Tal como reza, começo esse texto falando de origens, não das que hoje conhecemos tais como de Reis e rainhas africanos, de um povo bravo, forte, destemido, mas sim das memórias plantadas no cerne de nossa essência e reforçada incansavelmente durante séculos, as origens da escravidão, da escassez, da vida limitadas a pouco ou a quase nada, é dessa segunda que tenho medo.
Sou mulher preta, filha de duas pessoas humildes que descendiam de outros ainda mais humildes que eles, mas todos tinham algo em comum, a garra e a força de vontade em fazer com que a próxima geração não carregasse as marcas das chibatas ou do estômago vazio a cantar em aviso que nada passava por ali em um longo período de tempo.
Hoje eu sei que, além da cultura dos primórdios, preciso me orgulhar da minha história, da história dos meus pais, da história dos meus avós e assim ir seguindo, de frente para trás sempre pensando que meu papel é honrar a memória daqueles que deram sangue e suor para que hoje eu possa andar de cabeça erguida, porém consciente que também cabe a mim seguir na luta para que os meus descendentes não sofram o que sofremos até hoje, mas que se tiverem que passar por algo, o façam com a certeza de que não estão sozinhos em sua luta e tampouco em suas conquistas.
Não deixe que a história contada se sobressaia sobre a que hoje sabemos que existe.
Vamos seguir conquistando espaços, vamos seguir alçando voos cada vez mais elevados e levando conosco os irmãos que desejarem voar junto.