colabore na discussão, mas o que eu não entendo é que a decisão caiba ao Congresso Nacional, quando este assunto é eminentemente técnico e a decisão final competiria à rede nacional de pesquisa agropecuária, formada pela Embrapa e demais instituições estaduais de pesquisa. E o resto é conversa fiada ao sabor de interesses políticos e corporativos.
Atitude necessaria, ocupar os espaços academicos, a comunidade, os meios de comunicaçoes comprometidos com modelo de vida que valoriza a mae terra e as pessoas, Valeria Silvestre parabens!